SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O debate entre candidatos a prefeito de São Paulo promovido neste sábado (28) pela TV Record começou com Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) na berlinda, e um Pablo Marçal (PRTB) menos arisco do que seu usual.
Nunes teve sua gestão atacada pelos principais rivais, e Boulos chegou a entrar na mira até mesmo de Tabata Amaral (PSB), que cobrou incoerências em seu discurso ao lembrar de posturas prévias a favor da descriminalização das drogas e escorregadia para rotular a Venezuela como uma ditadura.
Líderes nas principais pesquisas de intenção de voto, Nunes e Boulos também travaram confrontos diretos com troca de ataques entre si.
Este é o nono dos 11 debates previstos antes do primeiro turno, um recorde na história da cidade. Havia expectativa se a belicosidade de confrontos anteriores persistiria –além do pugilato verbal, vimos nesta temporada eleitoral a cadeirada que Datena deu em Marçal e o soco que um assessor do influenciador desferiu no marqueteiro de Nunes.
Os primeiros dois blocos tiveram troca azeda entre concorrentes, como o embate de Marçal com o prefeito, mas por enquanto sem o mesmo tom de ataques pessoais pesados vistos em encontros anteriores.
Marçal estava mais contido, o que não impediu que fosse punido ao tentar emplacar o apelido “Boules”, uma troça com a linguagem neutra aplicada no Hino Nacional durante um ato do adversário. Ele usou a alcunha, pediu perdão em seguida, mas o âncora Eduardo Ribeiro disse que deveria ser duro e o puniu com a perda de 30 segundos de seu tempo nas considerações finais.
Os candidatos voltaram a isolar o influenciador, ignorando suas provocações, e evitaram dirigir perguntas a ele.
Marçal cobrou que o atual prefeito explicasse o inquérito na Polícia Federal conhecido como máfia das creches, visto como um calcanhar-de-Aquiles na campanha do emedebista.
“Não quero ser injusto com você, como eu estou acompanhando [o caso] bem próximo, mas existe lá pagamento no seu nome, no nome de familiares. E queria que você desse uma explicação”, disse o candidato do PRTB.
A PF investiga o prefeito sob suspeita de lavagem de dinheiro no suposto malfeito –Nunes nega qualquer irregularidade.
Na réplica, o prefeito citou o passado do influenciador com a Justiça. “Olha, Pablo Henrique, quem fugiu da polícia foi você. Fugiu pela sua condição de ter integrado uma das maiores quadrilhas desse país para poder roubar dinheiro de pessoas humildes pela internet. Você tem esse hábito, está bem conhecido por ser um mentiroso contumaz.”
Boulos e Datena retomaram a dobradinha de debates anteriores e fizeram ataques à gestão de Nunes. Já Nunes e Boulos fizeram declarações de olho no eleitorado feminino. Boulos relatou encontro com uma sem-teto que afirmou ter o sonho de ter um absorvente limpo e poder tomar banho todos os dias. O prefeito disse que iria fazer pergunta à candidata Marina em homenagem às mulheres.
Tabata, na disputa pelos votos da esquerda, questionou Boulos sobre vaivéns em temas polêmicos. “Você abriu mão de posicionamentos históricos. Você dizia que era a favor da descriminalização das drogas, agora é contra. Nessa semana, você mudou de posição em relação à Venezuela, e diz que é uma ditadura. Mas o partido mantém as mesmas posturas.”
O segundo bloco, com perguntas feitas por jornalistas, continuou de forma dura, mas bem inferior à animosidade de confrontos passados.
Começou com Nunes se esquivando de responder se Jair Bolsonaro (PL), que já indicou o coronel Ricardo de Mello Araújo para vice de sua chapa, terá influência também sobre seu secretariado, caso vença.
O prefeito, em vez de responder, elogiou Mello Araújo. Boulos, escolhido para comentar a resposta de Nunes, aproveitou para relembrar que o vice de Nunes já defendeu a diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de São Paulo) e na periferia.
O emedebista acusou o rival de normalizar a “rachadinha” ao citar suspeitas dessa prática envolvendo o deputado federal André Janones (Avante/MG). Deputado federal, Boulos votou contra a cassação de Janones após acusações de uso de verba pública de seu gabinete.
Marçal associou Boulos (número 50, do PSOL) ao 13, do PT, uma possível tentativa de confundir o eleitor. “Independente em quem você vai votar, se você vai votar no 13 do PT, às vezes se é PT roxo”, disse antes de propor o “desafio” de votar nele. “Olha pra mim ali e segue seu coração.”
Mais adiante, o psolista reforçou o número correto de sua candidatura.
Marçal também pediu que o psolista fosse punido por ter deixado seu espaço atrás do púlpito. Em vão. O mediador esclareceu que o psolista deu dois passos para o lado para lhe um direito de resposta, o que valeu um puxão de orelha, mas não foi visto como algo grave.
Boulos também foi advertido após fazer o gesto de “não” com a mão durante resposta de Nunes sobre política de moradia na cidade.
As emissoras vêm enrijecendo as regras dos debates, com promessas de advertências e expulsão do candidato que as descumprir –Marçal foi eliminado no último minuto do debate da Flow, e daí se seguiu a agressão de seu aliado Nahuel Medina contra Duda Lima, marqueteiro de Nunes.
Os oponentes foram revistados por equipes de segurança com detectores de metais antes de entrar no estúdio. Por precaução, a Record também substituiu copos de vidro por modelos de acrílico.
O mediador abriu o debate alertando que assessores presentes não poderiam usar celulares para fotografar ou filmar o debate. Também vetou “apelidos, palavrões, gestos desrespeitosos ou que roubem atenção do adversário”.
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, ARTHUR GUIMARÃES, ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA, MANOELLA SMITH, MARIANA ZYLBERKAN E PATRÍCIA CAMPOS MELLO / Folhapress