‘Rio de Janeiro não é bagunça’, diz delegado investigado no caso Marielle

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O delegado Giniton Lages, investigado sob suspeita de ter atrapalhado o esclarecimento da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), afirmou que todo o seu trabalho foi monitorado pelo Ministério Público, negou ter obstruído a conclusão do inquérito e disse que o “Rio de Janeiro não é bagunça”.

Em audiência virtual ao STF (Supremo Tribunal Federal), ele criticou a delação do ex-PM Ronnie Lessa e os depoimentos do miliciano Orlando Curicica que apontam que haveria um “balcão de negócio” na Delegacia de Homicídios (DH) da capital.

“Aqui no Rio de Janeiro não é bagunça. Aqui tem Ministério Público atuante, ouvidoria atuante, corregedoria atuante, imprensa atuante”, disse ele.

Giniton depôs como testemunha de defesa do delegado Rivaldo Barbosa, acusado de ter ajudado no planejamento do crime a pedido de Domingos e Chiquinho Brazão, apontados como mandantes. Ele também é investigado por supostamente ter adotado linhas de investigação a fim de desviar da resolução do homicídio.

O delegado criticou o fato de a Polícia Federal ter apontado como indício de corrupção na DH a falta de resolução de crimes que envolvam a guerra da contravenção na cidade. Giniton apontou o excesso de inquéritos na delegacia, bem como a dificuldade em obter provas para indiciar assassinos profissionais.

“Em dezembro de 2017, dois meses antes da [morte de] Marielle, a delegacia registrou 1.845 homicídios. A DH existe desde 2010. Eu tenho passivo de 10, 11, 12, 13, 14, 15, [16] e 17. Quando eu cheguei na DH, eu herdei tudo isso. E os sete [casos] do escritório do crime. É nesse cenário que a gente tem que discutir a resposta da contravenção”, disse Giniton.

“A realidade tem que ser dita aqui. Não é Netflix. Não é Globoplay. É polícia. É a realidade brasileira. Nós somos um país muito violento. Só que são muitos os crimes. E pouca energia. Olha a carga [com] que um delegado de homicídio e sua equipe trabalha.”

Giniton também criticou o peso dado, segundo ele, aos depoimento de criminosos na investigação da PF sobre o caso, no qual foi indiciado.

“A gente não pode permitir que um Orlando Curicica module a nossa capacidade intelectual”, afirmou.

“Os senhores não fazem ideia quem é Ronnie Lessa. Vocês não fazem ideia. E hoje ele está preso”, acrescentou.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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