SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos sertanejos mais famosos do Brasil, Gusttavo Lima não é apenas cantor. O “Embaixador”, como é conhecido, é também produtor, empresário, dono de latifúndios e de um dos maiores cachês do país, seja para shows ou como garoto-propaganda.
Na segunda (23), a Justiça de Pernambuco decretou a prisão preventiva de Gusttavo Lima sob suspeita de que teria ajudado duas pessoas investigadas a ficarem fora do país. A ação faz parte da Operação Integration, que investiga uma suposta organização criminosa que atuaria em jogos ilegais e lavagem de dinheiro. Nesta terça (24), a ordem de prisão foi revogada.
Embora tenha ampliado sua fortuna com contratos publicitários, Gusttavo Lima lucra de forma expressiva com os cachês de seus shows, cobrando cerca de R$ 1 milhão por apresentação.
Levantamento feito pela reportagem identificou que o cantor assinou pelo menos R$ 14,5 milhões em contratos com 13 prefeituras para realizar shows ao longo de 2024. A pesquisa foi feita com base na agenda de shows divulgada pelo sertanejo e informações publicadas em Diário Oficial.
Em 2022, esses valores pagos pelos municípios colocaram Gusttavo Lima no centro da chamada CPI do Sertanejo, que girou em torno dos cachês milionários pagos por prefeituras de cidades com poucos milhares de habitantes a estrelas da música brasileira.
A Prefeitura de Conceição do Mato Dentro (MG), por exemplo, cidade de 20 mil habitantes a 163 km de Belo Horizonte, usaria verba destinada a saúde, educação, ambiente e infraestrutura para pagar o cachê de R$ 1,2 milhão do cantor em 2022, mas o show acabou suspenso.
À época, Gusttavo Lima disse em nota que “não pactua com ilegalidades cometidas por representantes do poder público” e que não é seu papel “fiscalizar as contas públicas para saber qual a dotação orçamentária que o chefe do Executivo está utilizando para custear a contratação”.
Procurada nesta terça para comentar o assunto, a defesa dele afirmou que não iria se manifestar novamente sobre o tema.
A mesma situação ocorreu em Teolândia, na Bahia, que tinha como plano pagar R$ 704 mil para receber uma apresentação do sertanejo na Festa da Banana de 2022. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) considerou o gasto infrutífero para a população e barrou o show.
Em fevereiro deste ano, um show do artista na cidade de Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, foi cancelado após o Ministério Público do estado contestar o cachê de R$ 1,3 milhão que ele receberia. O montante era superior ao orçamento da pasta de cultura do município.
Nesta segunda-feira, inclusive, quando a prisão foi decretada, Gusttavo Lima assinou um contrato de R$ 1,1 milhão com Prefeitura de Petrolândia (PE) para se apresentar na cidade.
No decreto de prisão desta segunda-feira, a juíza Andrea Calado da Cruz apontou que Gusttavo Lima adquiriu participação de 25% da casa de apostas VaideBet, o que acentua, na visão dela, “a natureza questionável de suas interações financeiras”.
A defesa do cantor diz que a relação dele com as empresas investigadas na Operação Integration é “estritamente de uso de imagem e decorrente da venda de uma aeronave”.
O cantor também é proprietário de grandes fazendas em Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, quase todas focadas na ampla criação de gado.
Há ainda outras empresas e parcerias, como a bebida alcoólica Vermelhão, criada com ex-funcionários da Ambev; uma marca de alimentos saudáveis; churrascarias; uma linha de roupas; e o aplicativo BaladAPP, voltado para a venda de ingressos. O cantor também é embaixador da Ignite, que vende bebidas e cigarros eletrônicos.
Em fevereiro deste ano, o sertanejo ainda se tornou sócio-majoritário da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Paranavaí, time do interior do Paraná que disputa a segunda divisão estadual. Ele adquiriu 60% das ações do clube.
DIEGO ALEJANDRO / Folhapress