Mesmo com alta da Selic, mercado está otimista com a Bolsa; veja ações recomendadas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar do início do ciclo de alta da Selic, que foi para 10,75% na última quarta (18), o mercado financeiro está confiante com a Bolsa de Valores local. Segundo analistas, mesmo com o custo do crédito maior, o mercado brasileiro pode se beneficiar da queda de juros nos Estados Unidos, atraindo fluxo estrangeiro.

“Ultimamente, a correlação da nossa Bolsa com o juro americano aumentou, pelo fluxo de investimento estrangeiro ser muito relevante”, diz Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter.

Segundo a XP, foi o fluxo estrangeiro de R$ 9,7 bilhões em agosto, impulsionado pela queda nas taxas dos títulos do Tesouro americano, que levou o Ibovespa à melhor performance mensal de 2024, com alta de 6,5% em reais e em dólares, recuperando as perdas do primeiro semestre.

“Ao comparar com os fluxos de mercados emergentes, observamos um padrão semelhante com os fluxos do Brasil, o que sugere que o cenário global foi um catalisador mais importante do que fatores domésticos”, aponta a equipe econômica da corretora em relatório.

Na última quarta, o Fed (BC dos EUA) cortou a taxa americana de 0,5 ponto percentual, para 5% ao ano, na primeira redução desde a pandemia. Agora, o mercado financeiro espera que o juro americano siga caindo até junho de 2025, quando iria para 3,25% ao ano.

Com uma rentabilidade menor na renda fixa dos EUA, investidores tendem a buscar ativos mais rentáveis, entre eles, o investimento em economias emergentes.

Além disso, os analistas apontam que há outro chamariz no Brasil: o preço descontado dos ativos.

De acordo com o Inter, a relação entre o preço atual das empresas e o lucro esperado para o próximo ano (conhecida como P/L) está em 7. Ou seja, em sete anos o investimento em Ibovespa se paga de acordo com a distribuição de dividendos. Porém, esse número está abaixo da média dos últimos cinco anos, de 11.

“Os resultados do terceiro trimestre devem vir tão bons quanto ou melhor que o segundo trimestre, o que deixa o P/L mais barato ainda e chama atenção dos investidores estrangeiros, podendo atrair uma parte desse dinheiro especulativo” diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank

Em dólares, a distorção é maior. Na moeda americana, a pontuação do principal índice acionário do país está na casa dos 20 mil, abaixo da alta histórica de 40 mil, observada no início de 2011.

Para o Inter, o Ibovespa deve subir 10% em relação aos atuais 131 mil pontos, e alcançar 144 mil pontos ao fim do ano.

Segundo Amaral, o aumento de custo da dívida das empresas, dada a Selic maior, não deve intervir no desempenho da Bolsa, por se tratar de um ciclo menor de alta nas taxas.

Já, para a XP, o Ibovespa deve alcançar os 154.890 pontos ao fim deste ano, uma alta de 18%.

“Provavelmente haverá um fluxo para emergentes, mas ele deve ir mais para a Ásia e México do que Brasil. Aqui, o governo precisa passar credibilidade sobre os arcabouços de gastos e temos um problema da inflação, com atividade aquecida”, diz Bresciani, do AndBank.

Amaral, do Inter, também vê o fiscal como uma barreira para um fluxo maior de estrangeiros à B3. Além disso, ele aponta a fraca atividade da China, nosso principal importador, como outra razão pela falta de ímpeto da Bolsa.

O gigante asiático vive uma desaceleração na produção industrial e no investimento em infraestrutura e uma fraqueza no consumo e no setor imobiliário.

Porém, investidores esperam que maiores estímulos econômicos do governo chinês acelerem a atividade, já que o governo tem como meta um crescimento de 5% do PIB (Produto Interno Bruto). O Itaú, por exemplo, mantém uma previsão de crescimento de 4,8% para o país asiático.

Por enquanto, o minério de ferro segue negociado abaixo dos US$ 100 por tonelada, o que pressiona as ações da Vale, maior expoente do Ibovespa. Desde janeiro, os papéis da mineradora cederam 25,6%.

O petróleo também segue pressionado, especialmente pelo risco de recessão nos Estados Unidos, cotado na faixa de US$ 70, o que leva a Petrobras a uma queda de 4% em 2024.

“Como as commodities estão pressionadas por conta da China, o investidor do exterior tem entrado no setor financeiro”, afirma Amaral.

Além dos bancos, o analista recomenda o investimento em empresas de serviços básicos, como energia elétrica e saneamento, e de telecomunicações, que considera mais resistentes ao atual ciclo de incertezas.

“Ainda vemos companhias com fundamento positivo, apesar da curva de juros ter pressionado um pouco a Bolsa”, diz Amaral.

Do outro lado, ele diz evitar empresas mais sensíveis à Selic, como o varejo e o setor imobiliário.

Bresciani, por sua vez, recomenda as ações de bancos, seguradoras e elétricas. “Elas estão com um retorno, considerando os dividendos, tão altos quanto a Selic”, diz.

A Vale é um dos exemplos citados pelo analista, com um DY (dividend yield, lucratividade de uma ação apenas considerando os proventos) de 12% nos últimos 12 meses. “Mas, para ela continuar a andar, depende da China”, afirma Bresciani.

O analista também recomenda que se evite os setores de varejo e construção civil no momento. “Apesar do quarto trimestre ser, historicamente, o melhor para as vendas, com a Selic mais alta, ele pode ser pior que a expectativa.”

A XP também indica a compra de bancos, em especial do Itaú Unibanco e do Banco do Brasil. No setor de energia, ela indica as ações de Eletrobras e de Equatorial.

A corretora também aposta em petróleo, com Petrobras e Prio na sua carteira recomendada.

Luiz Fernando Araúj, CEO da Finacap Investimentos, também vê potencial nas commodities, com um fluxo de investimento americano para as matérias-primas —historicamente, conforme a alocação em dólar cai, aumenta o investimento em petróleo e vice-versa.

O gestor recomenda ter 30% da carteira em papéis ligados a matérias-primas, 30% em serviços básicos, 25% em consumo e 15% no setor financeiro. Entre sua principais escolhas estão Itaú, Inter, Renner, Vale, Petrobras, ALLOS (de shoppings) e MRV.

Apesar de os juros impactar a construção civil, ele não vê tanto efeito nas faixas do Minha Casa Minha Vida, foco da construtora mineira.

“A MRV está com safras novas, com um material de construção mais barato, por isso, deve ir melhor. O juro não afeta a baixa renda, que tem incentivos do governo”, diz Araújo.

JÚLIA MOURA / Folhapress

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