RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Servidores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) protestaram na manhã desta quinta-feira (26), no Rio de Janeiro, contra a gestão do presidente do órgão, o economista Marcio Pochmann.
A Assibge, entidade sindical que representa os funcionários do instituto, convocou o ato em resposta ao que chamou de “medidas autoritárias” de Pochmann, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A crise interna do IBGE ficou explícita nos últimos dias, após servidores reclamarem de falta de diálogo com a gestão do economista. A presidência do instituto, por sua vez, disse que as acusações de autoritarismo são “infundadas”.
O ato desta quinta reuniu lideranças sindicais e técnicos em frente à sede do IBGE, na avenida Franklin Roosevelt, no centro do Rio. Pochmann está em viagem. A assessoria dele não detalhou os compromissos.
A agenda semanal divulgada pelo IBGE cita, por exemplo, encontros da presidência no NBS, o escritório de estatísticas chinês, de quarta (25) a sexta (27).
No ano passado, Pochmann elogiou a elaboração de dados no Oriente, citando a China, o que despertou críticas de analistas que veem falta de transparência do país asiático na área.
Em entrevista à Folha em abril, o economista disse que a gestão do IBGE não tinha “instituição de preferência”. “A China tem coisas interessantes, vamos acompanhando, como tem também nos Estados Unidos, no México, em Portugal, na Colômbia”, afirmou na ocasião.
Uma das medidas associadas a Pochmann que desagradaram os servidores do IBGE foi a criação de uma fundação pública de direito privado, a IBGE+. Há quem considere a nova organização uma espécie de “IBGE paralelo”.
Ainda há dúvidas sobre as tarefas que podem ser desenvolvidas pela nova fundação. O estatuto da IBGE+ prevê, por exemplo, a possibilidade de parcerias, acordos, contratos e convênios com órgãos públicos ou privados, nacionais ou estrangeiros.
A Assibge diz temer a possibilidade de arrecadação junto ao setor privado no futuro. Ao defender o projeto, a gestão Pochmann citou as atuais restrições de verba que atingem o IBGE.
De acordo com a presidência, o instituto tem mais de 90% do orçamento comprometido com folha salarial e benefícios e gasta menos de 5% diretamente em suas pesquisas.
“A Fundação IBGE+ permitirá o recebimento de recursos para atender a pesquisas ou projetos desenvolvidos com ministérios, bancos públicos e autarquias, antes impossível devido a dependência de ‘orçamento'”, disse a presidência nesta semana.
O sindicato também reclamou da forma como foram anunciadas mudanças no regime de trabalho do IBGE e da possível transferência de funcionários para um prédio do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) no Horto, zona sul do Rio. O endereço é considerado de difícil acesso via transporte público.
A gestão Pochmann declarou que busca diminuir os custos de aluguel do IBGE. Também defende o retorno a jornadas presenciais pelo menos dois dias da semana.
As críticas da Assibge ao economista se somaram a recentes cartas de técnicos de pelo menos duas diretorias da casa (Pesquisas e Geociências). Nos textos, os pesquisadores se queixaram de falta de consulta nos processos decisórios.
O IBGE é o principal órgão de estatísticas do Brasil. Produz levantamentos como o Censo Demográfico, que pode subsidiar políticas públicas, além de indicadores de importância na área econômica, incluindo índices de inflação, taxa de desemprego e PIB (Produto Interno Bruto).
Nesta quinta, a presidência do IBGE publicou o terceiro comunicado nesta semana para rebater acusações. A nota está disponível no site da agência de notícias do instituto. Entre outros pontos, o texto diz que “diálogo não pode ser com exigências prévias”.
“A atual gestão do IBGE sempre se manteve aberta ao diálogo. Infelizmente, a Assibge rompeu o diálogo ao não aceitar reunir-se com a direção por duas vezes, não obstante o convite da direção do IBGE. E convite da direção sempre foi com pauta aberta, mesmo quando o tema era específico”, afirma.
LEONARDO VIECELI / Folhapress