SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com 689 mortes entre os meses de janeiro a agosto, a letalidade no trânsito da capital paulista é a maior para o período em oito anos.
A quantidade de pessoas mortas em sinistros de trânsito no município em 2024 só é inferior a 2015, quando começou a série histórica do Detran (Departamento de Trânsito) paulista naquele ano foram 768 óbitos.
Os dados foram disponibilizados nesta semana pelo Infosiga, sistema do governo estadual de monitoramento da letalidade no trânsito.
Tanto no estado quanto no município, na comparação entre os oito primeiros meses de 2023 e 2024, houve alta nas mortes.
Em todos os municípios paulistas, a quantidade de vítimas passou de 3.339 para 4.088 pessoas alta de 22.5%. Já no caso da cidade de São Paulo, o aumento foi de 23,6%, saltando de 557 para 689 óbitos.
Para efeito de comparação, nos dois casos, o crescimento da frota foi de 3,5% nos dois períodos comparados.
As principais vítimas do trânsito paulistano são motociclistas e pedestres. Juntas, representam 82,5% de todos os óbitos.
Por outro lado, a quantidade de mortes em acidentes com automóveis caiu. Passou de 74 para 68 (cerca de 8% a menos).
“Os números confirmam uma tendência acentuada grave no aumento das mortes de vulneráveis na cidade de São Paulo”, afirma Sérgio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper.
O especialista critica a flexibilização na fiscalização e cita a diminuição de agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Como mostrou a Folha de S.Paulo, o número de “marronzinhos” nas ruas no fim de 2023 era 20% menor que em 2014 a gestão Ricardo Nunes (MDB) informou na época que havia um concurso público em fase final para convocação de 254 aprovados.
As multas de trânsito na cidade de São Paulo desabaram 52% sob Ricardo Nunes (MDB) no primeiro semestre deste ano, quando o prefeito tentará a reeleição.
O prefeito chegou a criticar durante entrevista coletiva neste ano a instalação indiscriminada de radares com fins arrecadatórios, em discurso afinado com o bolsonarismo e a tese de que haveria uma “indústria da multa”.
“Isso gera sensação se impunidade, o que provoca anarquia, com desrespeito à legislação de trânsito”, diz Avelleda.
Em nota, a prefeitura afirma que é o desrespeito à sinalização e às leis de trânsito a principal causa para esses acidentes violentos. “Dentre as infrações, a que gera consequências mais graves é o excesso de velocidade.”.
Na nota, administração municipal diz que somente em 2023, a CET destinou R$ 54,1 milhões para atividades de educação no trânsito.
“A educação que mais funciona no trânsito é a fiscalização. Politicamente em um primeiro momento, fiscalização é uma medida antipática, mas no médio e no longo prazo a cidade gosta”, afirma o especialista.
Sobre ações de segurança a motociclistas, a prefeitura cita criação a faixa azul sinalização no solo que separa as motos dos demais veículos. Sem mensurar dados, afirma que os 200 km de faixa exclusiva implantados reduziram a gravidade nos acidentes.
“Também foi proibida a circulação de motos nas pistas expressas das marginais e implantadas mais de 700 frentes seguras”, afirma trecho da nota.
A administração municipal frisa que desde 2015, o número de motocicletas da capital aumentou 50%, passando de 1 milhão para 1,5 milhão. “A pandemia também trouxe mudanças de comportamento que ampliaram o número de motos em circulação e a motivação dos deslocamentos [serviços de entrega].”
Para tentar coibir atropelamentos, a prefeitura afirma ter implantados Áreas Calmas [regiões com redução de velocidade] e 12 mil novas faixas de pedestres, além do aumento do tempo para atravessar em mais de mil cruzamentos na cidade.
Sobre as mortes no estado, o Detran diz que desenvolve constantemente políticas públicas que aumentem a segurança viária e a conscientização.
Entre as ações, o Departamento de Trânsito também aponta o aumento na fiscalização de janeiro a agosto foram 28% de blitze a mais que no mesmo período anterior, com alta de 83% nos veículos abordados.
“Além disso, desde o início de 2023, foram realizadas 15 campanhas educativas. Uma das mais recentes é sobre o respeito à faixa de pedestres”, afirma o órgão estadual.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress