SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Washington Luís foi o primeiro líder político que chegou à Presidência depois de ter sido prefeito de São Paulo. Viveu uma ascensão surpreendente: administrou a capital paulista de 1914 a 1919, comandou o estado de 1920 a 1924, foi senador nos dois anos seguintes e assumiu o governo federal em 1926.
Depois dele, seis homens públicos que tinham sido gestores da cidade tentaram o cargo máximo da República, mas só um deles obteve êxito. Jânio Quadros foi prefeito de 1953 a 1955 e se elegeu presidente cinco anos depois. E voltou ao cargo municipal na segunda metade da década de 1980.
Curiosamente, nem Washington Luís nem Jânio concluíram seus mandatos presidenciais. O primeiro foi derrubado pela Revolução de 1930, menos de um mês antes da data em que deixaria oficialmente o cargo. Entrou para a história como o último presidente da Primeira República (ou República Velha).
O segundo renunciou ao cargo em agosto de 1961, com apenas sete meses no poder.
Os ex-prefeitos de São Paulo que lançaram candidaturas e não chegaram lá foram, nesta ordem, Adhemar de Barros (1901-1969), Paulo Maluf, Mário Covas (1930-2001), José Serra e Fernando Haddad.
Afastados da vida política, com a saúde debilitada, Maluf e Serra estão cada vez mais distantes do objetivo. Em tese, Haddad, atual ministro da Fazenda, teria condições de se candidatar novamente ao Planalto.
Embora tenha nascido em Macaé (RJ), Washington Luís teve uma trajetória política fincada na vida paulista. Depois de se formar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, trabalhou como advogado em Batatais, no interior do estado. Tornou-se vereador e, com apenas 28 anos, intendente da cidade, com funções equivalentes às de um prefeito.
O jovem político cultivava planos mais ambiciosos, que conciliava com uma vida social intensa. Gostava de cantar marchinhas e, depois de casado, teve algumas amantes anos mais tarde, seria chamado de “rei da fuzarca”.
Filiado ao Partido Republicano Paulista (PRP), Washington Luís foi eleito deputado estadual em 1904 e, dois anos depois, chamado pelo governador Jorge Tibiriçá para assumir a secretaria de Justiça, com atuação elogiada na época.
Em 1914, os vereadores de São Paulo o escolheram para administrar a cidade. O “paulista de Macaé”, outra expressão usada para se referir a ele, jamais tinha lidado com tantas dificuldades como as que estavam por vir. Conforme lembra o historiador Pietro Sant’Anna em “Washington Luís – O Fim da Primeira República”, era preciso enfrentar os quatro “Gs”: guerra, greve, gripe e geada.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) gerou crises de abastecimento em São Paulo, e a resposta da prefeitura foi organizar feiras livres nas quais pequenos produtores podiam vender alimentos a preços mais baixos. Não era a solução definitiva, mas uma forma de amenizar a escassez e enfrentar a inflação.
Washington Luís foi reeleito, agora pelo voto popular, em 1917, governando a cidade até 1919. Esse período coincidiu com o fortalecimento das organizações operárias, cujo ápice se deu na greve de 1917. O então governador Altino Arantes e o prefeito não se notabilizaram pela capacidade de negociação a repressão foi a aposta mais recorrente.
O Brasil foi tomado pela “grippe hespanhola”, como se dizia na época, em 1918. Os dados oficiais indicam mais de 5.000 mortos na cidade de São Paulo. Sob o comando de Washington Luís, o poder público montou hospitais provisórios e construiu novos cemitérios.
E, como se não bastasse, naquele mesmo ano, uma geada severa devastou a lavoura de café em boa parte do estado de São Paulo, afetando a economia de toda a região, inclusive da capital.
A gestão de Washington Luís na prefeitura não se restringiu aos quatro Gs. Ele priorizou a expansão da malha viária da cidade, construindo ou reformando mais de 200 km de ruas, alamedas e estradas.
Promoveu também o saneamento da Várzea do Carmo, onde hoje está o parque Dom Pedro 2º, e ergueu o Belvedere Trianon, espaço com salões de festas e terraços panorâmicos, onde mais tarde foi construído o Masp. Foi ele ainda quem lançou o brasão da cidade de São Paulo, com o lema em latim “Non ducor, duco” (“Não sou conduzido, conduzo”).
“Assim como seus antecessores [Antônio Prado e Raymundo da Silva Duprat], Washington Luís fez o que podemos chamar de modernização conservadora, preocupada com o embelezamento da cidade, mas não com o atendimento das demandas da população mais pobre”, afirma o geógrafo e historiador Francisco Capuano Scarlato, professor aposentado da USP.
À frente do estado, o “paulista de Macaé” deixou seu lema para a posteridade: “Governar é abrir estradas”. E assim foi quando chegou à Presidência: além de levar adiante uma reforma monetária e libertar presos políticos, Washington Luís inaugurou a primeira rodovia a ligar São Paulo ao Rio de Janeiro, mais tarde substituída pela Dutra.
NAIEF HADDAD / Folhapress