DIIV, nome quente do rock alternativo, traz turnê do disco novo para o Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diz a lenda que um sapo, se colocado numa panela com água fria que esquente gradualmente até ferver, vai se ajustando à temperatura do líquido e, sem perceber, acaba morrendo com a ebulição. Mas se o anfíbio for jogado num recipiente com a água já nos 100ºC, ele vai pular fora na hora.

A parábola inspira o título do novo disco da banda americana DIIV, “Frog in Boiling Water”, ou sapo na água fervente. Lançado em maio, as paredes de guitarra e o clima etéreo da sonoridade do álbum conquistaram os fãs de rock alternativo, que já consideram pôr o disco nas suas listas de melhores do ano.

Nesta semana, o quarteto do Brooklyn, em Nova York, chega ao Brasil para três shows —um no festival Se Rasgum, em Belém, no sábado (14), e outros dois em São Paulo, domingo (15), no Cine Joia, e segunda (16), no Bar Alto.

Com mais de dez anos de estrada e quatro discos lançados, a banda passa por uma fase de grande reconhecimento, não só porque suas músicas são cativantes e feitas com esmero, mas também por ser apontada como um dos nomes mais quentes no renascimento do “shoegaze”.

Surgido no Reino Unido no final dos anos 1980, o gênero musical se distingue pelas guitarras distorcidas e vocais angelicais. Nunca um estouro de público, o estilo viveu um bom momento até meados da década seguinte nas mãos de bandas como My Bloody Valentine, Ride e Slowdive. Contudo, virou pó a partir do estouro do britpop de Oasis e Blur, e passou a ser seguida por um nicho muito pequeno de grupos e ouvintes.

A partir de 2013, com o retorno de bandas originais do estilo, que gravaram discos novos, o ‘shoegaze’ voltou a acontecer. A explosão do gênero, mesmo, veio depois da pandemia, quando este tipo de som foi retomado por uma nova geração de grupos que ficaram populares graças ao alcance global de suas músicas em vídeos no TikTok.

Zachary Cold-Smith, o vocalista do DIIV, tem uma posição ambígua sobre classificar o grupo nesta sonoridade. “Adoramos ‘shoegaze’ mas pode ser muito redutivo limitar bandas a um gênero —é raro que bandas queiram ser reduzidas a um gênero de uma palavra”, ele diz, em conversa por vídeo.

“Mas também é uma linha fina porque no momento há uma ressurgência do ‘shoegaze’ da qual queremos nos sentir parte, e acho que somos. Ser incluído nessa conversa é legal.”

Cold-Smith acrescenta que o DIIV se inspira em como as bandas de shoegaze “transmitem emoções poderosas, experiências catárticas e paisagens sonoras muito detalhadas” em suas músicas. Prova disso é o tanto de nuances das dez faixas de “Frog in Boiling Water”, com texturas melhor apreciadas nos fones de ouvido.

Apesar da influência ‘shoegaze’, o baterista Ben Newman conta que, no álbum recém-lançado, a banda não se deteve em buscar referências musicais externas, e sim em traduzir sonoramente a situação do mundo no atual estágio do capitalismo —que, na metáfora do título do disco, se assemelha à uma panela de água fervente.

Newman critica a financeirazação excessiva dos mercados e as empresas que compram firmas menores e demitem os funcionários sem se importar com eles, com a ideia de extrair o máximo de dinheiro possível do negócio. Para o guitarrista Andrew Bailey, vivemos numa era em que “bilionários merecem mais dinheiro que países”.

Bailey diz que o livre comércio e a desregulamentação dos mercados levaram à uma disparidade absurda de riqueza em relação há 30 ou mesmo há cinco anos. “Se você voltasse no tempo e mostrasse isso às pessoas, elas pensariam ‘que diabos?’ Mas normalizamos isso porque somos o sapo na água”, afirma.

A carga de desalento não transparece numa audição despretensiosa do disco, que soa melancólico e esperançoso a um só tempo. Segundo o vocalista, uma das teses do álbum é que as pessoas precisam achar um jeito de continuar vivendo no sistema de hoje. “Acho que há muito otimismo no disco”, ele diz. “Mesmo que no final das contas ele possa estar condenado, há um sentimento de otimismo e esperança.”

DIIV

– Quando Sáb. (14), às 19h20, em Belém; Dom. (15) seg. (16) às 20h, em São Paulo

– Onde Espaço Cultural Na Bêra – r. São Boaventura, 268, Belém; Cine Joia – pça Carlos Gomes, 82, São Paulo e Bar Alto – r. Aspicuelta, 194, São Paulo

– Preço A partir de R$ 100 em Belém; R$ 215 no Cine Joia; esgotado no Bar Alto

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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