RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O sol brilhava mais forte e esquentava mais que nos outros dias de Rock in Rio nesta sexta, 20, quando a baiana Luedji Luna começou seu show no palco Sunset no fim da tarde.
No meio da apresentação, vieram Tássia Reis e Xenia França, numa clássica união de repertórios criada pela curadoria do palco –mas que não seria, nem de perto, o único encontro do dia no festival.
Quase simultaneamente, a rapper mineira Brisa Flow subia no Espaço Favela. Uma hora depois, o palco Mundo, o maior do evento, foi tomado pelo repertório de Ivete Sangalo. Era o começo do “dia delas”, criação desta edição de 40 anos do festival dedicada inteiramente, ou quase, às artistas mulheres.
Ivete, uma das figuras mais queridas da música brasileira, cantou o repertório com a maior concentração de hits por minuto do evento e fez o melhor show do Rock in Rio até agora. Passou pelo axé, pagodão, funk e reggae e voou pela plateia ao som de “Eva”, criando uma atmosfera impossível de se passar imune.
Depois dela, no Sunset, Tyla batalhou para manter a energia de Ivete em uma apresentação que celebrou o Brasil com “Parado no Bailão” de MC L da Vinte e MC Gury e outros trechinhos de funk.
Ela, então, deu espaço para a dupla de apresentações de Cyndi Lauper e Gloria Gaynor, que, cada uma à sua maneira, deram amostras poderosas da música feita por mulheres nas décadas passadas. O efeito foi melhor que o de atrações masculinas nas quais o festival apostou com frequência ao longo dos últimos anos.
Lauper e Gaynor têm alguns dos maiores hinos gays da música popular internacional. A primeira com “True Colors”, “Time After Time” e “Girls Just Wanna Have Fun” e a segunda com “I Will Survive”, somadas a um lineup turbinado pelo pop nostálgico de Katy Perry, acabaram contribuindo para transformar o dia das mulheres em um dia LGBTQIA+ não-oficial do festival.
Talvez tenha sido o show de Cyndi, inclusive, a traduzir mais perfeitamente a ideia de um dia dedicado a elas -os discursos entre suas músicas falaram de uma guerra contra as mulheres e pedia pelo direito ao aborto.
Foi um dia marcado também pela união de forças entre as artistas no palco. Liniker apareceu de surpresa no show de Ivete, que apareceu no show de Iza. Gaynor cantou canções de Sia, Christina Aguilera e Donna Summer durante seu show.
Karol G levou um inédito reggaeton ao palco Mundo e convidou Sevdaliza, Yseult -além da drag queen Pabllo Vittar– para o show. Além disso, a própria dona do show e Cyndi Lauper eram esperadas na apresentação da headliner, Katy Perry.
Por concentrar mais fãs de pop neste lineup montado com as menos mainstream entre as mainstream -o que já é muito para o Rock in Rio- a sexta foi também o dia mais fashionista do festival até agora.
Por todo lado dava para ver lenços, franjas nas roupas, botas enormes, estampas, brilhos, transparências, brilho, leques, tatuagens, cabelos e penteados coloridos. Muitas camisetas estampadas com os rostos de cantoras também: Madonna, Liniker, Debbie Harry e as próprias Tyla, Katy Perry e Cyndi Lauper, é claro.
Mas o dia também não seguiu exatamente à risca o que prometeu, e teve três shows em palcos menores em que homens convidaram mulheres. Gui Schwab, ex-Suricato, cantou duas vezes, e chamou Betta para uma participação. A banda de pop rock Fuze, formada por quatro homens, também convidou a carioca Amanda Coronha. Não custava ter evitado.
Apesar disso, foi o dia mais coeso do festival até agora, com performances consistentemente vigorosas e um público comprometido e generoso, que celebrou todas as artistas e seus discursos.
Com Ivete flutuando e Luedji Luna dançando com seu filho no palco, Cyndi Lauper levantando milhares de pessoas com um hit dedicado à liberdade das mulheres, o público cantando em uníssono um refrão inteiro de Gloria Gaynor e a festa no palco de Karol G, o dia das mulheres contribuiu para que o Rock in Rio garantisse alguns momentos memoráveis que o festival segue perseguindo desde sua primeira edição.
*A jornalista viajou a convite da Natura
LAURA LEWER* / Folhapress