Jogos de Paris terminam em clima de balada e com mais Gabrielzinho

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Uma “mini-rave” coroou neste domingo (8) um mês e meio de festa em Paris. A música eletrônica foi a trilha sonora da cerimônia de encerramento dos Jogos Paralímpicos.

Jean-Michel Jarre, o pai da música eletrônica na França, e outros 23 artistas do país-sede se sucederam nos mixers, fazendo o público dançar no Stade de France lotado.

Na passarela no centro do gramado, que serviu como palco principal, também houve tempo para momentos de street dance, lembrando o breaking que estreou na place de La Concorde.

O criador da festa, o diretor teatral Thomas Jolly, correu menos riscos que na abertura olímpica. Nada de rainhas decapitadas ou referências religiosas provocadoras. Tampouco Tom Cruise descendo de rapel.

Ironicamente, o evento terminou como havia começado: debaixo de chuva. Mas, no ambiente controlado de um estádio, o mau tempo não teve o mesmo impacto negativo da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, realizada em um gigantesco percurso ao longo do rio Sena no dia 26 de julho.

Ao som do tema composto em 1981 pelo grego Vangelis para o filme “Carruagens de Fogo”, ambientado nos Jogos Olímpicos de cem anos atrás em Paris, as bandeiras das 169 delegações adentraram o palco montado no gramado.

Os porta-bandeiras do Brasil foram Carol Santiago, da natação, e Fernando Rufino, da canoagem. Carol conquistou cinco medalhas, incluindo três ouros, e se tornou a mulher do país com mais ouros paralímpicos (seis).

A pernambucana nasceu com síndrome de Morning Glory, uma condição congênita na retina que limita seu campo de visão. Ela praticou natação convencional até 2018, quando passou a competir no esporte paralímpico.

Já Rufino ganhou a 25ª e última medalha do Brasil, nos 200 m, categoria VL2 (usa tronco e braços na remada). O sul-mato-grossense perdeu parcialmente o movimento das pernas após ser atropelado por um ônibus.

A banda da Guarda Republicana executou versões “marciais” de clássicos da música pop, como “I Will Survive”, sucesso de Gloria Gaynor nos anos 1970 que se tornou hino LGBT.

No discurso do presidente do comitê-organizador de Paris-2024, Tony Estanguet, o dirigente saudou o público francês. “Vocês inventaram até a ‘ola’ silenciosa”, brincou Estanguet, referindo-se à torcida do futebol de cegos, na Arena Torre Eiffel, que vibrava sem fazer barulho para que os jogadores pudessem ouvir o guizo dentro da bola.

Estanguet citou o nadador brasileiro Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, ganhador de três medalhas de ouro, como uma das estrelas do evento, provocando uma ovação dos espectadores. O mineiro apareceu ao menos três vezes no telão, quando eram mostrados alguns dos melhores momentos da competição paralímpica.

O dirigente aproveitou também para lembrar do pênalti final do futebol de cegos, quando a França superou a Argentina, levando o público novamente ao delírio no Stade de France.

Os Jogos de Paris foram um sucesso de público. Com um total de 12 milhões de ingressos vendidos, Olimpíadas (9,5 milhões) e Paralimpíadas (2,5 milhões) quebraram o recorde anterior, 10,9 milhões, de Londres-2012 (8,2 milhões e 2,7 milhões, respectivamente).

O brasileiro Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, comemorou os “12 dias alegres e inesquecíveis”, mas lembrou que no mundo há 1,3 bilhão de pessoas com deficiência.

“Temos a responsabilidade coletiva de usar o momento dos Jogos Paralímpicos para fazer o mundo à nossa volta mais inclusivo”, continuou.

“Para um país famoso pela comida e pela moda, a França é agora famosa pelos seus torcedores”, disse, para alegria do público. Por fim, Parsons declarou “com tristeza, que os Jogos de Paris estavam encerrados”, convocando os atletas para um novo encontro em Los Angeles, em quatro anos.

Depois dos discursos, Estanguet, Parsons e a prefeita Anne Hidalgo passaram a bandeira paralímpica para a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, semelhante ao que já havia acontecido no encerramento olímpico. Mas Tom Cruise não surgiu para levar o símbolo para Los Angeles.

No momento da execução do hino norte-americano, o estádio piscou em azul e vermelho, graças aos braceletes entregues ao público na entrada.

Não teve Snoop Dogg ou Red Hot Chili Peppers cantando em uma praia californiana. No lugar, um belo clipe com atletas paralímpicos americanos ao som de “California Dreamin'”, sucesso do grupo The Mamas & The Papas. Mas, sim, teve imagem da praia.

Neste momento, o show saiu do Stade de France e foi acompanhado, pelo telão, no Jardim das Tulherias, lugar em que repousava a chama paralímpica. Por lá, o casal de cantores do Mali Amadou e Mariam cantaram “Je Suis Venu te Dire que Je M’en Vais”, clássico de Serge Gainsbourg.

De volta ao Stade de France, vários atletas da delegação francesa se revezaram segurando uma lanterna com a chama, até que Aurélie Aubert deu o sopro final.

Depois do clima de emoção, Jean-Michel Jarre voltou a comandar as pick-ups e transformou o Stade de France em uma grande casa noturna, com muita música eletrônica, executada também por DJs convidados, e show de luzes por batida, para delírio do público, desta vez, poupado da chuva.

SANDRO MACEDO E ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress

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