Fumaça de incêndios ofusca discurso sustentável de ministros da Agricultura do G20

CUIABÁ, MT E CHAPADA DOS GUIMARÃES, MT (FOLHAPRESS) – Era para ser um cartão-postal: os ministros da Agricultura das principais economias do mundo discutindo os próximos caminhos para um agronegócio ambientalmente responsável ao lado do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.

Mas a fumaça ofuscou a abertura do evento do G20 no Brasil, que inicialmente seria em Cuiabá, mas foi transferido para o resort de luxo ligado ao ex-senador e ex-ministro Blairo Maggi.

Na primeira semana de setembro, 35 focos de calor foram registrados na região. Os incêndios começaram fora da unidade de conservação e se espalharam, devido à estiagem, calor e vegetação seca.

Já no caminho entre a capital e o local do evento, o cheiro de fumaça confunde os sentidos, a paisagem é seca e não há sinais de animais, o céu ganha um tom esverdeado.

“Muitas vezes, o fogo de vem de propriedades no entorno do parque e acaba atingindo os limites. É um grande problema para quem opera com passeios”, conta o agente turístico Felipe Campos, 30, há sete anos trabalhando no setor.

Os incêndios na Chapada dos Guimarães levaram o ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) a fechar atrações do Parque Nacional, incluindo cachoeiras e mirantes.

Pontos de visitação, como o morro de São Gerônimo, o Circuito de Cachoeiras e o mais conhecido, o Véu de Noiva, foram fechados.

Os turistas que tinham agendado passeios até o parque foram transferidos para outros locais próximos, como Nobres (a 120 km de Cuiabá).

O turista fica apreensivo, com medo de ir na trilha e ser engolido pelo fogo, conta Campos. Na última segunda-feira (9), ao levar um grupo de visitantes, ele flagrou trechos da chapada em chamas.

“Sim, prejudica os negócios, mas conseguimos dar um jeito. Quem perde mesmo com tudo isso é a natureza”, lamenta.

“A fumaça é mais pesada pela manhã, em tempos normais dá para ver o contorno da chapada de partes da cidade”, diz o motorista Júlio Santos, 45, morador da capital.

O cheiro de queimado, que pode ser sentida com mais intensidade nas primeiras horas do dia, agora encurtou o horizonte cuiabano e dificulta a respiração.

Santos não consegui visitar a propriedade rural um amigo na região. A fumaça na estrada não permitia a viagem em segurança.

“Em setembro, já era para ter vindo a chuva, mas ainda não teve. Esperamos que ela, ao menos, chegue em outubro e que fique mais intensa em novembro. Tomara.”

Conforme mostrou reportagem da Folha de S.Paulo, o local do evento, o complexo Malai Manso em Chapada dos Guimarães tem entre seus sócios André Souza Maggi, filho de Blairo -que também foi governador de Mato Grosso (2003-2010).

Como ministro da área, Fávaro deu a palavra final sobre o local do encontro. Aliado de Maggi, ele recebeu apoio do empresário na sua campanha para o Senado em 2020.

“Estamos vivendo uma seca severa e o Rio Grande do Sul teve uma enchente. Cabe a nós apresentarmos propostas e compromissos de um mundo mais eficiente e equilibrado. Sustentabilidade e agricultura são possíveis, não cabe apontar culpados”, disse o ministro, na abertura dos trabalhos desta quinta-feira.

Segundo ele, é uma determinação do presidente Lula (PT) que o Brasil não irá seguir “o modelo que nos trouxe até aqui”. “Não precisamos mais avançar sobre florestas e cerrados para intensificar a produção de alimentos.”

Na terça-feira (10), a Polícia Civil do estado divulgou que 17 pessoas foram detidas em flagrante, durante investigações para apurar incêndios criminosos em Mato Grosso, entre janeiro e 9 de setembro. Foram instaurados 14 procedimentos para investigar queimadas.

Em sua fala no G20, o governador Mauro Mendes (União Brasil) ressaltou a preocupação por parte do estado com a preservação ambiental.

“Estamos há quase cinco meses sem chuvas, é apenas um exemplo de tantos outros registros ao redor do mundo que demonstram que as mudanças climáticas são uma realidade”, disse.

DOUGLAS GAVRAS / Folhapress

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