Famílias acham que filhos com menos de 14 anos não devem ter celular, nem acessar rede social

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A maioria dos brasileiros com filhos de até 17 anos dizem acreditar que crianças de menos de 14 anos não deveriam ter celular ou tablet próprio (58% do total), acessar aplicativos de mensagens como o WhatsApp (também 58%) e jogar videogame (61%).

Os dados são de pesquisa do Datafolha elaborada para o Instituto Alana. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais, com 95% de nível de confiança.

No caso das redes sociais, as preocupações dos pais são ainda maiores: 76% acham que menores de 14 anos não deveriam acessar redes como Instagram, TikTok, Kwai e Discord, e também 76% acham que adolescentes abaixo dessa faixa etária não deveriam assistir vídeos no YouTube, Netflix e Amazon Prime sem supervisão dos responsáveis.

Apesar dos receios das famílias, crianças muito mais jovens têm usado internet para essas finalidades. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil (de 2023), entre as crianças de 9 e 10 anos, 71% usam YouTube, 51% utilizam WhatsApp, 50% Tik Tok, 26% Instagram.

Entre as crianças de 11 e 12 anos, os números são ainda maiores: 90% usam YouTube, 70%, WhatsApp, 55% TikTok e 52%, Instagram. A pesquisa foi realizada pelo Comitê Gestor da Internet, com apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Para Isabella Henriques, diretora-executiva do Instituto Alana, as famílias, sozinhas, não conseguem disciplinar o uso da internet pelas crianças. “A responsabilidade é múltipla e as empresas já poderiam estar fazendo muito mais, mesmo sem regulação”, diz. “Não se trata de proteger as crianças da internet, mas protegê-las na internet, para que elas possam usufruir da tecnologia de maneira segura.”

Plataformas como TikTok e Instagram têm regras que proíbem a criação de perfis por crianças abaixo de 13 anos. Procurada, a Meta (dona do Instagram e do Facebook) disse ter lançado mais de 30 ferramentas e recursos “para apoiar os adolescentes e seus responsáveis” e ter passado “mais de uma década desenvolvendo políticas e tecnologias para endereçar conteúdos e comportamentos que violem as suas regras”.

Entre as ações estão a implementação de um controle parental que permite uma série de medidas: a criação de limites de tempo nas plataformas; ver quem os filhos seguem e por quem são seguidos; estabelecer que as contas de menores de 16 anos são privadas como padrão; além de não permitir que recebam mensagens de adultos desconhecidos.

Já o TikTok afirmou ter tomado “atitudes para fazer do TikTok um lugar confiável e acolhedor para famílias e adolescentes”. Entre as medidas estão a sincronização familiar, que permite aos responsáveis restringir quem pode comentar nos vídeos e mandar mensagens aos adolescentes, além de estabelecer limites diários de tela. As contas de usuários de 13 a 15 anos são definidas como privadas por padrão e eles não têm permissão de enviar ou receber mensagens diretas.

A pesquisa do Datafolha ouviu 2.009 pessoas maiores de 16 anos com e sem filhos entre os dias 8 e 12 de julho de 2024 em todo o país.

Entre os entrevistados com filhos até 17 anos, 58% afirmaram saber como colocar senhas para proibir o acesso a possíveis conteúdos impróprios (taxa que é de 57% no total da amostra). Já 44% daqueles com filhos sabem como limitar o tempo de uso de dispositivos automaticamente (40% da amostra geral); 43% (38% do geral) sabem controlar os acessos a conteúdos adequados à idade usando o controle parental, e 38% sabem como controlar com quem o filho deve falar ou não na internet (36% na amostra geral).

Para 87% dos pais, as empresas não fazem o suficiente atualmente para proteger as crianças na internet. Na opinião de 53% dos entrevistados com filhos até 17 anos (e 47% na amostra geral), as plataformas deveriam solicitar a comprovação de identidade dos usuários, para 39% (40% no geral), deveriam melhorar o atendimento e apoio ao consumidor para denúncias.

Entre os pais, 42% defendem que as plataformas proíbam publicidade e venda de produtos para crianças (40% no geral) e 32% (27% da amostra geral) gostariam que as empresas acabassem com a reprodução automática e rolagem infinita de vídeos.

“Muitas vezes, as ferramentas para o controle parental ou o processo de denúncias são muito complicadas e implicam consumo de dados dos pacotes oferecidos pelas operadoras, o que desestimula o uso”, diz Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo do Instituto Alana.

A pesquisa mostra também que três quartos da população (75%) dizem acreditar que crianças e adolescentes passam tempo demais nas redes sociais e 93% acham que esses jovens estão ficando viciados em internet.

No caso das pessoas com filhos até 17 anos, a preocupação é ainda maior –96% acham que as crianças e adolescentes estão viciados em redes sociais e 95% (92% entre a população em geral) consideram muito difícil esses jovens se defenderem sozinhos de violência e de conteúdos inadequados para sua idade na internet.

PATRÍCIA CAMPOS MELLO / Folhapress

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