Documentário resgata pela oralidade história do movimento Black Rio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nos anos 1970, o Grêmio de Rocha Miranda, na zona norte do Rio de Janeiro, foi palco de uma revolução cultural que reverbera até hoje em expressões artísticas brasileiras, como o funk, o hip-hop e o Passinho carioca.

O movimento Black Rio, que reunia de 3.000 a 5.000 pessoas em bailes de soul music espalhados pela cidade, fortaleceu a autoestima, a consciência racial e o pensamento crítico de milhares de jovens negros. Tudo isso em plena ditadura militar.

O mesmo lugar, chamado pelos antigos frequentadores de “palácio do soul”, é o cenário que o antropólogo e cineasta Emílio Domingos escolhe para revisitar o fenômeno no documentário “Black Rio! Black Power!”, em cartaz nos cinemas.

O diretor, que tem se dedicado à cultura negra ao longo da carreira, com filmes como “A Batalha do Passinho”, de 2012, e “Deixa na Régua”, de 2016, continua falando sobre juventude, mas, dessa vez, a de meio século atrás.

“Black Rio” faz um resgate do movimento com depoimentos de nomes como o do documentarista Dom Filó, figura por trás da equipe de som “Soul Grand Prix”, do músico Carlos Dafé e do produtor musical Rômulo Costa, da Furacão 2000.

Ao modo do cinema de conversa de Eduardo Coutinho (1933-2014), o filme busca preencher lacunas de documentação histórica. Percebidas, inclusive, nas poucas imagens de arquivo disponíveis, à exceção de uma matéria do programa “Fantástico”, da TV Globo, e materiais de uma televisão alemã.

“É o meu primeiro filme de entrevistas. Sempre tentei fugir disso, porque valorizo as ações. Mas nesse, eu tinha que ir sentar e ouvir. Eu precisava aprender, e acho que é essa experiência que quero que o público tenha, que vivencie sensorialmente e aprenda sobre essas experiências”, afirma Domingos.

Em pouco mais de uma hora, o espectador é levado às origens do movimento, impulsionado pelas pérolas do soul que o DJ Big Boy, do “Baile da Pesada”, introduzia entre outras faixas. A partir do interesse despertado pelas músicas, bailes como o “Soul Gran Prix”, “Black Power” e “Sua Mente Numa Boa” ganharam a cidade.

A estética Black Power se consolidava. Roupas e sapatos impressionavam pela criatividade. “Você imagina, do alto daquele sapato de três andares, em que altura estava nossa autoestima”, pergunta um entrevistado. Até mesmo os cumprimentos se transformaram em uma coreografia própria.

Entre as canções de James Brown, Isaac Hayes e Aretha Franklin, os frequentadores viam slides com mensagens afirmativas, como “levante essa cabeça” ou “estude, cresça”. Fotografias deles próprios, feitas em bailes anteriores, também eram projetadas ao lado de ídolos do soul. “O orgulho negro nascia ali”, diz um antigo frequentador.

O filme ainda relembra as ações da ditadura contra o movimento negro que mirou os bailes como uma ameaça ao regime, a falsa querela com sambistas e o surgimento da Banda Black Rio, que lançou faixas autorais e conquistou visibilidade internacional.

“É inquestionável que sem a cultura dos bailes”, afirma Emílio Domingos, “não existiria Anitta, Ludmilla, nem nada disso”.

BLACK RIO! BLACK POWER!

Onde Nos Cinemas

Produção Brasil, 2023

Direção Emílio Domingos

JOÃO RABELO / Folhapress

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