Completando 45 anos de sua fundação, a Rádio Cultura de Araçatuba pode se vangloriar de ter contribuído para o desenvolvimento desta cidade e de toda a região, seja como emissora AM ou, posteriormente, como FM. Duas etapas que se coadunam – cada qual à sua hora e tempo – na difícil, porém fascinante e decisiva tarefa de transformar os destinos de uma comunidade inteira, através da comunicação, do entretenimento, da cultura popular, no exercício pleno de democratizar o debate público e encontrar soluções para seus problemas mais graves.
Caso desejássemos elencar nomes de pessoas que ajudaram a desbravar e construir a história da cidade, teríamos que, obrigatoriamente, usar todo o tempo para fazê-lo, e mesmo assim ainda ficariam muitos fora de uma imensa lista de verdadeiros araçatubenses, pessoas que adotaram a cidade como sua, lutaram para engrandecê-la, desbravaram-na com o suor de seu trabalho e, mais do que isso, a fizeram uma cidade urbanizada, viva e acolhedora.
É esta Araçatuba que festeja os 45 anos da Rádio Cultura, pioneira e com uma história recheada de acontecimentos que a transformaram em inspiração para a vinda de outras emissoras locais/regionais. São muitos homens e mulheres, profissionais de toda ordem, que fizeram e fazem parte desta história ativa, de desbravamento e empreendedorismo. Luta intensa por um patrimônio físico e maior ainda pelo crescimento urbano ordenado, mercê da abnegação de todos os envolvidos, nascidos ou não nesta terra de sol e vida. Uma luta contínua!
Minha saudosa amiga e incentivadora, Odette Costa, jornalista que escreveu uma coluna inesquecível na história de Araçatuba, a quem Jorge Napoleão Xavier (nosso grande memorialista) definiu como “arquiteta do bem querer”, colocou a serviço da comunidade “a valorização das pessoas, as qualidades natas que, às mancheias, Deus lhe deu: vocação e talento”.
No livro “Focalizando”, editado em 1993, ela reuniu suas crônicas editadas e publicadas na Tribuna da Noroeste, A Comarca e Folha da Região, após exaustivas entrevistas com seus convidados. No dizer de Célio Pinheiro (coautor de brilhante e oportuno livro sobre a história da cidade), Odette “apropriou-se de uma grande parte da história local. Seus artigos, suas notícias sociais, seus poemas, seus textos históricos, seu volumoso e invejado arquivo de elementos da história araçatubense e regional, tudo faz dela uma das maiores donas da nossa cultura”.
São nomes escolhidos a dedo, compondo um mosaico eclético, em um viés de humanização e sentimento de entrega absoluta por esta terra, hoje com mais de 200 mil habitantes, a “bola da vez” como afirmou o publicitário e escritor João da Silva Cruz. Em suas páginas, por onde escorrem aquele “araçatubismo de que nos falou o professor Adelino Moreira Marques, ele próprio um dos focalizados por Odette Costa, pode-se alinhavar um criativo período marcado pelo reconhecimento, pelos empreendimentos, pela filantropia, contribuição às artes, às letras, às ciências, à educação e pelo exemplo que deram às novas gerações…” como destacado no prefácio assinado por Napoleão.
Em todos esses 45 anos, a Rádio Cultura de Araçatuba, antes nas mãos de Mauri Pavanello Campos e Gladys Fares, e agora reintegrada ao convívio local por iniciativa do empresário da educação e da comunicação, Chaim Zaher, vem cumprindo um papel fundamental, o de ser arauto de seu cotidiano, debatendo, buscando as soluções, criticando ou apoiando iniciativas positivas que venham ao encontro dos interesses da cidade e da região Noroeste.
Além do mais, criando uma grade de programação destinada ao entretenimento e ao incentivo cultural em todas as suas formas, 24 horas por dia. O Rádio, como um veículo popular, deve servir como agente transformador do ambiente onde está inserido, abrir seus microfones aos que se preocupam com seu crescimento urbano e social, longe do mercantilismo oportunista que, quase sempre, segrega os mais vulneráveis e até os incapacitam ao protagonismo na cidade que escolheram para viverem suas vidas, sendo nascidos ou não nesta terra de calor e
hospitalidades.
Melhor que ninguém, Odette Costa, inclui em seu livro, nomes como os de Eponina Rocha, Nair Madeu Falco, Maria Cristina Maia, Setembrina Quintiliano, Elísio Gomes de Carvalho, Germínia Dolce Venturolli, Joaquim Dibo, Isaura Marchetti, Agnaldo Ferraz, Eddio Castanheira, Áurea Pires do Rio Penteado, Plácido Rocha, Nicolau Fares, Rintaro Takahashi, Rolandinho e Flávio Miragaia Perri, Nancy Simão da Mata e Izabel Piza de Almeida Prado.
Arlindo Raposo de Melo, José Dionísio, Aristides Troncoso Peres, Sarah Barbosa e José Raab (autores do Hino a Araçatuba e do Instituto Manuel Bento da Cruz), Monsenhor Victor Ribeiro Mazzei, Antônio Colaferro, João Francisco de Arruda Soares, Marilene Magri Marques, Silvério Antônio Cazerta, Juquinha e Sebastião Ferreira Maia.
Comandante Rolim Amaro, Edélcio Ferreira de Araújo, Orestes Spironelli, Mizue Sawada Otsuka, Edwiges Barnardes, Cecy Picoloto, Cidinha Baracat, Osni Branco, Shoji Kato, Arnaldo dos Santos Vieira, Henrique de Carvalho, Oswaldo Cintra, Lycio Avezum, Oscar Marques de Oliveira, Carlos de Castro Neves, Rezek Nametala Rezek, Florivaldo Prates e Railda Benez, Maria Luiz Paiva Afonso e tantos outros privilegiados que passaram pelo crivo da competente jornalista.
Uma ocasião, eu e o Napo fomos convidados por ela, sem motivo aparente, para jantarmos em um restaurante da cidade. No meio da conversa, Odette encarregou-nos (acreditando, talvez, que viveríamos muito mais tempo) o de sermos depositáriosfiéis de seu trabalho em vida, missão que aceitamos de pronto e sempre procuramos cumprir, cada qual à sua maneira.
O microfone sempre foi uma ferramenta fácil de se lidar, por isso a jornalista tinha imensa admiração pelo trabalho da Rádio Cultura e fazia questão de se encarregar e transmitir (na maioria das vezes, improvisando) os cerimoniais de desfiles em aniversários da cidade, bailes inesquecíveis no Araçatuba Clube, carnaval, recepção a ministros e governadores, enfim, onde seu talento, cultura geral e sua criatividade pudessem agregar mais valor ao trabalho do Rádio.
Só temos que agradecer ao trabalho das pessoas mencionadas (e a outras tantas que pudermos citar oportunamente) a enorme contribuição ao desenvolvimento de Araçatuba, pelo trabalho e pelo amor demonstrados, verdadeiros guardiães dessa cidade que já foi chamada Sentinela do Progresso Paulista. A hospitaleira e velha senhora, como a denominava carinhosamente meu grande parceiro e amigo.
Hélio Negri é professor, radialista, jornalista, bacharel em Letras e Direito, ex-diretor regional da UNIP em Araçatuba. Integra a equipe de profissionais da Cultura FM e da NOVA BRASIL FM.