Paulistano encara umidade de deserto e foge de ponto de ônibus para não se torrar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A falta de proteção contra calor e tempo seco marcou a realidade dos paulistanos nesta quinta-feira (12), que teve sol quente, baixa qualidade do ar e pontos com umidade comparável ao deserto do Saara.

Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas) da Prefeitura de São Paulo, as regiões norte e central da cidade são as mais críticas na semana quanto à umidade do ar. Nelas, a reportagem aferiu com um termo-higrômetro digital temperatura de até 45°C e umidade do ar que ficou entre 10% e 16%, similar ao encontrado na região africana, cujo índice varia de 14% a 20%.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a temperatura na cidade chegou a 33,9°C e a umidade ficou em 22°C.

Na praça Doutor João Batista Vasques, no Jaçanã (zona norte), a auxiliar de limpeza Débora Custódio, 38, criticou o ponto de ônibus sem cobertura ou proteção contra o sol.

“É um ponto de vidro que não protege nada. Às vezes o ônibus demora para vir. Ou a gente fica torrando no sol no ponto ou vem para sombra”, afirma ela, que relatou ter amanhecido com sangramento pelo nariz por causa do clima.

Assim como Débora, outras pessoas que esperavam a lotação preferiram ficar em pé em busca da sombra das árvores, desprezando o abrigo de ônibus.

No local, a reportagem registrou, próximo às 15h, temperatura de 44°C, com 10% de umidade.

A auxiliar administrativa Ana Clara Lima, 20, foi uma das poucas que encararam o banco aquecido pelo sol. Tomando um sorvete, ela disse que tem tentado melhorar os efeitos da onda de calor com refresco e água gelada.

A mãe dela precisou ir nesta semana ao médico por causa de uma tosse persistente, possivelmente relacionada à fumaça que se espalha por São Paulo, contou.

Na rua 25 de Março, tradicional reduto do comércio popular no centro, a temperatura chegou a 45°C e umidade entre 11% e 16%, por volta de meio-dia.

Nela, umidificadores, garrafas d’água e ventiladores de mesa estão entre os objetos mais vendidos nesta semana segundo alguns comerciantes.

José Morais, 62, trabalha vendendo guarda-sóis com proteção UV. Ele relata o aumento da venda durante a semana por causa do calor.

Como ele, Raimunda Laranjeira de Souza, 57, afirma que as vendas subiram com o tempo seco e o calor. No seu caso, a média de cinco fardos de água (cada um deles com 12 garrafas) vendidos por dia saltou para 11 na quarta-feira (11) por causa do calor.

A vendedora Renata Soto, 46, que trabalha em uma loja na mesma região, afirma que os objetos que mais têm saído são garrafas de água, umidificadores e ventiladores de mesa, cujos preços já subiram.

No Terminal Parque Dom Pedro 2º, na região central, as críticas ficaram por conta das frotas sem ar-condicionado. Uma cobradora de ônibus, que preferiu não se identificar, afirmou que no tempo de calor aumentam os casos de passageiros que passam mal –e chegam a desmaiar.

A passageira Dayana Dias Cabral, 25, que pegava a linha para o Jardim Planalto, relatou sangramento pelo nariz e muco no filho de cinco anos.

A reportagem também notou o retorno de máscaras sanitárias, ainda que de maneira discreta, entre transeuntes. O uso do acessório facial do tipo N95, PFF2 ou P100 é recomendado pelo governo paulista como proteção adicional nas regiões de queimadas, para reduzir a inalação de partículas.

No terminal, a reportagem mediu, por volta de 13h30, 34°C e 21% de umidade.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), índices de umidades inferiores a 60% não são adequados para a saúde humana.

Assim como outras partes do país, São Paulo enfrenta efeitos da fumaça causada por queimadas ocorridas nas últimas semanas. A cidade registra por dias consecutivos a pior qualidade de ar entre grandes cidades no mundo segundo o site suíço IQAir.

Devido à situação, a prefeitura da capital anunciou a criação de um comitê e a implantação de medidas para aumentar o cuidado da população. Uma das ações é a liberação de recursos para a compra de soros fisiológicos para unidades de saúde e de umidificadores de ar para escolas de bairros com menor índice de umidade.

Também instalou em pontos estratégicos tendas da Operação Altas Temperaturas, com fornecimento de água, chás, sucos gelados e frutas, das 10h e 16h.

ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress

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