Dólar sobe e Bolsa cai com mercado à espera de dados de inflação do Brasil e dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta segunda-feira (23), início de uma semana de divulgações importantes para os mercados, em especial os dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos.

Às 12h52, a moeda subia 0,27%, a R$ 5,535, encerrando a “euforia” causada pelas decisões dos bancos centrais brasileiro e americano na quarta-feira passada.

Já a Bolsa caía 0,17%, aos 130.830 pontos, estendendo as perdas dos últimos pregões.

Após uma semana marcada pelas decisões de juros do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana), o dólar tem engatado em um movimento global de recomposição de perdas.

Só em relação ao real, a moeda americana havia acumulado mais de 2% de queda até sexta-feira, diante da perspectiva —e, depois, da confirmação— do aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.

Aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, citando resiliência da economia brasileira. Já o Fed realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.

Os movimentos opostos dos BCs favorecem investimentos de “carry trade” —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Desde sexta-feira, porém, a diminuição do impulso inicial tem feito o dólar ganhar terreno novamente. “Teve uma certa euforia com o corte do Fed, embora amplamente esperado, e acho que isso vem se dissipando”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

“E hoje os investidores estão em compasso de espera defensivo, aguardando agenda da semana que é importante.”

Os próximos dias guardam comentários de autoridades do Fed, incluindo do presidente da autarquia, Jerome Powell, e números do índice de inflação PCE (índice de preços para despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês) na sexta-feira. A expectativa é por mais pistas sobre os juros americanos.

Já no Brasil, a ata da reunião do Copom deve ser publicada na terça-feira pela manhã, e o mercado também espera mais sinalizações sobre a trajetória da Selic.

O comitê, ao comunicar a última decisão, deixou os próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros. Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, preevem que a Selic deve entrar em 2025 a 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo.

Nesta segunda, o Boletim Focus projetou que a taxa básica de juros do país deve fechar o ano em 11,5%. Há uma semana, o patamar estava em 11,25% —e, há um mês, em 10,5%.

Os economistas ouvidos pelo BC também esperam aumento no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que deve fechar o ano em 4,37%, ante projeção de 4,35% na semana passada. Dados do IPCA-15, uma espécie de “prévia” do indicador, serão publicados na quarta-feira.

As incertezas pressionavam as curvas de juros futuros, e os temores com as contas públicas do Brasil ainda aprofundavam a aversão ao risco dos investidores.

O governo brasileiro apresentou o relatório bimestral de receitas e despesas, o que acendeu temores sobre o cumprimento das metas propostas pelo arcabouço.

Embora tenha havido um aumento nos gastos obrigatórios, a melhora na projeção de receitas permitiu desbloquear outras despesas que estavam travadas para cumprir a meta fiscal, que é de déficit zero neste ano. O saldo final dessa combinação de fatores foi positivo para o governo.

Segundo o Ministério do Planejamento, foi liberado R$ 1,7 bilhão em gastos no próximo ano, antes congelado no Orçamento de 2024, e houve um bloqueio adicional de R$ 2,1 bilhões para compensar o crescimento das despesas obrigatórias e evitar o estouro do limite do novo arcabouço fiscal.

Por outro lado, a melhora das receitas permitiu reverter integralmente o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões feito em julho. O instrumento é usado para conter gastos quando outra regra fiscal está em risco —neste caso, a meta de resultado primário.

Os números serão detalhados em entrevista coletiva nesta segunda-feira. O relatório “pode ser determinante para o resultado fiscal de 2024”, afirma André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

“O governo tem trabalhado muito na questão de trazer mais receitas extraordinárias, o que mostra empenho em cumprir com o que está disposto no arcabouço fiscal, mas também a dificuldade de fazer o ajuste pelo lado da despesa”, explica.

Em projeção enviada ao Congresso na sexta, o governo Lula (PT) ainda vai abrir mão de arrecadar R$ 543,7 bilhões em 2025 com a concessão de benefícios tributários a empresas e pessoas físicas. O montante representa um aumento de R$ 20 bilhões em relação ao valor estimado de renúncias neste ano.

Na contramão do tamanho da renúncia de impostos, o governo previu que dependerá de R$ 166 bilhões de receitas extras para fechar a peça orçamentária com déficit zero estabelecido como meta fiscal para o ano que vem.

Os temores com as contas públicas ainda “trazem muita volatilidade ao mercado, o que se reflete em ruído no câmbio”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

Redação / Folhapress

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