SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nas eleições de outubro, quase um terço das cidades da Grande São Paulo só terá candidatos brancos às prefeituras, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em 13 dos 39 municípios da região, todos os candidatos registrados se autodeclaram brancos. Em 15, há apenas um candidato não branco. E em apenas seis cidades os brancos são minoria entre os candidatos.
Os professores Rosemary Segurado, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) São Paulo, e Ramatis Jacino, da UFABC (Universidade Federal do ABC), afirmam que, em disputas majoritárias como as de prefeito, cabe aos partidos promover a diversidade de candidatos, o que ainda não é realidade em muitos locais.
Ainda assim, eles dizem ver a situação geral com otimismo. Para eles, as candidaturas de pessoas negras e a maior discussão de questões raciais nas campanhas representam um primeiro avanço em direção à igualdade no âmbito eleitoral.
No entanto, isso não acontece necessariamente em todas as regiões do estado, diz Jacino. “Eu considero o estado de São Paulo bastante conservador e racista. A realidade das regiões metropolitanas é bem diferente”, afirma.
“A capital, o ABC, são um pouco mais progressistas, mas eu não acho que dê para dizer que no estado inteiro é a mesma realidade.”
Na Grande São Paulo, que tem 45,4% de população autodeclarada preta e parda, 22,7% de candidatos se definem da mesma forma. Quando se olha todas as cidades paulistas, são 15% de candidaturas de pessoas negras, com uma proporção de 40% da população do estado que se define dessa forma.
O professor ressalta, por outro lado, que a mera eleição de candidatos negros pode não ser o bastante para avançar o debate racial.
“A representatividade é importante do ponto de vista simbólico, da equidade. Contudo, uma parte significativa de negros não tem a discussão racial como foco, até desqualificam esse debate. A eleição deve vir acompanhada da discussão racial e do combate ao racismo.”
Para Segurado, o distanciamento de cargos de poder contribui para a naturalização do pensamento de que essa população não deve ocupar essas posições.
“Ele [eleitor] pode pensar que negros não têm competência e por isso não estão ali. A gente foi mais do que adestrado a naturalizar essa ausência, que os negros não deveriam estar naquele lugar”, diz.
Em Francisco Morato, ao norte da capital paulista, acontece um fato único na região: todos os três candidatos à prefeitura se declaram negros. A cidade tem a maior proporção de população que se define dessa forma na Grande São Paulo (62%).
Douglas Cavalcante, candidato do MDB a prefeito, avalia a situação como um “avanço civilizatório”. Ele também criticou a anistia dada pelo Congresso aos partidos que descumpriram a cota racial.
“As pessoas têm que se identificar e votar em pessoas comprometidas com a igualdade. As cotas deveriam ser dos eleitos e não das candidaturas, isso incentivaria que pessoas negras participassem mais da politica.”
A reportagem tentou contato com as candidaturas de Jaqueline Freire (PSOL) e Ildo Gusmão (Republicanos), mas não obteve resposta.
Em Itapevi, o cenário é diferente. Apesar de 61% da população da cidade se definir como preta ou parda, todos os candidatos à prefeitura na eleição deste ano são brancos.
É a maior diferença proporcional entre a autodeclaração da população e dos candidatos. Por outro lado, Itapevi é a cidade com a Câmara Municipal em que mais vereadores se definem como pretos e pardos (73%).
Segurado avalia que um dos motivos para a representatividade entre vereadores ser maior é a visão de que esse seria um cargo menor, sem tantas responsabilidades. “A gente ouve que um vereador preto até dá para suportar, agora um cargo executivo precisa de muito mais competência. É como se o vereador não tivesse um papel político importante”.
Outro dado marcante das eleições deste ano na Grande São Paulo é a presença de candidaturas femininas. Apenas cinco cidades da região têm mais de uma mulher postulante ao cargo, e nenhuma tem mais de duas. Em 13 municípios, só homens aparecerão nas urnas.
Os dados mostram ainda que, na região, 17 prefeitos são candidatos à reeleição, entre eles apenas duas mulheres. E apenas três vice-prefeitos irão acompanhar seus companheiros de chapa em 2020 em outubro deste ano também.
Guararema é a cidade da Grande São Paulo com menos partidos envolvidos no pleito, com apenas seis legendas apoiando os candidatos da cidade. São Bernardo do Campo e São Paulo lideram a lista, com 26 partidos participando das eleições, quase todos os 29 registrados no TSE.
BRUNO XAVIER / Folhapress