SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O culto vai começar.” Foi assim que a cantora Hayley Kiyoko, apelidada de “Jesus lésbica” pela comunidade queer, foi introduzida na Bienal do Livro de São Paulo, na noite desta sexta.
A americana veio ao Brasil pela primeira vez para divulgar seu livro “Girls Like Girls: Uma História de Amor entre Garotas”, da Intrínseca, e participou de uma mesa com Louie Ponto e Mariana Mortani, mediadoras do Clube Sáfico de literatura.
Antes de se tornar ícone da comunidade queer, Kiyoko já era conhecida por seus papéis em “Lemonade Mouth” e “Os Feiticeiros de Waverly Place”, produções da Disney de que participou quando era adolescente.
“Na época eu ainda estava no armário, mas fãs que são parecidos comigo me reconheceram, embora nenhuma de minhas personagens fosse intencionalmente gay”, conta a cantora à Folha. Hoje, aos 33 anos, ela tem orgulho de não ter conseguido esconder sua sexualidade naquela época.
Seu livro é baseado no videoclipe de “Girls Like Girls”, da música que lançou em 2015 quando se assumiu lésbica publicamente. Na época, Kiyoko quase não divulgou a música por medo das reações que receberia e do julgamento, mas quando lançou o livro, em 2023, já amava ter a sexualidade às claras e ser apelidada de Jesus.
“Quando lancei a música, fiquei muito surpresa em descobrir que tantas pessoas sentiam o mesmo que eu”, disse Kiyoko.
A compositora conta que escrever uma música e um livro são coisas muito diferentes. “Em uma música tenho de três a quatro minutos para expressar meus sentimentos, em um livro posso passar três páginas descrevendo o jeito como alguém encostou na pele de outra pessoa. É muito mais emocionante poder contar os detalhes em um romance.”
O livro conta a história de Coley, uma garota que vive sozinha até conhecer Sonya, a garota mais popular do colégio. As duas personagens são alegorias para a vida da própria Kiyoko, que se via sozinha até encontrar a sua “Sonya”.
Em uma cena poderosa que aparece tanto no livro quanto no videoclipe, as duas personagens estão juntas quando são atacadas por Trenton, o ex-namorado de Sonya. Depois de ser jogada no chão, Coley reage e o ataca de volta.
“A briga foi metafórica”, conta a autora. “Trenton é um símbolo de ódio e julgamentos que encontramos na vida. Eu não estou defendendo violência física, mas que está tudo bem sentir que preciso lutar pelo que eu quero.”
Kiyoko ri ao ser questionada sobre o título simples e direto da canção e do livro “Girls Like Girls”, que significa apenas “garotas gostam de garotas”. “Eu amo que não tem como se confundir sobre o que é”, diz.
No palco principal da Bienal, Kiyoko foi recebida com aplausos de pé, em uma das mesas mais animadas do evento, e acompanhou a plateia quando ela começou a cantar “Girls Like Girls”. A autora transformou o evento em um verdadeiro show, cantando a cappella com acompanhamento de fãs que lotaram o espaço.
Ela também agradeceu aos brasileiros. “Eu tenho mais de dez anos de carreira, e meus primeiros fãs foram do Brasil”, disse, emocionada, arriscando um “te amo” em português.
A pedido dos fãs, Kiyoko falou um pouco sobre seu próximo livro, “Where There Is Room for Us” (traduzível como “onde há espaço para nós”), ainda sem previsão de lançamento no Brasil. “Posso contar uma coisa: será gay.”
Ao final, Kiyoko cantou “Girls Like Girls” novamente e pediu aplausos aos intérpretes de libras e à tradutora, Cida, que roubou a cena quando confundiu o nome da personagem Sonya com “insônia”.
ISADORA LAVIOLA / Folhapress