SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto passava instruções sobre o esquema tático do time na beira do campo a um auxiliar, o técnico Marcos Roberto aproveitava para fazer uma selfie diante do gramado nunca pisado oficialmente.
Roberto é treinador da Seleção Tiradentes que, na tarde deste sábado, (21) decide a final feminina da Taça das Favelas contra a favela São Rafael, de Guarulhos (Grande São Paulo). Será o primeiro jogo de futebol em mais de três anos no estádio do Pacaembu, ainda em obras, e agora rebatizado de Mercado Livre Arena Pacaembu.
A rodada dupla, que começou às 14h15, ainda terá na sequência a decisão masculina entre favela Erundina e Jardim Santos André.
Marcos Roberto foi para a beira do gramado duas horas antes do jogo para avaliar como ficou o campo. E gostou do que viu.
“O jogo rola mais rápido”, afirmou sobre o campo sintético com jeito de novinho.
Ex-meia no futebol de várzea de São Paulo, Roberto jogou no Pacaembu em 2019. Corintiano, estranhou a ausência do tobogã, reduto da torcida do Corinthians, demolido para a construção de um prédio que contará com hotel, lojas, restaurantes e um centro de convenções.
As duas decisões deste sábado são um teste para o gramado e não uma reinauguração do estádio, que segue em obras.
É o primeiro teste também de parte da nova arquibancada que terá capacidade para 25 mil pessoas em eventos esportivos e 40 mil em shows reformada pela Allegra Pacaembu, concessionária responsável pelo espaço até 2054.
Foram distribuídos 12 mil convites para os jogos deste sábado e, segundo a assessoria do evento, compareceram cerca de 8.000 pessoas.
Só foram liberados os assentos nas laterais do campo. Os torcedores, que não pagaram ingresso, chegaram às duas arquibancadas pelas ruas ao lado do estádio. A entrada principal, na praça Charles Miller, ainda está em obras e não teve o acesso liberado em razão de uma corrida de rua na região.
Mesmo onde está liberada a circulação de pessoas, há sinais da reforma. Nos banheiros, os vasos sanitários são novos, mas as paredes estão sem reboque e o piso, de cimento, tem pingos de tinta.
Os vestiários também estão inacabados. Falta forro no teto.
Há seguranças nos acessos para impedir que o público circule pelas áreas do estádio. Mas não dá para esconder que há obras no entorno. A dona de casa Maria Júlia Souza, 38, limpava a bermuda do filho David, 5, que ficou empoeirada depois de o garoto sentar em uma cadeira da parte coberta da arquibancada.
Perto dela estava o casal Diego Dias, 36, e Laís Sapucaia Lira, 33. Os dois aproveitaram ingressos distribuídos no projeto social onde o filho Paulo, 10, joga futebol em São Mateus, na zona leste, para conhecer o novo Pacaembu.
“Está ficando bacana, vim aqui uma vez assistir a um jogo beneficente do Corinthians para arrecadação de alimentos”, disse Dias.
Aos poucos, saudosistas sorriam com a volta do futebol ao Pacaembu. Por volta das 13h, houve queima de fogos e o locutor testou o sistema de som dizendo que o estádio era de uma torcida só, em referência às favelas.
Como nos velhos tempos, um ambulante oferecia cerveja e refrigerante no meio das pessoas na arquibancada.
O frentista Antonio Neto, 55, chegou cedo para conseguir lugar na parte coberta. Morador em São Bernardo do Campo (ABC), ele foi sozinho ao estádio para matar a saudade do Pacaembu.
“Assisti muitos jogos do Palmeiras aqui”, disse. “No último, pouco antes da reforma, ganhamos de 4 a 0 do Santos.”
Quarenta e cinco minutos antes da decisão feminina, a torcida da favela São Rafael ganhou um reforço especial. Um grupo com 50 meninos, de 9 a 15 anos, que jogam em um projeto social de Guarulhos, coloriram parte das arquibancadas de azul e branco.
Já Humberto dos Santos, conhecido como professor Tim, contava aos alunos do projeto social em que dá aula em Guarulhos quando viu os craques Raí e Dener se enfrentarem no campo lá embaixo em um São Paulo x Portuguesa no início da década de 1990.
“O São Paulo sempre deu sorte aqui”, afirmou, posando para uma foto com a turminha e o campo de fundo.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress