SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) se encontrou com o ministro da Justiça e Segurança de El Salvador, Gustavo Villatoro, sem o presidente Nayib Bukele, ao viajar ao país na última quinta-feira (5). Ele também foi gravado em frente ao conhecido presídio “antiterrorismo” construído pela gestão.
Naquele dia, o influenciador disse à coluna da Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que estava embarcando para “encontrar um presidente”. Dois dias depois, no sábado (7), desembarcou em Guarulhos e se dirigiu ao ato bolsonarista na avenida Paulista, pelo 7 de Setembro.
O encontro do autodenominado ex-coach com o ministro salvadorenho aparece em um vídeo postado por Edson Melo, tenente-coronel da Polícia Militar de Goiás, que acompanhou Marçal na viagem e no helicóptero que o levou ao protesto.
Na gravação, Marçal aparece comendo em um restaurante ao lado do ministro salvadorenho. Na mesa, também estão outros seis homens, entre eles Filipe Sabará, coordenador de seu programa de governo, e Felipe Bayan, produtor de vídeos e investidor de bitcoins.
Também integraram a comitiva Tassio Renam, CEO da Marçal Corp, o influenciador digital Diego Neves, o empresário Leonardo Maiante Gianastacio e o candidato a vereador Leandro Cruz (PRTB), que postaram fotos surfando, tomando banho de piscina em frente ao mar e usando a academia do hotel Real Intercontinental San Salvador, onde ficaram hospedados.
Uma das fotos mostra Marçal em frente à fachada do Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), megaprisão para abrigar parte da população presa do país, que tem a maior taxa de encarceramento do mundo. Não está claro se ele entrou no local.
O presídio, onde cabem 40 mil detentos, tornou-se uma espécie de monumento à guerra de Bukele contra o crime e visita obrigatória de influenciadores e políticos que passam pelo país. Em filmagens de divulgação dos tours pela prisão de segurança máxima, são comuns cenas que mostram os encarcerados, em grande parte detidos durante o estado de exceção, atrás das grades das celas.
Marçal disse que em outro vídeo publicado neste domingo (8) que gravou um documentário em El Salvador, que está sendo editado. “[Queria] dar os parabéns para o Bukele, para o ministro da Justiça, o Gustavo [Villatoro], que abriu El Salvador para nós e tratou a gente igual chefe de Estado lá”, disse ele.
A reportagem pediu informações sobre o encontro ao governo de Bukele, mas a gestão respondeu que não poderia checar a informação porque o país passa por uma crise -a cúpula da Polícia Nacional do país centro-americano morreu nesta segunda (9), enquanto transportava de helicóptero um fugitivo da Justiça.
A reportagem também perguntou a Sabará se houve encontro do candidato com o presidente, mas ele não respondeu.
Em julho, o ministro salvadorenho Gustavo Villatoro compareceu à conferência conservadora Cpac Balneário Camboriú (SC) e foi tratado como celebridade pela plateia bolsonarista. Na ocasião, ele disse que o país conseguiu reduzir os índices de criminalidade por ter mandado as principais instituições judiciárias do país “al carajo”.
No evento, Sabará também tirou uma foto ao lado do presidente argentino Javier Milei, outro ícone da ultradireita.
Não é a primeira vez que um líder da direita brasileira tenta pegar emprestada um pouco da popularidade da qual o presidente salvadorenho goza.
Em dezembro do ano passado, Eduardo Bolsonaro (PL), que fez críticas recentes a Marçal na tentativa de defender o prefeito Ricardo Nunes (MDB) na corrida pela prefeitura, também foi ao país liderando uma comitiva de cinco parlamentares em uma viagem que custou R$ 96 mil aos cofres públicos.
No requerimento da viagem à Comissão de Segurança Pública, o deputado cometeu uma gafe ao citar áudios revelados pelo jornal El Faro em 2022, que levantaram suspeitas de ligação do governo com grupos criminosos.
Sem perceber que o suposto acordo é do próprio governo Bukele, ele disse: “Há evidências de que a onda de violência naquele país explodiu devido ao fim de um pacto do governo anterior com criminosos. O jornal El Faro revelou áudios que mostravam negociações entre um membro do governo e a MS-13, uma das três principais pandillas do país”, escreveu o deputado. “Qualquer semelhança com o que vivemos no país não é mera coincidência.”
DANIELA ARCANJO, JÚLIA BARBON E MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress