SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – À frente da estratégia digital das últimas duas campanhas eleitorais de Jair Bolsonaro (PL), o publicitário Sérgio Lima, 46, vê semelhanças entre o cenário de 2018 e a ascensão de Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Dominar a campanha digital e se apresentar como um candidato antissistema são relações entre os dois políticos, segundo o publicitário. Outra é que Bolsonaro de 2018 tinha segundos na propaganda eleitoral enquanto Marçal nem isso possui, já que seu partido não atingiu a cláusula de barreira.
“As pessoas assistem à televisão de costas ou desligam no horário eleitoral. A TV ajuda a gerar credibilidade para um candidato, mas isso não acontece na propaganda”, afirma Lima à reportagem.
Até a votação do primeiro turno, em 6 de outubro, Ricardo Nunes (MDB) terá acumulado quase 20 horas de exposição em cada uma das emissoras de televisão aberta e de rádio em São Paulo. Tenta nesse espaço convencer o eleitor do ex-presidente, que teve 3,2 milhões de votos (46,6%) na capital paulista em 2022.
“O 7 de Setembro e não a televisão vai definir o voto bolsonarista em São Paulo”, afirma o publicitário, que se refere ao ato organizado pelo ex-presidente na tarde do próximo sábado na avenida Paulista. Segundo ele, a presença dos candidatos e a reação do púbico a eles serão disseminados nas redes sociais entre eleitores da direita.
Em vídeo divulgado na semana passada, Bolsonaro afirmou que a manifestação é “um movimento suprapartidário” e que “qualquer candidato a prefeito da capital está autorizado a subir no carro de som também”. A mensagem foi um sinal de trégua do ex-presidente e seus aliados para o influenciador, após dias de embates nas redes sociais.
O ex-presidente anunciou apoio a Nunes, mas não se engajou na campanha e viu parte do seu eleitorado não seguir a orientação. Segundo pesquisa Datafolha, Marçal é quem tem a maior parcela de bolsonaristas entre seus eleitores.
Sérgio Lima é um aliado do ex-presidente que tem relações com o candidato do PRTB. “Não nos falamos com frequência, mas, sim, ele [Marçal] é um amigo”, afirma o publicitário.
Os dois se conheceram na campanha presidencial de 2022.
Em entrevistas à GloboNews e ao Roda Vida, o influenciador citou Lima como o responsável por fazer sua ligação com o seu partido. “Eles [da sigla] estavam procurando um candidato e eu disse que o Marçal era uma ótima opção, que estava procurando partido. Liguei para ele e avisei que havia essa oportunidade”, relata o publicitário.
O presidente da sigla, Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, afirmou em áudios aos quais a Folha teve acesso que mantém vínculo com a facção criminosa PCC. O caso foi usado por adversários, que citaram a suposta ligação em propagandas e nos debates.
O publicitário diz não ter relações com o dirigente do partido. Sua única contribuição, afirma, foi fazer a ponte da sigla com o candidato, que, segundo ele, faz uma ótima campanha digital. “Conseguem disseminar o conteúdo muito rápido, de maneira orgânica e com resultado”, avalia.
O meio, as redes sociais, e, principalmente, o formato importam. Segundo ele, o conteúdo que engaja na internet tem que ser parecido com o que é produzido pelo próprio usuário. “Dar relevância para vídeos criados por apoiadores funciona. Isso estimula os apoiadores, que surfam nessa onda e conseguem ficar famosos.”
Marçal é acusado de financiar apoiadores para que façam cortes de vídeos seus e publiquem em redes sociais. O PSB denunciou o candidato, que teve seus perfis suspensos pela Justiça Eleitoral. Ele nega que tenha remunerado seguidores e recorreu à decisão.
Lima vê a esquerda sem conseguir se adaptar à nova realidade das campanhas eleitorais. Segundo ele, essas candidaturas seguem apostando em “tudo empacotado e envelopado como oficial”.
“Eles querem produzir para eles mesmos, para o horário eleitoral. Internet é timing e formato, tem que ser conteúdo produzido pelo próprio usuário ou com aparência de que fosse feito por ele”, analisa.
Apesar de acreditar na perda de relevância da propaganda política na televisão, Lima analisa o veículo de massa como primordial para a ascensão de candidatos que se definem como antissistema. O que importa não é o horário eleitoral, mas a cobertura jornalística, debates e entrevistas.
“É nesse canhão que eles [candidatos] conseguem relevância, se projetam para o público que ainda não os conhece”, afirma
Se o atentado contra Bolsonaro em 2018 deu visibilidade para o então postulante à Presidência da República, as denúncias contra a atuação do influenciador na enchente do Rio Grande do Sul teriam projetado o autodenominado ex-coach para o publico da televisão.
Ele foi acusado de propagar fake news ao divulgar vídeos em que disse, sem provas, que o Governo do Rio Grande do Sul estava exigindo notas fiscais de doações. A notícia ganhou destaque nas emissoras da Globo, onde Marçal foi citado, o que foi usado por ele, na época, para atacar a emissora nas redes sociais.
O episódio, segundo Lima, gerou dois efeitos. O influenciador foi apresentado para um público que não o conhecia e usou aquele enfrentamento com a maior emissora do país para entrar no algoritmo das redes sociais do eleitor de direita. Assim, seus vídeos passaram a aparecer com mais frequência para perfis bolsonaristas.
“A rede social tem o mesmo princípio da eleição: a massa elege a autoridade”, afirma. “O cabo eleitoral é o algoritmo. Ele é quem ajuda a atingir mais gente”, analisa.
PAULO PASSOS / Folhapress