SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A gestora do banco francês BNP Parribas no Brasil vai lançar neste ano cotas para pessoas físicas de seu fundo destinado ao investimento em ativos de combate a tragédias climáticas. Segundo a BNP, está crescendo o interesse de investidores de varejo nessa área.
O produto, chamado Access Energy Transition Fundo de Investimento em Ações Sustentável IS e hoje voltado apenas para investidores institucionais, já existe há mais de uma década e atrai, entre outros interessados, muitas seguradoras europeias e brasileiras que querem cobrir os custos cada vez mais elevados com as catástrofes ligadas às mudanças climáticas.
“Os primeiros investidores do fundo eram estrangeiros, sobretudo seguradoras europeias. Isso porque os reguladores europeus foram os primeiros a requerer a precificação do risco climático para esse setor há uma década”, diz Henri Rysman, gestor e responsável pela área de Crédito Privado e especialista em ESG da BNP Paribas Asset Management Brasil.
Segundo Rysman, as seguradoras começaram a procurar investimentos adequados para cobrir gastos com o clima nos anos 2010, de acordo com as regras dos órgãos regulatórios, que exigem a inclusão de aportes em ativos ESG nos países das filiais onde essas seguradoras atuam.
ESG é a sigla em inglês para políticas corporativas focadas no ambiente, na responsabilidade social e na governança.
Apesar do interesse dos investidores internacionais, hoje o fluxo mais importante desse fundo são os clientes institucionais brasileiros, como as próprias seguradoras, os fundos de pensão e os institutos.
“Os eventos climáticos que a gente tem visto com cada vez mais frequência e cada vez mais intensidade impactam a cadeia produtiva inteira e atraem esses investidores”, diz Rysman.
A empresa de risco Verisk estima que as seguradoras no mundo devem gastar mais de US$ 151 bilhões (R$ 833 bilhões) por ano devido a catástrofes naturais e a cifra pode ser ainda maior em anos com mais desastres, de acordo com reportagem do Financial Times.
Ainda segundo o jornal, a corretora de seguros Howden e o BCG (Boston Consulting Group) concluíram que pelo menos US$ 10 trilhões (R$ 55,2 trilhões em valores atuais) de novas coberturas serão necessárias para os setores de energia, transporte rodoviário e construção entre 2023 e 2030.
No Brasil, esse é um assunto cada vez mais na mira das companhias, especialmente neste momento em que os incêndios consomem as florestas do país. Em outro evento oposto, em maio, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) estimou que os sinistros acionados para cobrir a tragédia foram a maior indenização de um único evento que o setor já enfrentou no país. Resta saber se as queimadas pelo Brasil vão superar as águas no Sul.
O fundo da BNP Parribas funciona de forma diferente dos chamados “cat bonds”, títulos de catástrofe ou títulos ligados a seguros. A gestora reúne em seu fundo ações de companhias comprometidas com a pauta verde e com a inclusão de mulheres nos cargos mais altos.
Segundo Rysman, a BNP tem critérios rígidos na escolha das empresas que compõem a carteira de investimentos do fundo. O banco mensura a pegada de carbono de cada empresa e busca uma pegada total menor do que o benchmark, que é o padrão de referência do mercado. Para isso, parou de investir em companhias do setor de petróleo e gás e também em empresas de carvão.
O fundo tem certificação IS (Investimento Sustentável) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) desde fevereiro de 2023.
Segundo a entidade, essa certificação passa por uma conferência constante para avaliar se o fundo continua adequado aos critérios exigidos pela associação para ser considerado um investimento sustentável.
No total, 95% de seu patrimônio é aplicado no fundo de investimento em ações constituído no exterior e gerido pela BNP Paribas Asset Management. O produto reúne ativos de empresas globais com produtos ou serviços que tenham soluções ambientais transitórias e facilitadoras que contribuam para a transição do sistema energético global por meio da descarbonização, digitalização e descentralização.
A BNP hoje tem apenas dois fundos certificados pela Anbima. Além desse, há um outro de infraestrutura focado em debêntures incentivadas que já está disponível também para pessoas físicas. Segundo Rysman, o objetivo da gestora é que se alcance no Brasil a mesma quantidade de fundos IS certificados na Europa.
No continente, 95% dos fundos do BNP são certificados de acordo com os critérios de órgãos reguladores como investimento sustentável. “Ainda estamos atrasados em relação a isso no Brasil”, reconhece o gestor.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress