SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O banimento dos celulares no ambiente escolar não impede que os aparelhos sejam utilizados para fins pedagógicos. Em escolas brasileiras e de outros países que já aderiram à proibição, há a liberação do uso, ocasional e supervisionado pelos professores, quando os smartphones são considerados úteis para o aprendizado.
O debate sobre esse tema ganhou força no Brasil na semana passada, quando a Folha de S.Paulo revelou que o governo federal prepara um projeto de lei para banir celulares nas escolas públicas e privadas, tanto nas salas de aula quanto nos recreios, com o objetivo de reduzir os prejuízos causados pelos smartphones ao aprendizado e à saúde mental.
Não há detalhes sobre esse projeto de lei, mas o banimento do celular costuma prever o uso pedagógico como uma exceção ao veto, sempre com a autorização do professor.
É assim, por exemplo, na França, considerada um modelo na proibição dos celulares nas escolas -desde 2018, no país, o uso do aparelho é proibido no ambiente escolar.
No Brasil, a Prefeitura do Rio de Janeiro foi pioneira na proibição, que começou no início deste ano, e o decreto do banimento prevê que os celulares podem ser usados como ferramenta. “Acreditamos que a tecnologia pode ser uma aliada, desde que utilizada com muito critério, e não da forma indiscriminada como acontece quando os celulares são liberados”, diz Renan Ferreirinha, secretário municipal de educação.
O professor é que deve ter o discernimento para entender quando os smartphones podem ser interessantes e a autoridade para liberá-lo, defende Ferreirinha.
Ele conta que os professores utilizam, com os alunos, aplicativos de quiz (testes de perguntas e respostas), como o Kahoot, de matemática, como o GeoGebra (atividades de geometria e álgebra), e o Scratch, para aprender programação digital, entre outros.
Além disso, os estudantes usam o celular para gravar e editar vídeos ou entrevistas em áudio, além do aplicativo Canvas para trabalhos que envolvem design gráfico. “Mas é preciso sempre ter a supervisão do professor, para evitar a distração. Toda vez que um aluno recebe uma notificação de rede social, é como se ele saísse da sala de aula.”
Ele diz que, preferencialmente, devem ser usados computadores, e não celulares -as telas são maiores, mais adequadas para o estudo e é mais fácil controlar o uso.
Além disso, os smartphones para uso pedagógico deveriam ser, idealmente, aparelhos das próprias escolas, para que houvesse controle do conteúdo acessado. “Mas, em razão do custo, isso ainda não é realidade no país. Então os celulares dos alunos são eventualmente usados. Quando um aluno não tem celular, ele utiliza com um colega.”
Na Castanheiras, escola particular de Santana do Paranaíba (Grande SP) que proibiu os celulares no início deste ano e lidera um movimento pró-banimento, acontece um uso pedagógico eventual dos aparelhos, sob supervisão dos professores.
Os alunos utilizam os smartphones para fazer algumas pesquisas rápidas e acessar calculadora, máquina fotográfica ou Google Maps, por exemplo.
CELULAR DA ESCOLA
O projeto de lei que determina o banimento do celular em escolas públicas e privadas do estado de São Paulo também prevê a liberação para uso pedagógico.
Autora do projeto, a deputada Marina Helou (Rede) concorda que os aparelhos utilizados eventualmente nas aulas deveriam ser das próprias escolas.
“É inconcebível depender do celular do aluno. A escola precisa disponibilizar o aparelho, principalmente quando estamos falando de escolas públicas, para não criar desigualdades entre as oportunidades de aprendizagem.”
Na opinião do fundador de um dos maiores grupos de sistemas digitais de ensino do país, a Arco Educação, dona de plataformas como SAS, COC, Positivo e Geekie, deve-se dar preferência ao uso do computador nas escolas, em vez do celular. “Eu, pessoalmente, acho que o aluno deveria usar a tecnologia da educação só no computador, não no celular”, afirma Ari de Sá Cavalcante Neto, CEO do grupo, que está presente em cerca de 10 mil escolas particulares do país.
“Os smartphones trazem distrações como as redes sociais e outras, bem perigosas. Os computadores possibilitam filtros e limitações de uso, é um ambiente mais controlado.” Apesar disso, as plataformas da Arco funcionam no celular e, por ora, segundo Cavalcante Neto, não há plano de mudar isso.
Sandro Bonás, CEO da Conexia Educação, empresa do grupo SEB que desenvolve sistemas educacionais digitais para 400 escolas, também defende que os dispositivos eletrônicos utilizados por estudantes sejam controlados. “Há softwares com os quais definimos quanto tempo o smartphone vai ficar ligado, quais aplicativos vão estar disponíveis, e é possível bloquear o que gera distrações. Você passa a ter um celular realmente utilizado como recurso pedagógico.”
Na Alef Peretz, escola particular de São Paulo que baniu os celulares no início deste ano -adotou, para cada aluno, uma pochete que tranca os smartphones com trava magnética-, a opção foi por utilizar apenas os computadores para fins pedagógicos.
LAURA MATTOS / Folhapress