SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta firme nesta sexta-feira (20), com investidores ajustando posições após sessões de desvalorização da moeda americana, em meio, também, a temores sobre as contas públicas brasileiras.
Às 12h55, a divisa subia 1,22%, a R$ 5,489, em movimento de valorização global. Já a Bolsa perdia 1,08%, aos 131.679 pontos, com pressão da curva de juros futuros.
O mercado reagia a uma série de estímulos que reduziam o apetite por investimentos no Brasil.
Após uma semana marcada pelas decisões de juros do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana), o dólar se valorizava globalmente nesta sessão em movimento de recomposição de perdas.
Só em relação ao real, a moeda americana acumulou mais de 2% de queda nos últimos dias, diante da perspectiva e, depois, da confirmação do aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.
Aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, citando resiliência da economia brasileira. Já o Fed realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.
O aumento do diferencial de juros favorece investimentos de “carry trade” isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas para maior rentabilização.
Com a perda do impulso inicial, é “natural que a moeda americana entre em correção técnica”, explica Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.
O movimento de valorização era global nesta sexta: o índice do dólar que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas subia 0,24%, a 100,910.
Ainda havia o empurrão da decisão de política monetária do Banco Central do Japão, que manteve as taxas de curto prazo em 0,25% e pediu “paciência” para elevar os juros novamente. Em relação ao iene, o dólar tinha alta de 1,1%, a 144,19, o que puxava grande parte dos investidores estrangeiros à moeda americana.
Nos mercados emergentes, o dólar ainda se beneficiava da fraqueza dos preços de commodities, como o minério de ferro e petróleo, o que prejudica países exportadores de matérias-primas, como o Brasil.
Aqui, outros fatores também entram na conta. “Há questões de fundo: uma inflação persistentemente mais alta, que pressiona os juros, e os riscos fiscais, que são muito importantes na avaliação do mercado e serão ainda maiores em 2025”, diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
Na decisão de quarta-feira, o Copom deixou os próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros. Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, porém, preevem que a Selic deve entrar em 2025 a 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo.
As projeções de alta têm afetado as curvas de juros futuros, sobretudo os contratos de curto e médio prazo.
A taxa para janeiro de 2026 avançava para 12,165%, ante 12,045% do ajuste anterior, enquanto a de janeiro de 2027 saltava de 12,015% para 12,195%. Já o contrato para 2029 marcava 12,290%, ante 12,09%.
Esse movimento afetava ações mais sensíveis à economia doméstica na Bolsa, como Magazine Luiza, MRV, Lojas Renner, que ajudavam a pressionar o Ibovespa para baixo.
O risco fiscal ainda aprofundava a aversão ao risco dos investidores. O governo brasileiro deve divulgar o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas à tarde, reacendendo dúvidas sobre o cumprimento das metas propostas pelo arcabouço.
O relatório “pode ser determinante para o resultado fiscal de 2024”, afirma Galhardo, do Remessa Online.
“O governo tem trabalhado muito na questão de trazer mais receitas extraordinárias, o que mostra empenho em cumprir com o que está disposto no arcabouço fiscal, mas também a dificuldade de fazer o ajuste pelo lado da despesa”, explica.
Em projeção enviada ao Congresso nesta manhã, o governo Lula (PT) ainda vai abrir mão de arrecadar R$ 543,7 bilhões em 2025 com a concessão de benefícios tributários a empresas e pessoas físicas. O montante representa um aumento de R$ 20 bilhões em relação ao valor estimado de renúncias neste ano.
Na contramão do tamanho da renúncia de impostos, o governo previu que dependerá de R$ 166 bilhões de receitas extras para fechar a peça orçamentária com déficit zero estabelecido como meta fiscal para o ano que vem.
Os temores com as contas públicas ainda “trazem muita volatilidade ao mercado, o que se reflete no ruído no câmbio nesta sexta”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.
Redação / Folhapress