SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia após o debate eleitoral para a Prefeitura de São Paulo terminar com um assessor na delegacia e um marqueteiro ensanguentado, adversários de Pablo Marçal (PRTB) pediram diferentes medidas para conter o candidato, como a exclusão dele dos próximos encontros, reforço na segurança e ação da Justiça.
Nesta segunda-feira (23), o candidato do PRTB foi expulso do debate do Flow após ser advertido três vezes por descumprir regras do evento. Pouco depois, um assessor seu, Nahuel Medina, deu um soco no publicitário Duda Lima, da campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Em encontros anteriores, Marçal já havia agredido verbalmente os rivais, colocando-lhes diferentes apelidos pejorativos, e feito acusações sem provas, como a de que um dos rivais usaria droga. Ele também foi vítima de agressão em um dos eventos, ao ser atingido por uma cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) na sequência de provocações ao tucano.
Nesta terça-feira (24), Tabata Amaral (PSB) divulgou nota para chamar “a atenção para a responsabilidade das emissoras e veículos de imprensa”.
“É necessário avaliar os motivos que levam a convidar um candidato que não debate propostas para a cidade, participa com a intenção de tumultuar e cujos requisitos legais não tornam a sua participação obrigatória”, afirmou.
Atualmente, o convite só é obrigatório em debates transmitidos por rádio e TV a candidatos de partidos com, no mínimo, cinco deputados federais até 20 de julho do ano da eleição. O PRTB não tem representação na Câmara.
Em entrevista a jornalistas, Tabata afirmou que não pretende se organizar com outras campanhas para pressionar pela ausência do Marçal, mas reforçou que gostaria de limite nos debates.
“Eu estarei em todos os debates que tivermos. Mas, Marçal não quer falar de proposta, ele não quer pedir voto, ele quer fazer o showzinho dele para ganhar atenção e ganhar dinheiro.”
Nunes, por sua vez, afirmou que a agressão foi premeditada e poderia ter causado a morte de Duda.
O prefeito cobrou que haja segurança nos debates, mas disse que pretende participar dos próximos.
“Só peço aqui que a gente tenha consciência do risco que está sendo colocar esse tipo de gente no meio de pessoas civilizadas, eles não têm limites”, afirmou.
Nunes disse não se sentir confortável com a presença de “pessoas desse nível” nos debates.
“A gente não pode ter um ambiente que coloque a vida das pessoas em risco. [ ] Quem quer fazer um debate precisa assumir a responsabilidade de ter um ambiente com segurança. [ ] Vai esperar acontecer pior ainda do que já aconteceu, que já é muito grave?”, cobrou.
Mais tarde, Nunes disse ainda que Marçal tem psicopatia e cobrou ações do Ministério Público contra o que entende ser incitação de violência e ataque à democracia.
O prefeito se referiu à live de Marçal após o debate, em que o influenciador diz que “vamos entrar numa guerra e, se não tiver revolta do povo, não vai ter como resolver isso nessa cidade”.
“Eu tenho muita confiança de que o Ministério Público vai ser um exemplo, para que a gente possa já cortar esse mal pela raiz. [Marçal] falando agora é guerra, convocando as pessoas. Não é possível que os promotores não estejam vendo isso. Estamos tendo uma incitação à violência”, disse.
“O que compete aos órgãos, Ministério Público, Justiça e polícia, é manter a paz dentro de uma sociedade civilizada.”
José Luiz Datena (PSDB), por sua vez, afirmou que o debate e a campanha com a presença de Marçal são impossíveis e que o influenciador precisa ser parado.
“Ele [Marçal] agride o tempo todo e deturpa o debate. Ele está sendo chamado de psicopata, mas é um mau caráter, sujeito de péssima qualidade e que precisa ser parado pela lei”, disse o tucano.
Em agenda pelas ruas de São Mateus, na zona leste, Datena voltou a ser saudado pela cadeirada no autointitulado ex-coach no debate da TV Cultura.
O tucano evitou comparações entre sua agressão e o soco no marqueteiro de Ricardo Nunes. Nahuel Medina chegou a ser detido para averiguação, o que não aconteceu com Datena.
“O cara [Medina] agrediu covardemente, e eu respondi a uma agressão. Fui agredido verbalmente de uma forma desumana”, disse Datena.
Em relação aos próximos debates, a campanha do tucano ainda não confirma se ele irá ou não -diz que haverá uma análise individual, como nos encontros anteriores.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL), por sua vez, classificou como inaceitável a agressão e estendeu suas críticas ao atual prefeito. Segundo o psolista, Nunes agiu com provocações “fora das câmeras”.
“Reprovo também a conduta de candidatos, e aí inclui o Ricardo Nunes, que trabalha com provocação e com mentira. Fora das câmeras, xingando, atacando, provocando”, disse. “Não é por acaso que são dois candidatos ligados ao ex-presidente Bolsonaro, a essa cultura de ódio.”
A campanha de Boulos diz que ele “irá a todos os debates programados, desde que cada organização garanta o cumprimento das regras estabelecidas”. Até agora, o candidato sinaliza que comparecerá aos programas agendados por Record, Folha/UOL e Globo.
A campanha de Marçal também diz que ele mantém os planos de comparecer aos próximos debates.
O influenciador voltou a negar que tenha se envolvido em confusão. “Não fui eu que briguei”, disse. “Foram os dois que criaram [a confusão]”, continuou, ao se referir ao mediador, Carlos Tramontina, e a Duda Lima.
CARLOS PETROCILO, CAROLINA LINHARES, MARIA PAULA GIACOMELLI, ISABELLA MENON, JOELMIR TAVARES E MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress