Debate tem tensão inicial, troca de ataques e discussão lateral sobre a cidade de SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No primeiro debate após a agressão de José Luiz Datena (PSDB) a Pablo Marçal (PRTB) com uma banqueta, os ânimos seguiram exaltados –o programa da Rede TV! e do UOL, na manhã desta terça-feira (17), teve bate-boca, xingamentos e advertências aplicadas pela mediadora Amanda Klein.

Marçal, que participou com o braço imobilizado após ter sido hospitalizado, afirmou que, ao lhe dar a cadeirada, Datena teve “comportamento análogo a um orangotango numa tentativa de homicídio”. “Queria agradecer a todos que não foram solidários a mim”, ironizou.

O tucano afirmou que não estava “nem um pouco feliz com o que aconteceu”, mas ponderou: “desde criança meu pai ensinou que eu tinha que honrar a mim mesmo e minha família até a morte”.

“O único jeito de falar com bandido condenado é a Justiça. Você vai responder na Justiça que proferiu para mim. Não vou partir para agressão com você porque não bato em covarde duas vezes”, disse a Marçal.

Marçal chegou ao debate com tom agressivo. Na primeira pergunta que pôde fazer, se recusou a chamar pelo nome o prefeito Ricardo Nunes (MDB), para quem iria perguntar, chamando-o de “bananinha” ou de “futuro ex-prefeito”, o que rendeu uma bronca da apresentadora.

No primeiro bloco, Datena, Nunes, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) se uniram contra Marçal, lamentando o episódio de violência no debate da TV Cultura no domingo (15) e o nível da disputa. Os adversários acusaram Marçal de ser agressivo e mentir, responsabilizando o rival pelas baixarias.

“Estou muito decepcionado com a sua participação nesse processo eleitoral e digo isso com todo respeito. Você chegou só agredindo a todos”, disse Nunes a Marçal, acrescentando que o aconselhava como um pai.

“Quando a eleição passar, ninguém vai lembrar das polêmicas e gritarias do debate porque não dizem nada sobre os problemas que a cidade enfrenta”, afirmou Boulos. Em outro momento declarou: “Você ataca, mente e, depois, toma cadeirada”.

“Ele mente e ataca porque ganha dinheiro com isso”, afirmou Tabata, que disse não ter medo de Marçal e o acusou de tentar derrubar posts dela contra ele.

Fugindo à inflamação habitual, Marçal chegou a pedir perdão a Tabata por tê-la acusado de ser responsável pelo suicídio do pai, mas a candidata não respondeu se o perdoava. “Eu realmente fui injusto com a Tabata, eu passei do limite”, disse ele.

Em reação a ter sido alvo dos demais, Marçal voltou a dizer que os adversários representam um “consórcio comunista”. Nas considerações finais, o candidato do PRTB recorreu à religião e pediu que “você, cristão, católico, evangélico, se levante contra esses comunistas”.

Logo nos primeiros minutos, Marçal e Nunes protagonizaram um bate-boca, que seguiu fora dos microfones e lhes rendeu uma advertência cada. Segundo as regras do debate, a segunda advertência levaria à expulsão do candidato do bloco e a terceira, à expulsão do debate.

O influenciador havia dito que o prefeito agrediu sua mulher, que registrou um BO contra ele por ameaça em 2011. Nunes afirmou que nunca levantou um dedo para a esposa.

O prefeito afirmou que Marçal usa “a forma da malandragem de cadeia”, enquanto o influenciador rebateu declarando que Nunes seria “preso por tocar na merenda das crianças”.

Boulos, por sua vez, aproveitou o descontrole de Nunes para compará-lo a Marçal. “A gente viu o Ricardo Nunes querer começar o debate como pai de Marçal, terminou como irmão mais novo.”

O candidato do PSOL ainda fez uma ironia após Datena e Nunes afirmarem que receberam mensagens de Marçal pelo WhatsApp nos últimos dias na tentativa de reduzir os ataques. “Sou o único candidato que não recebeu zap do Pablo Marçal. Graças a Deus! Se eu receber, eu bloqueio.”

O tom geral do programa, no entanto, foi de enfrentamento.

Outras polêmicas foram trazidas à tona –Marçal acusou Nunes pela máfia das creches; o prefeito lembrou a condenação do influenciador por participar de uma quadrilha de fraudes; Datena cobrou Nunes pela infiltração do PCC no transporte público; o prefeito acusou Boulos de ser a favor das drogas; Marçal explorou a pecha de invasor do deputado do PSOL; Boulos questionou Nunes sobre a fila de exames; Marina Helena (Novo) disse que Tabata usa jatinhos para visitar o namorado; e Datena perguntou à candidata do Novo se atacar as instituições não seria ruim para a democracia.

Os candidatos negaram as acusações e usaram diversos direitos de resposta para explicar as polêmicas.

A respeito de usar jatinhos para visitar o prefeito do Recife, João Campos (PSB), Tabata afirmou que se tratava de um delírio de Marina Helena e que iria processá-la.

Após o fim do debate, a candidata do Novo não apresentou aos jornalistas evidências sobre os voos pagos de Tabata. “Perguntem à deputada. Eu recebi informações de diversas fontes e dei oportunidade de a Tabata se explicar. Gente, perguntar não ofende”, disse.

Ao deixar o programa, Tabata declarou à imprensa que conversou com a adversária no intervalo e falou: “Não sei o que lhe disseram, mas é mentira. Se você se retratar nos próximos dias, eu não vou entrar com processo”.

Marçal usou o tema das mulheres para mirar ao mesmo tempo em Datena e Nunes, acusando o primeiro de ser suspeito de agressão sexual e o segundo de violência doméstica. Foi essa acusação contra o tucano que o levou a agredir Marçal no debate da TV Cultura.

Datena foi denunciado por assédio sexual pela jornalista Bruna Drews, mas o caso foi arquivado após prescrição. Em 2019, Bruna, então repórter do programa Brasil Urgente, disse ter sido assediada pelo jornalista.

“Cadeirada quem levou fui eu. Ter sido acusado de crime de hediondo que foi arquivado”, disse Datena, acusando Marçal de fazer cena em relação ao trauma na costela. “A cena que esse covarde fez para se internar no Sírio [Hospital Sírio-Libanês]. Ele deveria ter sido internado no oitavo andar, que é a ala psiquiátrica.”

As imagens de Marçal indo de ambulância ao hospital viraram meme. Após o debate, Marçal disse que teria ido a pé.

“Eu acredito que eu conseguiria ir a pé para o médico, né? Mas tava lá a ambulância, eu insisti, eu Pablo, insisti para ir na minha própria escolta. Só que, com o segundo arremesso da banqueta, que pegou na minha costela eu tava com dificuldade de respirar fundo”, afirmou.

O influenciador também citou reportagem do Painel que mostrou que em 2014 uma então vizinha de Nunes e sua mulher, Regina Carnovale, afirmou em boletim de ocorrência, após uma briga no prédio, que a hoje primeira-dama teria dito que era “casada com bandido”, em tom de ameaça. Em nota enviada à coluna, Regina negou a alegação.

“O síndico já afirmou para o jornalista que nunca houve aquilo”, disse o prefeito em direito de resposta. “Não é fala dela, é de uma pessoa lá da garagem”, completou.

Houve ainda uma crítica de Marçal ao próprio tio Edson Marçal. Jornalista da Rede TV! questionou o influenciador sobre seus apelidos e ataques aos adversários e informou que seu tio declarou não concordar com esse comportamento.

“Meu tio Edson, que pediu para eu gravar um vídeo, você não vai ganhar o vídeo. Se vira para ganhar aí a eleição no interior de Goiás”, disse. E a respeito de sua liderança em rejeição, declarou: “ninguém é amado antes de ser rejeitado primeiro”.

ANA LUIZA ALBUQUERQUE, CAROLINA LINHARES, ISABELLA MENON, MARCOS HERMANSON, ARTUR RODRIGUES, CARLOS PETROCILO, JOELMIR TAVARES E VICTÓRIA CÓCOLO / Folhapress

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