Balneário Camboriú, reduto bolsonarista, tem eleição com racha no PL e PT tentando sobreviver

BALNEÁRIO CAMBORIÚ, SC (FOLHAPRESS) – Caía a tarde de quarta-feira (28) quando militantes e candidatos do PT em Balneário Camboriú (SC) se enfileiravam no encontro da 3ª Avenida com a avenida do Estado para agitar suas bandeiras vermelhas. Vez ou outra, alguém de carro hostilizava o grupo. Também teve buzinada discreta, aparentemente simpática à campanha.

Balneário Camboriú é uma das cidades brasileiras mais associadas ao bolsonarismo e à pauta antipetista. Em 2022, quase 75% do eleitorado da cidade votou em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições contra Lula (PT).

A “Dubai brasileira”, apelido que Balneário Camboriú ganhou por causa dos altíssimos prédios de luxo em frente à praia, também foi sede em julho da CPAC (sigla em inglês para Conferência de Ação Política Conservadora), organizada no Brasil por um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A estrela do evento foi Javier Milei, presidente argentino sem boas relações com Lula.

“A vitória do Milei inflamou a classe política de Balneário Camboriú, pela proximidade que a cidade tem com a Argentina”, diz o único vereador do PT no município, Eduardo Zanatta, ao lembrar ter recebido alertas de aliados para “evitar as ruas” durante a CPAC.

Mas Zanatta diz que se sente à vontade na cidade e que “uma ala raivosa” de opositores costuma se manifestar em suas redes sociais.

Também é por lá que ele e Jair Renan já trocaram alfinetadas, num antagonismo que agita o eleitorado de ambos. O “filho 04” do ex-presidente, de 26 anos, está estreando nas urnas em Balneário Camboriú, onde é candidato a vereador pelo PL.

Militante da esquerda “desde sempre”, Zanatta conta que só começou a pensar em concorrer em eleições a partir de 2018, num cenário de “terra arrasada para o PT”.

“Depois da eleição do Bolsonaro, o PT estava destruído, e um grupo de pessoas insistiu [para eu disputar as eleições]”, afirma ele, que optou pelo PDT em 2020 para ter mais chance de vitória, mas voltou ao partido dois anos depois e hoje concorre à reeleição.

“O pessoal brinca que o meu mandato é regional, pois sou o único vereador do PT no litoral norte de Santa Catarina inteiro”, disse ele, que também integra o Internacional Progressista, “que faz o enfrentamento à CPAC”, resume.

Num processo de reestruturação, o PT voltou para a disputa majoritária na cidade, após um hiato de 16 anos. A coligação “BC da Esperança” é encabeçada pela professora Marisa Zanoni, quadro histórico do PT local.

Presidente do PT na cidade, Mozart Serpa de Toledo, “petista desde 82”, diz que a sigla nunca teve uma nominata tão grande para o Legislativo local. A lista inclui estreantes como Ehiron Pereira, conhecido como Dente MC, de 26 anos e presidente da Associação de Hip Hop, e veteranos como Aristo Pereira, vice-prefeito do município em 1988.

“Desde a fundação do PT existe rejeição. Mas o Lula chegou a fazer 64% dos votos em Santa Catarina [no segundo turno da eleição de 2002]. A criação deste ódio ao PT na região aflorou a partir de 2014, e depois com o Bolsonaro, quando virou extrema direita”, afirma Serpa.

Duas quadras em direção à praia, duas candidatas do partido Novo também distribuíam panfletos em uma das ruas tomadas pelas sombras dos altos prédios.

Em campanha à Câmara Municipal, elas dizem que há duas cidades diferentes dentro da “Dubai brasileira”. “Nós que somos moradores temos que ter a mesma qualidade de vida que os turistas”, diz a aposentada Jane Pinto.

As duas também não gostam da ideia de concorrer com “um cara de fora, que caiu de paraquedas, e não conhece Balneário Camboriú”.

Elas se referem a Jair Renan. “Ele se aproveita da fama do pai. Por que não votar em gente daqui e em mulheres? Hoje são 19 vereadores e só tem uma mulher”, afirma a aposentada Vera Notari.

Juliana Pavan se licenciou do Legislativo e disputa a prefeitura pelo PSD. Outros dois vereadores tentam a corrida ao Executivo: Lucas Gotardo, pelo Novo, e André Meirinho, do PP. Outro candidato à prefeitura é Claudir Maciel (PSB).

Já o candidato do PL ao Executivo é Peeter Grando, que disputa uma eleição pela primeira vez. Foi indicado pelo atual prefeito, Fabrício Oliveira (PL), o que gerou um racha no partido.

“O candidato do PL não me representa. Não conheço o currículo dele e acho que ninguém na cidade conhece”, critica o deputado estadual Carlos Humberto (PL).

Líder do governo Jorginho Mello (PL) na Assembleia Legislativa, Carlos Humberto diz que montou o PL em Balneário Camboriú e que foi impedido de se candidatar pela sigla à prefeitura por decisão do atual prefeito, que também é presidente do PL local. “Existem pessoas que não são da direita ocupando espaço da direita.”

Já Fabrício defende a escolha de Peeter, que teria respaldo da cúpula do PL, e garante que Humberto fez um acordo em 2022 no qual concluiria seu mandato parlamentar, garantindo representatividade estadual para o município.

O prefeito também defendeu Jair Renan, que não quis dar entrevista à reportagem durante o ato de lançamento da sua campanha no auditório de um hotel em frente à Praia Central.

“Jair Renan tem vínculo com a cidade, somente não nasceu aqui. Como eu não nasci aqui e Peeter também não. Ele representa uma ideia, uma posição”, diz Fabrício.

Durante discurso a apoiadores, reforçou: “Jair Renan é uma voz não só da direita, mas uma voz da nossa nação aqui no nosso Legislativo”. Na mesma fala, ele afirmou que Balneário Camboriú é “o pedaço do Brasil que tem dado certo e jamais será governado pela esquerda”.

No ano passado, Jair Renan ganhou um cargo no escritório do senador Jorge Seif (PL-SC) no município. Hoje candidato, pouco afeito a discursos, reconheceu nervosismo durante sua fala de menos de um minuto no auditório. Agradeceu aos apoiadores e a presença do irmão Eduardo Bolsonaro.

Para as urnas, o filho 04 escolheu o nome “Jair Bolsonaro” —seu nome completo é Jair Renan Valle Bolsonaro. O ex-presidente não participou do ato de lançamento, mas sua imagem reproduzida em um totem chamava atenção na entrada do auditório.

A professora aposentada Anita de Lima, 75, que chegou junto com um pequeno grupo de mulheres, tirou foto ao lado do totem. “A gente é da tropa de elite da campanha”, diz ela, ao explicar que tem distribuído panfletos para ajudar Peeter e Jair Renan.

“O forte mesmo é o pai dele, né? A gente está esperando que em 2026 ele volte. Porque Santa Catarina e o Sul é inteirinho do Bolsonaro”, diz.

CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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