SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O estado de Brandemburgo, na Alemanha, vai às urnas neste domingo (22) em uma disputa regional acirrada que pode gerar uma reviravolta política no país, com o SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha) do premiê Olaf Scholz em empate técnico com a sigla de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha).
Uma derrota do SPD em Brandemburgo, estado ao redor de Berlim governado pela sigla de centro-esquerda há mais de 30 anos, consolidaria a ascensão da extrema direita no leste da Alemanha ao mesmo tempo em que amplificaria questionamentos internos à liderança do partido governista –a baixa popularidade de Scholz e do governo federal a um ano das eleições gerais já motiva conversas sobre sua eventual substituição como candidato a primeiro-ministro.
Esse caminho parecia certo há algumas semanas e já havia sido precificado pela classe política alemã como mais um capítulo na história de sucesso da AfD nos estados da antiga Alemanha comunista –a extrema direita venceu as eleições do último dia 1º na Turíngia e teve ótimo desempenho no pleito da Saxônia no mesmo dia.
A AfD, vale lembrar, não deve chegar ao poder em Brandemburgo mesmo que vença no domingo pelo mesmo motivo que não será governo na Turíngia: todos os partidos tradicionais da Alemanha se recusam a colaborar com os extremistas para formar um governo.
Mas o triunfo da AfD em Brandemburgo agora é incerto graças a novas pesquisas mostrando um crescimento súbito do SPD nas intenções de voto a poucos dias das eleições. O novo fôlego dos governistas aumentou a temperatura da disputa e colocou em xeque a narrativa de que os partidos tradicionais não são capazes de competir politicamente com a AfD.
Agora, os dois partidos estão em empate técnico dentro da margem de erro da maior parte dos levantamentos, e uma coalizão entre SPD e CDU (União Democrática-Cristã), o principal partido de centro-direita do país, com possível participação da BSW (Aliança Sahra Wagenknecht), um novo partido alemão de esquerda na economia e de direita nos costumes, parece provável.
Uma das razões levantadas por especialistas para explicar o disparo do SPD em um momento em que a sigla perde apoio nacionalmente chama-se Dietmar Woidke, governador de Brandemburgo desde 2013 e cabeça de chapa do partido no estado.
Woidke vem se esforçando para conduzir uma campanha o mais afastada da política nacional possível. Ciente da alta taxa de reprovação do governo federal, liderado pelo SPD, o governador chegou a recusar dividir palanque com o primeiro-ministro –muito embora o berço político de Scholz seja Brandemburgo.
A estratégia de expor o candidato e esconder o partido parece ter dado frutos: uma pesquisa realizada no último dia 12 apontou que, se a eleição para governador fosse por voto direto, metade dos eleitores em Brandemburgo escolheriam Woidke. O sistema parlamentarista da Alemanha, porém, exige que os votantes selecionem um partido na cédula, não uma pessoa, e são as negociações pós-eleição que decidem quem vai ocupar a cadeira de governador em Potsdam, a capital do estado.
Ainda assim, a popularidade de Woidke pode convencer alguns eleitores a tampar o nariz e seguir o apelo que estampa a maioria dos cartazes eleitorais do governador: “quem quiser o Woidke, precisa votar no SPD”.
Se não for o bastante e a sigla terminar atrás da AfD, entretanto, o político já anunciou que renunciará à liderança estadual da SPD, o que seria outro baque para o partido governista –depois de um desempenho fraco no pleito para o Parlamento Europeu em junho e resultados de um dígito nas eleições na Saxônia e na Turíngia, uma derrota em Brandemburgo pode desencadear uma crise na liderança da agremiação.
Desde que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistiu da sua candidatura à reeleição e abriu espaço para sua vice, Kamala Harris, a imprensa alemã vem especulando se o SPD não precisa de um “momento Kamala” –a despeito do fato de que o sucessor mais provável de Scholz seria outro homem branco, o ministro da Defesa, Boris Pistorius.
No cargo desde janeiro de 2023, Pistorius é hoje o político mais popular da Alemanha, segundo uma pesquisa de opinião da emissora ZDF. Em uma escala que vai de -5 a 5, o ministro marca 1,8, enquanto Scholz amarga -0,9, muito atrás do seu provável rival nas eleições de 2025, o presidente da CDU, Friedrich Merz (-0,1).
VICTOR LACOMBE / Folhapress