SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes (MDB), Ricardo Mello Araújo (PL) afirmou em entrevista à Folha que só tomou uma dose da vacina contra a Covid-19 e que seus filhos não foram vacinados. “A gente optou em casa por não vacinar.” Ele defendeu as ações de Jair Bolsonaro (PL) na pandemia.
“Eu tomei uma [dose da] vacina. Meus filhos não vacinaram. Eu perdi meu tio, [com] quatro vacinas, meu pai desenvolveu uma doença grave, e o médico falou que foi por isso. A gente optou em casa por não vacinar. […] Eu sou a favor, a vacina é importante, eu tenho todas as vacinas. Só que, em uma pandemia, vem uma vacina que foi feita às pressas. Você acha que ela é segura, eu não acho segura”, disse ele, pai de dois jovens (um deles acaba de ingressar na Academia do Barro Branco da PM).
Mello Araújo, que é coronel da reserva da Polícia Militar, emulou o discurso de Bolsonaro ao ser questionado se a postura negacionista do ex-presidente foi um dos motivos pelos quais ele perdeu a eleição de 2022.
“O que precisa é disponibilizar a vacina. Isso foi feito. Não faltou vacina para ninguém. Agora, manter o povo informado do que está acontecendo é importante. Você mentiria para seu povo só para ganhar uma eleição?”, disse.
Na tentativa de conquistar o eleitor da direita conservadora, Nunes mudou de opinião e também passou a afirmar ser contra a obrigatoriedade da vacina, algo que implementou como prefeito e que, junto com o isolamento social, é o método defendido até hoje por ex-secretários de Saúde da época.
Parte da campanha do MDB não gostou da declaração, e foi necessário um ajuste de rota -Nunes passou a reforçar que não é contra a vacina. O mote “São Paulo capital da vacina”, inclusive, é uma das vitrines do prefeito, na opinião de aliados que discordam da bolsonarização de Nunes.
Questionado sobre o que faria em relação à vacinação em meio a uma pandemia na posição de vice-prefeito, Mello Araújo respondeu que “quando não concordar em alguma coisa com o prefeito, a gente vai conversar para chegar a um denominador comum”.
“O importante é ter a consciência tranquila. Por que eu não vacinei meu filho? Porque eu não achei que deveria. Você acha que seria justo, se eu não acredito, eu convencer você a vacinar teu filho?”, questionou.
O candidato a vice, então, foi questionado se essa atitude não iria desincentivar a vacinação, medida que salvou vidas na pandemia. “Eu tomei todas as vacinas. A gente está falando de um caso específico, a vacina que surgiu da pandemia, não é uma vacina consagrada”, completou.
Bolsonaro sempre minimizou os impactos da pandemia. Como presidente, propagou discurso negacionista e usou palavras histeria e fantasia para classificar a reação da população e da imprensa ao vírus.
O ex-presidente também distribuiu remédios ineficazes contra a doença, incentivou aglomerações, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informações falsas sobre a Covid-19 e fez campanhas de desobediência a medidas de proteção, como o uso de máscaras.
Na entrevista, Mello Araújo repetiu uma fala comum entre bolsonaristas, de que o então presidente tinha “informações privilegiadas” que em tese desacreditariam a vacina. “Ele tem muito mais informações que chegam de outros países, de especialistas. Ele não falou ‘não toma ou toma’. Ele falou: ‘é isso que nós temos’. Cada um acertou e errou.”
Apesar das evidências científicas apontarem o contrário, Mello Araújo afirmou haver estudos que comprovam o fracasso das máscaras e do isolamento social e colocou em dúvida a segurança da vacina. “Tem dois lados”, declarou.
CAROLINA LINHARES E VICTÓRIA CÓCOLO / Folhapress