Marçal tenta reverter rejeição galopante entre mulheres na reta final da campanha

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A duas semanas do primeiro turno, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) ajusta sua estratégia de campanha para tentar reverter a alta rejeição que acumulou até o momento, especialmente entre as mulheres. Desde sexta-feira (20), o autointitulado ex-coach publicou mais de dez conteúdos no Instagram voltados para o grupo.

Marçal transpôs para a campanha política a lógica que o tornou um dos empresários mais bem-sucedidos do país no mercado de infoprodutos. O influenciador viraliza nas redes com falas propositalmente agressivas ou polêmicas, fazendo uso da indústria de cortes (vídeos breves) que estimula há anos e que rende ganhos financeiros para seus seguidores.

Se a estratégia fez com que Marçal atingisse alta taxa de conhecimento entre o eleitorado, e mesmo angariasse apoiadores fiéis, ela também resultou na mais alta rejeição entre todos os candidatos: 47% dos eleitores afirmam que não votariam de jeito nenhum no influenciador, segundo a última pesquisa Datafolha. A margem de erro é de três pontos. Entre as mulheres, a taxa é ainda maior e chega a 53% –entre os homens, fica em 40%.

A rejeição não apenas é alta, como está em ascensão. Levantamento realizado pelo instituto no fim de agosto mostrava que Marçal era rechaçado, naquele momento, por 34% dos eleitores –32% entre as mulheres e 36% entre os homens.

Três semanas depois, a rejeição era de 44%, e as mulheres (45%) haviam superado os homens (42%) como o grupo que o influenciador mais desagrada. Uma semana depois, o índice já havia crescido oito pontos percentuais entre as eleitoras, alcançando os 53%.

Ao mesmo tempo, Marçal tem hoje 19% das intenções de voto, mas apenas 12% entre as mulheres.

De olho na alta rejeição, o influenciador tentou recuar da agressividade em debates no encontro do SBT na sexta-feira e afirmou que, a partir dali, adotaria uma “postura de governante”. O empresário diz que mostrou sua pior versão para também expor a pior versão dos adversários, e que agora mostrará a sua melhor.

Indagado pela Folha no sábado (21) se não havia exagerado na dose, respondeu: “Aí é comigo. Faltam 15 dias, você vai ver o que eu vou fazer”.

Ele indica ter entendido que precisa manifestar uma preocupação especial com as mulheres para aumentar as chances de chegar ao segundo turno. Já no debate daquele dia, pediu desculpas à deputada Tabata Amaral (PSB), a quem chegou a culpar pelo suicídio do pai, e disse que havia passado dos limites.

“Eu quero saber, Tabata, você me perdoa? Eu cometi um erro em relação ao seu pai. Eu fui injusto com você. Eu peço perdão”, afirmou.

No mesmo encontro, comparou as reações à cadeirada que levou do apresentador José Luiz Datena (PSDB) à culpabilização de mulheres assediadas e agredidas. “A gente não aguenta mais homens fracos que não conseguem debater ideias e partem para a agressão (…) A culpa é minha? É da mulher que está usando saia curta? A culpa é sempre do agressor.”

Prometeu ainda que, se eleito, fará uma gestão para as crianças, os mais pobres e as mulheres.

Desde então, Marçal vem direcionando uma série de conteúdos nas redes para o público feminino. Publicou seis vídeos depois da noite de sábado em um ambiente festivo, com mulheres fazendo o M com os dedos, símbolo de sua campanha, ou gravando mensagens de apoio.

Em uma das publicações, na sexta-feira, o influenciador pede ajuda aos seguidores para ganhar tração entre o grupo. “Qual conselho você me dá para que as mulheres, com a sensibilidade delas, consigam enxergar meu coração, minha alma, para falar ‘ele é nosso prefeito’?”, pergunta.

Em outro post, Marçal convida as mulheres que não simpatizam com ele a conhecê-lo melhor. “Principalmente se você me conhece somente de cortes tirados de contexto”, escreve.

No sábado, o influenciador publicou trecho de uma entrevista em que é requisitado a falar o nome de mulheres que são fonte de inspiração. Citou a psicóloga norte-americana Amy Cuddy, a autora cristã Joyce Meyer, a viúva do apresentador Silvio Santos, Íris Abravanel, a cantora gospel Helena Tannure, sua mãe, sua mulher, Ana Carolina Marçal, e sua filha pequena, Isabela.

“Todas vocês que estão se aproximando mais do meu coração, com o poder que só vocês têm de sensibilidade, de ver através dos olhos, da alma, eu sou aquele homem curado e vou ajudar essses homens a serem curados e a respeitar as mulheres”, disse.

A Folha o questionou se haverá uma estratégia voltada para as eleitoras. Marçal respondeu que sim, afirmando que a mulher é “sensível e mais inteligente”.

“Agora ela vai ver essa postura minha de governante, de alguém que quer servir. Acho que a mulher não é enganada facilmente, não. Ela vai tomar posição.”

O empresário costuma apostar na exaltação da própria masculinidade e virilidade, assim como do seu núcleo familiar, para se vender como um modelo de sucesso. Primeiro, para potenciais compradores de suas mentorias. Agora, para o eleitor de São Paulo.

Marçal se coloca como o provedor, defensor da mulher e dos quatro filhos, assim cumprindo o que diz ser o papel de um homem. Já Ana Carolina, sua mulher, aparece como a esposa dedicada à harmonia do lar e à família.

Seria esperado que ela fosse um ativo importante na tentativa de reverter a rejeição do marido entre as mulheres, mas Ana Carolina permaneceu em silêncio nas últimas semanas. A publicação mais recente no Instagram, ao lado de Marçal, na igreja, é do dia 8 de setembro. Com mais de 1,5 milhão de seguidores, ela vinha publicando quase que diariamente nas redes ao longo dos últimos meses.

Seu conteúdo se assemelha ao das “tradwives”, nome em inglês que pode ser traduzido como “esposa tradicional”. Há muitas influenciadoras do tipo nos Estados Unidos, que defendem que a mulher deve cuidar da família, do marido e dos filhos e que os homens devem protegê-los.

A vice de Marçal, a policial Antônia de Jesus (PRTB), também pode ter a presença explorada na reta final. Ele já afirmou em diversas ocasiões, por exemplo, que, mesmo enfrentando adversários do campo progressista, foi o único a escolher uma mulher negra para sua chapa. No início do mês, ela foi peça-chave de um encontro de mulheres no parque Ibirapuera em apoio ao candidato.

Antônia, porém, já se envolveu em uma polêmica com as mulheres, ecoando um discurso conservador. Como mostrou o Painel, em entrevista ao Diário de Polícia, transmitida em 27 de agosto, ela foi indagada a respeito do que pretende fazer para melhorar a saúde do grupo na cidade.

Respondeu que, quando a saúde da mulher está em dia, “tudo funciona em casa”. “Porque aí ela não vai estar cansada, com queixas. A casa vai estar limpa.”

ANA LUIZA ALBUQUERQUE / Folhapress

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