STF firma acordo sobre conflito de terra em MS onde indígena foi morto com tiro na cabeça

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O STF (Supremo Tribunal Federal) concluiu nesta quarta-feira (25) um processo de conciliação para solucionar o conflito fundiário envolvendo a demarcação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, da etnia guarani kaiowá, em Mato Grosso do Sul.

O acordo prevê o pagamento de cerca de R$ 145 milhões aos proprietários e fixa 15 dias para que os fazendeiros deixem as terras.

Após esse prazo, a população indígenas poderá voltar às terras de forma pacífica. Pelo que ficou acordado, todos os processos em tramitação no Judiciário que discutem os litígios envolvendo o conflito da demarcação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu ficam extintos, sem resolução de mérito.

A medida abre um precedente para que outros conflitos sejam solucionados com indenizações.

Um decreto presidencial de 2005 declarou a área de posse permanente indígena, mas um grupo de pecuaristas e agricultores questionou o ato no Supremo e pediu a anulação do processo. O ministro aposentado Nelson Jobim concedeu uma liminar suspendendo os efeitos do ato do Executivo.

O processo de demarcação estava travado no STF desde então, e a área se tornou palco de uma série de conflitos e episódios de violência.

O mais recente deles foi o assassinato do jovem guarani Neri da Silva, que levou um tiro na cabeça de um agente da Polícia Militar que atuava na região. Fazendeiros haviam atacado o grupo de indígenas que reivindicava a área.

Diante do caso, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, se reuniu com o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, relator do processo. A solução por meio de indenizações é algo defendido pelo ministro, inclusive dentro do processo de conciliação do marco temporal.

Após o encontro, foi elaborado o acordo publicado nesta quinta.

A disputa envolve 9.300 hectares de terras em Antônio João, área de fronteira com o Paraguai. Parte do imóvel teria sido destinada pela prefeitura local para a criação do Distrito de Paz do Campestre.

A pedido dos indígenas, foi autorizada ainda uma cerimônia religiosa e cultural no local de morte de Neri O ato, no próximo sábado (28), deve ter a presença de 300 pessoas da comunidade, além da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e da Força Nacional

“As partes se comprometem a suspender imediatamente os atos de hostilidade. A Polícia Militar do Estado do Mato Grosso do Sul manterá o policiamento ostensivo apenas na área da Fazenda Barra e na estrada até a rodovia, utilizando o uso proporcional da força quando estritamente necessário”, diz a ata da audiência.

Pelo que ficou acertado, a União pagará R$ 27,8 milhões a título das benfeitorias apontadas em avaliação feita pela Funai em 2005, corrigidas pela inflação e a taxa Selic. São 12 fazendas a serem indenizadas. O valor será viabilizado por meio de crédito suplementar.

A indenização paga pela União totalizará R$ 101 milhões pela terra nua. O Estado de Mato Grosso do Sul deverá ainda efetuar, em depósito judicial, o montante de R$ 16 milhões, também a serem pagos aos proprietários.

Houve discordância entre as partes acerca do pagamento sobre terras nuas –áreas onde não houve qualquer investimento ou benfeitoria.

A indenização sobre essas áreas é questionada, uma vez que elas não seriam produtivas nem gerariam renda aos proprietários, de forma que não haveria motivo para qualquer compensação.

A União manifestou essa discordância no acordo, mas mesmo assim aceitou realizar essa indenização para encerrar o processo de conciliação.

ANA POMPEU E JOÃO GABRIEL / Folhapress

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