Não existe juro baixo sem harmonia com a política fiscal, diz Campos Neto

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (27) que, historicamente, para o Brasil conviver com juros mais baixos é necessário um choque positivo nas contas públicas.

Campos Neto, porém, observa que o país está tendo dificuldade para estabilizar a dívida pública. Ele argumentou que a meta do Ministério da Fazenda para o resultado primário, de zerar o déficit fiscal neste e no próximo ano, está distante das expectativas dos analistas de mercado.

Muitos economistas estão enxergando melhora na dinâmica fiscal, acreditando que o governo pode conseguir entregar um resultado próximo da meta em 2024. Para o ano que vem, porém, as projeções são mais pessimistas.

“Em todos os momentos na história recente brasileira, você ser capaz de cair os juros e conviver com os juros mais baixos está associado a um choque positivo no fiscal. Não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal. Isso é importante”, disse Campos Neto durante o 1618 Spring Investment Meeting, em São Paulo.

“Essa história de achar que eu vou fazer um monetário [juros] um pouco mais apertado e o fiscal um pouco mais frouxo acaba gerando uma ineficiência que atrapalha o canal da política monetária, e que faz com que a gente tenha que conviver com juros mais altos”, afirmou em outro momento.

Campos Neto lembrou que isso não é particular ao Brasil, dizendo que o tema fiscal tem sido discutido cada vez mais nas reuniões dos bancos centrais do mundo.

“Acho que está caindo a ficha, globalmente falando, que a dívida global é muito alta, que a dívida americana é muito alta. A gente teve uma conta enorme para pagar na pandemia, mas em algum momento a gente precisa pagar essa conta.”

O presidente do BC brasileiro observa que, apesar de a dívida mundial estar muito grande, quase nenhum país está falando de ajuste fiscal, o que traz preocupações para o futuro.

Sobre a dinâmica da inflação no Brasil, Campos Neto disse que, no dado geral, houve uma melhora, mas ainda há alguns componentes de incerteza, como a seca no Brasil e o risco que isso traz para os preços de energia e alimentos.

Ele também citou o crescimento econômico do país, com o PIB (Produto Interno Bruto) surpreendendo para cima trimestre a trimestre, e o mercado de trabalho aquecido, campo em que não há nenhuma evidência de virada. Esse fator eleva as expectativas de consumo de serviços, com possível pressão inflacionária à frente.

Campos Neto também comentou sobre a autonomia operacional do Banco Central aprovada em 2021. O atual presidente da autarquia disse que esse modelo de independência da autoridade monetária foi desenhada pelo avô dele, que pensou em um tripé de autonomia operacional, financeira e administrativa.

Segundo Campos Neto, o argumento de seu avô é que, sem alguma dessas autonomias, as outras também estão em risco.

“Eu acho importante a gente avançar nessa autonomia, porque um governo sempre pode asfixiar a autonomia operacional através do financeiro e do administrativo”, defendeu. Ele citou estudos que mostram que, para banqueiros centrais, a autonomia financeira, que está em discussão no Congresso, é até mais importante do que a operacional.

STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress

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