Ana Sátila lida com ‘ressaca’ e descobre redes sociais por Los Angeles-2028

MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – Ana Sátila entendeu uma porção de coisas após os Jogos de Paris, a começar pela gravidade da lesão em seu ombro -que se recusava a averiguar. Entendeu também que precisa dar até mais tempo à mente do que propriamente ao corpo após dois ciclos olímpicos bem atípicos. As redes sociais -que, admite, podem ser úteis- ainda tenta compreender.

Por ora, ela quer descansar. A canoísta de 28 anos já voltou a treinar no Rio de Janeiro, mas apenas uma vez por dia, não as habituais três, e praticamente sem entrar no barco. Na tentativa de iniciar de maneira leve o caminho até Los Angeles-2028, descartou voltar a competir neste ano e abriu mão dos torneios restantes na temporada.

“É uma ressaca que você sente”, afirmou à Folha de S.Paulo a mineira, usando um substantivo que repetiria diversas vezes o longo da entrevista. “É como se você estivesse constantemente cansado, você não quer treinar. Você quer fazer qualquer outra coisa, tem energia para fazer outra coisa, mas não para o treino em si, porque se tornou uma rotina muito exaustiva.”

Exaustivo também foi o trabalho da atleta em Paris. Ela participou de três categorias da canoagem slalom, com 15 provas disputadas, entre etapas classificatórias e finais, em dez dias. Tornou-se uma brincadeira entre os espectadores brasileiros dos Jogos apontar que bastava ligar a televisão para ver Ana Sátila em ação -o que lhe rendeu férias patrocinadas por uma marca de cerveja.

A brasileira se esforçou, com remédios para a dor no ombro, e obteve resultados relevantes, mas não alcançou a medalha que tanto buscava. Sua melhor classificação foi na modalidade K1 (caiaque individual), fora do pódio por uma posição. “Foi um resultado histórico, sim, mas, de início, terminar com o quarto lugar é muito pesado.”

O jeito é mirar a próxima edição dos Jogos, que, espera, terá um ciclo de preparação mais convencional do que os anteriores. O caminho para Tóquio-2020 foi marcado pela pandemia de Covid-19, com todas as suas consequências, entre elas o adiamento da disputa para 2021. Justamente por isso, o trajeto até Paris teve apenas três anos.

“Foram dois ciclos muito pesados. Eu praticamente não tive férias, assim como vários outros atletas que eu conheço, porque era um período menor e a gente queria chegar bem preparado. Percebo hoje que houve uma exaustão incomum dos atletas, sabe? E lógico que, competindo em três categorias, isso dificultou ainda mais para mim”, disse.

Ana tem quatro Olimpíadas no currículo, a primeira delas em Londres, aos 16 anos. E já compreendeu bem o que chama de “ressaca olímpica”, algo que vai além do estado mental e físico. Tem a ver também com os patrocinadores, que costumam sumir após o megaevento esportivo e reaparecer só quando o próximo se avizinha.

A mineira desconfia que possa minimizar esse fenômeno por meio das redes sociais, embora não seja uma usuária das mais ativas. Ela se surpreendeu com a repercussão de sua participação nos Jogos de Paris, especialmente no Instagram –hoje tem 232 mil seguidores–, e espera tirar proveito disso.

“Eu nunca fui acostumada com rede social, mas Paris me mostrou que é importante até mesmo para a minha modalidade. Veja quanto a canoagem ficou em evidência. Confesso que foi um choque. Estava sem celular durante os Jogos, sem Instagram. Foi quando terminou que eu percebi, e só entendi mesmo quando voltei ao Brasil”, afirmou.

“Antes, as pessoas às vezes me reconheciam em um aeroporto, no shopping, ‘ah, você é atleta’ e tal. Só que, neste retorno, elas me chamavam pelo nome. Todo o mundo me conhecia pelo que eu fiz, sabe, e isso é muito bacana. Tenho que continuar mostrando para as pessoas a vida de um atleta, o que é remar todos os dias, quão difícil é nossa preparação”, acrescentou.

Sátila se surpreendeu particularmente quando gostou de “um conjuntinho” que viu na internet e mandou mensagem demonstrando interesse: a lojista disse que já estava o enviando, sem cobrança. A atleta sorriu, na esperança de que sua popularidade virtual lhe renda mais: “O que realmente vai ajudar os atletas é um patrocínio constante”.

JOSUÉ SEIXAS / Folhapress

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