Grupo francês arremata Rota dos Cristais e escanteia gigantes do mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Vinci Highways, empresa do grupo francês Vinci, arrematou nesta quinta-feira (26) o trecho da BR-040 que liga Belo Horizonte a Cristalina (GO), conhecido como Rota dos Cristais. A companhia ofereceu desconto de 14,32% sobre a tarifa básica de pedágio e levou a concessão, que tem prazo de 30 anos.

O grupo amplia, agora, seu portfólio de concessões no Sudeste. Na região, a Vinci Highways finalizou em maio do ano passado a aquisição de 55% de participação na Entrevias, concessionária responsável por 570 km de rodovias em São Paulo.

Por meio da Vinci Airports, o grupo também administra sete aeroportos no Norte –entre eles os terminais de Manaus, Porto Velho e Boa Vista– e o aeroporto de Salvador, no Nordeste.

O leilão consolidou a participação de fundos de investimentos em certames de rodovias. A 4UM, por exemplo, havia feito sua estreia no setor em agosto, quando arrematou a BR-381 –conhecida como Rodovia da Morte, por causa do alto índice de acidentes.

Desta vez, a administradora fez a proposta em consórcio com a Opportunity, que foi rival da 4UM no último leilão. O consórcio, chamado de Nova BR, ofereceu o segundo maior desconto de tarifa, de 9,09%, mas não conseguiu superar o valor proposto pela Vinci.

Em agosto, a 4UM concluiu a estruturação de um fundo de investimento em participações, o “4UM FIP-IE I”, para atuar nos leilões de rodovias. Entre os cotistas do fundo, estão as famílias Malucelli, Salazar, Federmann e Backheuser, acionistas das empresas MLC, Aterpa, Senpar e Carioca Engenharia.

Já a gestora Opportunity foi fundada em 1994 pelos irmãos Daniel Dantas e Veronica Dantas, que já atuaram no Banco Icatu, e Dorio Ferman, que está no segmento de gestão de fundos de investimentos desde a década de 80. Em seu site, a administradora lista atividades como assessoria de gestão de patrimônio e investimentos imobiliários, além da gestão de fundos.

A Opportunity também detém cerca de 10% das ações do Grupo Equatorial, que se tornou acionista de referência da companhia de saneamento de São Paulo, a Sabesp, privatizada recentemente.

O banco BTG também concorreu por meio de um fundo de investimentos, o BTG Pactual Infraestrutura III. O desconto oferecido pelo fundo foi de 7,50%.

Já a CCR, empresa mais consolidada do setor, possui no segmento rodoviário 11 concessionárias, que administram 3.615 km de estradas distribuídas em cinco estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul). No leilão desta quinta, o grupo teve o menor desconto proposto, de 1,75%.

Leiloada nesta quinta, a Rota dos Cristais recebe esse nome por causa de Cristalina, também conhecida como cidade dos cristais. Segundo a prefeitura do município, bandeirantes encontraram cristais de rocha no local, em 1797. Por um tempo, a economia da cidade ficou voltada à exploração de cristais, mas hoje é fortemente dependente do setor agrícola e tem destaque na produção de grãos, além de abrigar um polo de produção de alimentos, com indústrias de marcas como Fugini e Bonduelle.

O mercado já previa a participação de quatro proponentes, número indicado pelo setor como satisfatório. Nos últimos anos, os leilões de ativos de infraestrutura vinham amargando baixo número de concorrentes.

Há uma década, licitações tinham quase uma dezena de interessados. No entanto, é necessário levar em consideração que o setor foi afetado pela Operação Lava Jato na última década, diz Marco Aurélio Barcelos, presidente da ABCR (associação que representa concessionárias como EPR, EcoRodovias e CCR).

Para tentar tornar os certames mais atrativos, o governo Lula adotou uma nova modelagem de leilão, na qual os interessados dão lances de desconto em relação à tarifa básica de pedágio. Se o corte na tarifa proposto for maior do que 18%, a concessionária terá de fazer um depósito financeiro, que garante o cumprimento das obras previstas na concessão. O montante a ser depositado depende do tamanho do desconto oferecido.

“Nós temos contratos mais modernos e que permitem solução dos conflitos que verificamos no passado”, disse o ministro dos Transportes, Renan Filho, durante o leilão desta quinta.

Paulo Henrique Dantas, advogado especializado em infraestrutura e direito administrativo, diz que o interesse da Vinci pela BR-040 aponta maturidade jurídica dos novos projetos de rodovias. “A Vinci consolida sua posição no setor de rodovias, assim como já tinha feito nos aeroportos. É um movimento muito importante e demonstra que mais um grupo europeu está apostando em contratos de longo prazo no país.”

Além da Rota dos Cristas e da BR-381, concedida em agosto deste ano, o governo já fez outros três leilões seguindo esse modelo. O primeiro deles, em agosto do ano passado, concedeu 473 km de rodovias no Paraná para o Infraestrutura Brasil Holding XXI, consórcio controlado pelo grupo Pátria, outra gestora de investimentos. No mês seguinte, um consórcio entre as companhias EPR e Perfin Voyager arrematou outros 605 km de estradas paranaenses.

E, em abril deste ano, o trecho da BR-040 que liga Belo Horizonte a Juiz de Fora (MG) foi concedido para o Consórcio Infraestrutura MG, parte do grupo EPR, marcando a primeira vez que uma rodovia da lista dos chamados “contratos problemáticos” —que estão em processo de devolução à União— foi relicitada.

PAULO RICARDO MARTINS / Folhapress

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