SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tensão entre a Rússia e o Ocidente ganhou nesta sexta (13) um novo capítulo com a expulsão de seis diplomatas britânicos de Moscou. Eles são acusados de espionagem.
“Os fatos revelados dão motivos para considerar as atividades dos diplomatas como ameaçadoras da segurança da Federação Russa”, disse em nota o FSB (Serviço Federal de Segurança), a principal agência sucessora da KGB soviética.
Os crimes alegados não foram detalhados. A chancelaria em Londres disse que a acusação não tem base, sendo politicamente motivada.
A decisão foi anunciada um dia depois de o presidente Vladimir Putin dizer que se os aliados da Ucrânia derem autorização a Kiev parar atacar solo russo com armas de longo alcance ocidentais, isso significará uma declaração de guerra.
A fala, ainda que ecoe declarações semelhantes do passado, ocorre num ponto de inflexão da guerra iniciada por Putin em 2022.
Moscou está avançando para tentar tomar a totalidade da região de Donetsk e promove uma contraofensiva em Kursk, área meridional russa que foi invadida por Volodimir Zelenski há pouco mais de um mês.
Os ataques aéreos se intensificaram, mirando principalmente a combalida rede energética ucraniana. Nesta sexta, os ucranianos disseram ter abatido 24 de 26 drones lançados pela Rússia. Na quinta (12), Kiev havia acusado Moscou de atacar um cargueiro civil com grãos no mar Negro, uma ampliação do escopo da guerra. O Kremlin não quis comentar o episódio.
Neste contexto, o presidente da Ucrânia passou a implorar diariamente pela autorização de uso de mísseis que possam atingir bases russas dentro do país por ora, os aliados ocidentais apenas permitem o emprego de suas armas em regiões fronteiriças russas, temendo uma escalada com a maior potência nuclear do planeta.
O choro de Zelenski parece estar funcionando, apesar de o Pentágono ter reiterado na quinta que não considera producente mudar sua política. Segundo o jornal The New York Times, o presidente Joe Biden considera liberar os ataques, mas não com armas americanas para evitar uma provocação direta. Os olhos se voltam então para os mísseis de cruzeiro franco-britânicos Storm Shadow/Scalp-EG.
Eles já foram usados pela Ucrânia contra a Crimeia, por exemplo. O premiê britânico, Keir Starmer, já disse que toparia liberar se isso fosse uma decisão conjunta com os aliados da Otan, a aliança militar ocidental.
Daí a subida de tom de Putin e a abertura da retaliação diplomática. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reafirmou nesta sexta que o presidente falava sério ao ameaçar uma guerra contra a Otan, mas negou que a expulsão de diplomatas vise um rompimento de relações com o Reino Unido.
O expediente é comum em crises, e a resposta padrão nesses casos é a reciprocidade: um número igual de diplomatas russos em Londres será expulso. Isso ocorre de tempos em tempos, e houve um incidente de especial gravidade em 2018.
Naquele ano, o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha foram envenenados no Reino Unido, que reagiu expulsando diplomatas e chegando perto de romper os laços com Moscou por sua vez, o Kremlin devolveu na mesma moeda.
O entrechoque ocorre no momento em que a Rússia flexiona sua musculatura militar em diversos pontos do mundo, promovendo até a segunda (16) o maior exercício naval desde a Guerra Fria.
Caças da Otan já interceptaram bombardeiros em simulação de ataque, e a presença de navios chineses em manobras no Pacífico visa reforçar a ideia de uma unidade contra o que Moscou e Pequim denunciam como hegemonia forçada por Washington.
Na mão contrária, os chineses se queixaram nesta sexta do trânsito de dois navios de guerra alemães pelo estreito de Taiwan, área que Pequim considera sua. É a primeira vez que isso ocorre em duas décadas.
Ainda na Ásia, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Serguei Choigu, visitou nesta sexta o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que assinou um pacto de defesa mútua com Putin este ano. O Ocidente diz que, em troca, Pyongyang fornece munição para artilharia e mísseis à Rússia acusação semelhante feita a outro rival dos EUA, o Irã.
IGOR GIELOW / Folhapress