HANNOVER, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O maior problema para eletrificar o transporte rodoviário não está mais na autonomia. Caminhões a bateria capazes de rodar 500 km se destacaram no IAA Transportation 2024, o Salão de Hannover. O evento realizado na última semana antecipa soluções para descarbonizar o transporte rodoviário de cargas.
As novidades começam a chegar ao Brasil em 2025, mas haverá uma prévia de alguns dos lançamentos na Fenatran, feira nacional do setor realizada em novembro, na cidade de São Paulo. As marcas, contudo, ainda não revelam quais serão as atrações.
Tanto aqui como lá, os ganhos de autonomia e de capacidade de carga transferem o desafio para os setores de infraestrutura. Na União Europeia, é necessário multiplicar por 60 o número de eletropostos para veículos pesados elétricos. Hoje há apenas 600 disponíveis, segundo levantamento feito pela Mercedes-Benz.
O principal motivo para o interesse da montadora alemã neste tema esteve exposto em Hannover. O caminhão eActros 600 é capaz de rodar 500 quilômetros transportando 40 toneladas, de acordo com os dados divulgados pela Daimler Truck.
Pelo cálculo da fabricante, a autonomia seria equivalente a um consumo médio de 10 km/l com diesel algo inatingível, já que um modelo de mesma capacidade, mas equipado com o com motor a combustão, é considerado muito eficiente caso atinja a média de 4 km/l.
O modelo da Mercedes foi eleito o Caminhão Internacional do Ano no Salão de Hannover, premiação que comprova a transição energética no segmento. Suas baterias de LFP (fosfato lítio-ferro) tem 621 kWh (quilowatt-hora) de capacidade, com durabilidade estimada em 1,2 milhão de quilômetros ou 10 anos.
O concorrente holandês DAF XF Electric pode chegar a 42 toneladas de PBT (peso bruto total), com autonomia estimada em 460 quilômetros, desde que equipado com o pack máximo de baterias (525 kWh de capacidade).
A fabricante informa que esse alcance depende de uma série de fatores, como temperatura ambiente (20° C é considerada a ideal), combinação entre usos urbano e rodoviário, carga transportada e até a classificação do pneu utilizado.
Cada escolha tem seu pênalti. Optar por mais baterias significa perder uma ou duas toneladas de peso a ser transportado, já que o PBT é a soma do veículo com o conteúdo a ser transportado.
Na italiana Iveco, o S-eWay também é capaz de rodar cerca de 500 km com uma carga completa de suas baterias, que têm capacidade total de 738 kWh. É o primeiro modelo apresentado após as mudanças que ocorreram na parceria com a marca americana Nikola. A empresa europeia assumiu as operações no continente e terá uma linha própria.
Entre semelhanças e diferenças, os caminhões elétricos trazem em comum os motores acoplados aos eixos. A opção da Iveco é produzida em Turim, em uma fábrica com capacidade para montar 20 mil componentes e igual número de pacotes de baterias por ano.
A planta foi inaugurada em 2022, o que mostra o quanto é recente a eletrificação no setor. Esses eixos servem também aos caminhões abastecidos com hidrogênio que, embora presentes em bom volume na feira alemã, ainda têm desafios maiores que os modelos a bateria, como o custo elevado.
Não que o 100% elétrico seja em conta: segundo a Mercedes, o custo corresponde ao dobro do pedido por um modelo equivalente a diesel na Europa. Mas, no caso dos pesados a hidrogênio, o valor pode chegar ao triplo quando comparado aos veículos a combustão.
Para a conta fechar, é preciso ainda criar pontos de reabastecimento para o gás, cuja geração deve ser limpa. Se os requisitos forem atingidos, espera-se que a tecnologia esteja consolidada até o fim da próxima década. Essa é a previsão da Federação Europeia para o Transporte e o Meio Ambiente.
No momento, os caminhões extrapesados 100% elétricos parecem uma solução mais pronta globalmente. Além das marcas europeias, as chinesas exibem opções prontas para comercialização na feira alemã de transporte. Mesmo modelos de estilo conceitual, como o Tesla Semi revelado no evento, dão sinais de que chegarão às ruas em um ou dois anos.
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O jornalista viajou a convite da Mercedes-Benz do Brasil
EDUARDO SODRÉ / Folhapress