SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em forte queda na manhã desta quinta-feira (26) com os investidores repercutindo as declarações do Partido Comunista da China que prometeu “gastar o necessário” para que o país cumpra a promessa de terminar o ano com um crescimento de 5% no PIB (Produto Interno Bruto).
Os líderes chineses fizeram o anúncio na reunião do Politburo, que não costuma ser um fórum para discussão de assuntos macroeconômicos. Na terça-feira, a China já havia anunciado o pacote de estímulo à economia mais agressivo desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020.
A declaração teve um impacto direto entre os investidores e fez com que o dólar recuasse nos principais mercados do exterior. No Brasil, não foi diferente e a moeda abriu o dia em queda de 1,14%, cotado a R$ 5,4149, às 9h06.
Na quarta-feira, o dólar fechou em alta de 0,29%, a R$ 5,476, e a Bolsa perdeu 0,43%, aos 131.586 pontos.
O dia foi embalado pelos números de inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15).
Considerado uma prévia da inflação oficial do país, o indicador surpreendeu analistas ao perder força e registrar um avanço de 0,13% em setembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A alta ficou bem abaixo da mediana das expectativas do mercado financeiro, que era de 0,28%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das projeções ia de 0,18% a 0,33%.
Com o resultado de setembro, o índice desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior.
O dado, no entanto, não foi o suficiente para afastar as perspectivas de alta de juros pelo BC (Banco Central) nas próximas reuniões.
“O número foi benigno, abaixo inclusive do piso das expectativas da Bloomberg, mas os fundamentos da inflação não apontam para uma desinflação contínua, especialmente nas leituras de serviços e indústria”, diz Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos.
“O mercado de trabalho segue aquecido, os salários seguem em alta, e esses fundamentos não revertem as previsões para os juros. Seguimos projetando um BC cauteloso, à espera de mais dados.”
Os operadores financeiros dão como certo que a taxa Selic voltará a subir nos próximos encontros do Copom (Comitê de Política Monetária). Nas curvas de juros futuros, as chances de um novo aperto de 0,50 ponto percentual no encontro de novembro são de 77%, enquanto os 23% restantes vêem alta de 0,25 ponto.
Para o câmbio, a falta de definições pesou em um ambiente já pouco favorável ao risco nos mercados globais.
“Será que a queda da inflação foi sazonal ou vai se sustentar nas próximas divulgações? Com o aumento da Selic e os dados abaixo do esperado, o BC vai ter coragem de subir as taxas de novo? Essas dúvidas fizeram o dólar subir hoje”, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
Já no Ibovespa, mais da metade da carteira fechou no negativo diante da perspectiva de juros mais altos.
Ao decidir elevar a Selic de forma unânime em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o Copom optou por não dar indicações sobre os próximos passos da política monetária do país diante de um conjunto de incertezas no horizonte.
Na ata da reunião de quarta-feira passada, divulgada ontem o colegiado disse considerar que o aumento das projeções de inflação de médio prazo tornou o cenário à frente mais desafiador e que o forte ritmo de crescimento da atividade econômica torna mais difícil o processo de convergência da inflação à meta.
O alvo perseguido pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Na análise da equipe macroeconômica do Itaú, a ata do comitê “deixou clara a mensagem de coesão entre os membros em relação ao início gradual do ciclo de aperto e outros aspectos do cenário” e que a meta de inflação em 3% será integralmente perseguida, “indicando que não há inclinação para utilizar as bandas de tolerância”.
Redação / Folhapress