SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos mapas que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostrou em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta sexta-feira (27) já tinha aparecido no seu pronunciamento na edição passada do evento.
A única mudança entre uma imagem e outra era o seu título: enquanto naquela exibida em 2023 lia-se “The New Middle East”, o novo Oriente Médio, o título desta era “The Blessing”, a benção.
As duas ilustrações fazem referência a tentativa de Israel de estabelecer relações diplomáticas com a Arábia Saudita. As imagens, que omitem os territórios palestinos, mostram Israel colorido de azul e seus vizinhos árabes, de verde. Com exceção de Riad, todos os países pintados de verde têm laços com Tel Aviv, vários deles devido aos chamados Acordos de Abraão, mediados por Donald Trump na época em que era presidente dos Estados Unidos.
Um dos maiores objetivos da política externa do Estado judeu há anos, a assinatura do tratado entre Israel e Arábia Saudita foi descrita por Netanyahu como iminente na Assembleia-Geral passada. Do lado dos sauditas, o plano era atrativo porque tinha o potencial de assegurar a eles um robusto pacto de segurança com os americanos.
Um dos maiores entraves ao acordo por parte de Riad era, porém, que Tel Aviv reconhecesse os direitos dos palestinos. Quando estourou a guerra Israel-Hamas, desse modo, as negociações foram paralisadas alguns analistas sugerem inclusive que o objetivo do grupo terrorista ao conduzir o mega-ataque de 7 de outubro tinha como objetivo impedir o acordo, já que ele provavelmente enfraqueceria a luta pela criação de um Estado palestino.
A improbabilidade da assinatura do tratado a essa altura não parece ter feito Netanyahu perder as esperanças. Na sede da ONU em Nova York, ele declarou que o plano permitiria a criação de uma “ponte terrestre que conecta a Ásia à Europa”, acrescentando que por meio dela seriam instaladas “linhas ferroviárias, gasodutos, cabos de fibra óptica”.
Bibi, como o premiê é conhecido, contrapôs essa imagem intitulada “The Blessing” a um outro mapa, “The Curse”, a maldição. Nele, estão pintados de preto o Irã e territórios em que há grupos apoiados por ele Síria, Iraque, Iêmen e Líbano. O último vem sendo alvo de bombardeios cada vez mais destrutivos desde o início desta semana por parte de Israel.
Netanyahu afirmou que a imagem “da maldição” mostrava “o arco de terror que o Irã criou e impôs do Oceano Índico ao Mediterrâneo”. Teerã, ele prosseguiu, “bloqueou rotas de navegação internacionais, impediu o comércio, destruiu nações por dentro e causou sofrimento a milhões de pessoas”.
Bibi referia-se à atuação dos rebeldes iemenitas houthis. Seus ataques contra navios no mar Vermelho que consideram ser ligados a Tel Aviv causaram enormes prejuízos para o comércio internacional e dificultaram o tráfego marinho pela área.
O grupo é, aliás, mencionado diretamente no mapa, diferentemente do grupo que é alvo de Israel no Líbano, o Hezbollah. Quiçá porque o governo oficial do Iêmen, contra os quais os houthis lutam desde 2014, é apoiado pela Arábia Saudita.
CLARA BALBI / Folhapress