Economistas projetam retomada de alta de juros pelo Copom com ciclo curto e ajuste gradual

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve retomar a alta da taxa básica de juros -a Selic- na próxima quarta-feira (18), dando início a um ciclo curto de aperto monetário e de ajuste gradual.

Para o primeiro passo da escalada, os economistas ouvidos pela reportagem projetam uma elevação da taxa básica em 0,25 ponto percentual, de 10,5% para 10,75% ao ano.

Apesar da expectativa consensual sobre qual deve ser a rota escolhida pela autoridade monetária, nem todos os agentes econômicos concordam com o caminho que parece mais provável nesta reunião -a primeira desde que Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência do BC.

Alguns acham que o Copom precisa ser mais agressivo na largada, com uma alta de 0,5 ponto percentual, enquanto outros defendem que a melhor opção seria manter os juros no patamar atual, na visão deles já bastante restritivo.

O economista-chefe da XP e ex-assessor no Ministério da Economia, Caio Megale, considera acertada a possibilidade de o BC iniciar um novo ciclo de subida de juros com uma elevação de 0,25 ponto percentual da Selic.

“Quando se tem pouca visibilidade e muita incerteza, é melhor começar devagar e, ao longo do tempo, ir calibrando [o ritmo de ajuste]. Se precisar, acelera [o passo] ou não. Mas começar de forma gradual, com 0,25 [p.p.], faz sentido”, diz. “Até outro dia eles estavam cortando os juros. É uma reversão de percepção de cenário”, acrescenta.

Ele projeta, ao todo, quatro movimentos de alta, com uma “aceleradinha” no meio para não “ficar subindo juros por muito tempo” -sendo uma elevação de 0,25 ponto, duas de 0,50 e mais uma de 0,25.

“Parece bem calibrado, o juro real iria para perto de 8%, o que é bastante contracionista. Dá o freio de arrumação que a economia precisa, a inflação volta a cair, as coisas entram nos eixos. Mais adiante, sentindo que voltou ao cenário anterior, retoma o corte de juros”, diz.

Megale espera que o BC não dê qualquer sinalização futura no comunicado da próxima reunião quanto ao ritmo ou quanto ao ajuste total do ciclo.

Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, também acredita que o Copom vai manter seus próximos passos em aberto e que o ciclo tende a ser mais curto, tanto em duração quanto em magnitude, dado que o juro real hoje já está bastante restritivo.

Para a próxima quarta, ela vê o BC pressionado pelo mercado financeiro por uma alta de juros, já precificada na curva, e acredita que a opção será conservadora. A economista, contudo, considera que o melhor caminho seria manter a Selic constante.

“Quando o Banco Central cede a esse tipo de pressão, ele acaba tirando potência da própria política monetária, não mostrando uma confiança que é importante ele passar no processo desinflacionário, no tamanho da restrição monetária”, diz.

Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), analisa o comportamento da curva de juros e questiona os consensos do mercado.

Para ele, o prêmio de risco cobrado pelos investidores não está condizente com os dados econômicos do país e, a partir desse raciocínio, não pareceria lógico aumentar os juros.

“Temos uma questão fiscal que precisa ser melhor endereçada, temos insegurança jurídica, temos ainda memória inflacionária, temos desconforto de a inflação estar na banda superior da meta. Mas, quando olho para o prêmio de risco ao longo da curva [de juros] e para os dados reais da economia, me parece que está um pouco puxado demais”, afirma.

Apesar da reflexão, Rocha acredita que o BC dará início a um “microciclo” de alta de juros, que deve durar menos de 12 meses. Para 2025, vê 12% como teto para a Selic e prevê queda de juros ainda no primeiro semestre.

Para Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor adjunto da Georgetown University, o Copom deveria dar um passo maior no primeiro movimento de alta para sinalizar com mais clareza ao mercado o tamanho do seu compromisso com a meta de inflação, sobretudo nesse momento em que a credibilidade da instituição está na mira devido à transição de comando.

Mas o economista considera que os dados mais recentes de inflação geram um “constrangimento” do ponto de vista político a um aumento de juros mais agressivo.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mostrou leve queda (deflação) de 0,02% em agosto. Foi a primeira redução do índice desde junho de 2023.

Segundo Volpon, a diretoria do BC está “embarcando de uma maneira um pouco envergonhada” na retomada do ciclo de aperto monetário. “Se fizerem uma alta envergonhada, sem muita convicção, meu temor é que não terá nenhum efeito sobre todos os problemas que estão, de fato, tentando endereçar”, afirma.

Ele também pondera que a escolha entre uma alta de 0,25 ou 0,5 ponto percentual vai depender do tamanho total do ciclo que o BC tiver em mente.

A economista Juliana Inhasz, professora do Insper, é outra que não vê espaço para um ciclo tão longo de alta de juros. Como motivo, ela cita as trocas na alta cúpula do BC. “Não consigo enxergar uma taxa de juros aumentando a partir de janeiro”, diz.

Além da indicação de Galípolo como sucessor de Roberto Campos Neto, até o fim do ano o governo busca alguém para comandar a diretoria de Política Monetária e precisa escolher os substitutos dos diretores Carolina de Assis Barros (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Otavio Damaso (Fiscalização).

Esse também é o argumento dela para a defesa de um aumento mais “substancial” da taxa de juros na quarta. Olhando à frente, Inhasz vê ainda um cenário de grande incerteza por conta das mudanças climáticas e alerta para os efeitos da estiagem sobre os preços de alimentos e da energia elétrica.

“A pressão inflacionária deve vir um pouco mais forte nos próximos meses e já há uma inflação muito perto do teto da meta [4,5%], me parece que o mais prudente seria aumentar um pouco a taxa de juros”, afirma.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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