SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os EUA e a UE (União Europeia) acusaram o Irã de fornecer o primeiro carregamento de mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia empregar na Guerra da Ucrânia, como parte da parceria firmada entre os dois países.
“Estamos cientes da informação crível fornecida pelos nossos aliados”, disse o porta-voz do bloco europeu Peter Stano nesta segunda (9), em Bruxelas. “Estamos investigando com nossos parceiros e, se confirmada, a entrega representa uma substantiva escalada material no apoio do Irã à guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia.”
O alerta americano à UE foi revelado na sexta (6) pelo Wall Street Journal, citando fontes do Pentágono. Nesta segunda, a chancelaria do Irã negou a informação, mas acabou ficando na mão com a posição ambígua do Kremlin.
“O Irã é um parceiro importante, e nós estamos desenvolvendo cooperação e diálogo em todas as áreas possíveis, inclusive as mais sensíveis”, afirmou o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitir Peskov.
Depois, ele tergiversou: “Nós vimos esse relato [do WSJ], não é sempre que este tipo de informação é verdadeiro”. Para bom entendedor, a falta de negativa clara foi eloquente.
Relatos de que os iranianos poderiam fornecer esse tipo de arma para os russos são abundantes, mas até aqui vinham sendo negados com veemência.
O tipo de armas também importa. Segundo rumores que circulam entre blogueiros militares russos e ucranianos, Teerã pode ter entregado modelos Fath-360, com alcance de cerca de 120 km. Isso liberaria Moscou para empregar seus balísticos Iskander-M, de difícil interceptação, para alvos mais distantes, até a 500 km.
Mas outras informações, citadas pela agência Reuters e ratificadas por um analista militar russo à Folha, falam no envio de modelos Fateh-110, com 300 km de alcance, e talvez o poderoso Zolfaghar, que excede em capacidade o Iskander-M, podendo destruir objetivos a 700 km.
Seja como for, a entrega avaliada pelos EUA é na casa das centenas de mísseis, o que traz uma novidade ao teatro da guerra. Os russos têm capacidade de sobra para a produção desse tipo de arma, mas o incremento na intensidade da guerra faz uma ajuda iraniana chegar em boa hora.
Os russos, após terem sido surpreendidos pela invasão de Kursk, aceleraram a ofensiva no leste da Ucrânia, e estão perto de cercar seu objetivo mais vistoso, a cidade de Pokrovsk. Nesta segunda, tomaram mais um vilarejo próximo de lá, que é um centro logístico vital para as tropas de Volodimir Zelenski.
Nas duas últimas semanas, Putin também elevou a violência de seus ataques aéreos. Nesta madrugada, o volume foi menor: 8 drones, 6 dos quais interceptados, e 3 mísseis, 2 deles segundo Kiev abatidos, foram lançados contra a Ucrânia.
A frequência diária gerou outro tipo de atrito com a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA. No fim de semana, pela primeira vez um drone russo violou o espaço aéreo da Letônia a caminho da Ucrânia, caindo no país báltico.
Segundo as Forças Armadas locais, ele estava equipado com explosivos. Na Romênia, onde já houve incidentes semelhantes antes, as autoridades localizaram destroços de drones que haviam sido abatidos pelos ucranianos.
A entrada do Irã com mais força no xadrez do conflito europeu eleva a internacionalização do conflito, onde Kiev é apoiada pelo menos por 42 outras nações. A teocracia já havia fornecido os famosos drones suicidas Shahed-136, que agora são produzidos na Rússia.
Os russos já empregaram alguns modelos balísticos norte-coreanos, além de munição para artilharia obtida nos vastos de Kim Jong-un, que assinou um pacto de defesa mútua com Putin neste ano.
Já Teerã firmou no ano passado um acordo militar com Moscou que prevê a compra de caças avançados Su-35, os primeiros modelos modernos que o país irá operar em décadas.
Em comum, os dois aliados são virulentos rivais dos EUA e do Ocidente, com Putin apoiando a posição de Kim na península coreana e o Irã e seus prepostos na aguda crise do Oriente Médio, onde Washington banca Israel.
IGOR GIELOW / Folhapress