Não me apego ao poder e nunca contei quantos matei como policial, diz ex-Rota vice de Nunes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ricardo Mello Araújo (PL), 53, o candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes (MDB), não foi escolhido por Jair Bolsonaro (PL) para esse posto à toa.

É bolsonarista de carteirinha: frequenta as manifestações verde-amarelas na avenida Paulista, diz-se antissistema e afirma não confiar na vacina contra a Covid, imitando o discurso do ex-presidente.

Assim como Tarcísio de Freitas (Republicanos), atua como elo entre Nunes e o ex-presidente e, principalmente, busca estancar a adesão de bolsonaristas a Pablo Marçal (PRTB), a quem critica.

Sobre a ausência de Bolsonaro ao lado do emedebista, Mello Araújo afirma em entrevista à Folha que o ex-presidente tem como agenda maior a defesa da liberdade do país.

O candidato a vice diz ainda que Nunes carrega os valores da direita, mas ressalta que não o conhece profundamente.

Mello Araújo é coronel da reserva da Polícia Militar, cargo que o pai também alcançou. O avô era da Força Pública e lutou na Revolução de 1932. Com o filho que acaba de ingressar na Academia do Barro Branco, são quatro gerações de policiais militares.

Depois de ter chefiado a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), foi chamado por Bolsonaro para ser presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).

Possibilidade de ser eleito vice e ter que assumir a prefeitura

A gente [está] correndo atrás de voto, mas é a parte mais fácil. A parte mais difícil é o que vem depois, porque a responsabilidade é gigantesca. Tenho condições de fazer muita coisa que muita gente não fez.

Eu não me apego a cargo. Eu era presidente de uma empresa [Ceagesp], com mandato, salário alto. Renunciei porque não me sentiria bem trabalhando com alguém que já foi condenado como o atual presidente [Lula]. Eu estava em uma empresa privada, trabalhando muito bem, alto salário, e me demiti para entrar nessa. Se porventura acontecesse alguma coisa, me sentiria muito tranquilo [para assumir a prefeitura]. Eu não larguei empresa privada para ficar me desgastando para nada. Vocês vão ver uma pessoa bem atuante.

Como conheceu Bolsonaro

Eu comandava a Rota [em 2018]. Um repórter do UOL perguntou: em quem você vai votar? Eu não fujo de perguntas. “No deputado Bolsonaro”. Ele perguntou por que e ainda falou “sendo que seu chefe é o [Geraldo] Alckmin, que é candidato a presidente”. Eu respondi porque a gente precisa de pessoas honestas na política. Passados alguns dias, o deputado foi à Rota, me agradeceu. [Em 2020] ele me fez o convite para a Ceagesp. Coloquei no Google Ceagesp. Só corrupção, tráfico de droga, prostituição. Aí entendi: ele está precisando de alguém para botar ordem. Isso aí eu sou bom.

Marçal

Tem umas pessoas que estão entrando [na política] que não querem fazer o bem. Com certeza teve uma infância meio perturbada, é uma pessoa que tem um egocentrismo gigantesco.

O que eu tenho feito é mostrar a verdade. A gente tem aqui a segurança. Ele fala bonito, convence, mas quem é ele? Aos 18 anos, foi preso.

Como que a gente vai falar que ele é direita conservadora? Ele era desconhecido até agora. Quantas vezes ele foi em manifestação, foi na Paulista?

Às vezes eu posto algumas coisas, aí você é bombardeado. O pessoal do M. Você conversa dez palavras e [eles falam] “coronel, o senhor me convenceu”. Tem um público gigantesco que muda de opinião rapidamente.

Conservadorismo de Nunes

Nunes carrega valores que a direita carrega, principalmente as bandeiras de Bolsonaro. Vai falar que ele não é família? Ele carrega Deus, sempre esteve na igreja. Carrega bandeiras de família, pátria, liberdade. Vi vídeos dele sobre ideologia de gênero. Aí o outro lado põe que ele é a favor do aborto, ele é contra. Agora, eu não conheço ele profundamente, talvez muita coisa pense diferente. Acho muito bom. Onde pensar diferente, a gente vai conversar para chegar ao meio-termo. Por exemplo, ele errou no passaporte vacinal. Ele mesmo se desculpou.

Vacina contra Covid e postura de Bolsonaro

Eu tomei uma [dose da] vacina. Meus filhos não se vacinaram. Eu perdi meu tio, [com] quatro vacinas, meu pai desenvolveu uma doença grave, e o médico falou que foi por isso. O que precisa é disponibilizar a vacina. Isso foi feito. Não faltou vacina para ninguém. Agora, manter o povo informado do que está acontecendo é importante. Você mentiria para seu povo só para ganhar uma eleição?

Eu sou a favor, a vacina é importante, eu tenho todas as vacinas. Só que uma pandemia, vem uma vacina que foi feita às pressas. Você acha que ela é segura, eu não acho segura.

O mundo inteiro errou. Vamos julgar? Não. O importante é ter a consciência tranquila. Você acha que seria justo, se eu não acredito, eu vou convencer você a vacinar teu filho?

Ausência de Bolsonaro na campanha

Em São Paulo, estamos na frente. O presidente está com um problema, uma preocupação muito maior: a liberdade. Fecharam o X. Se fechar teu jornal, vocês vão começar a se movimentar. Isso pode acontecer.

Ele é o capitão do time e, se precisar, entra em campo. Você quer maior sinalização do que o vice indicado por ele? Ele deu declaração falando que é Ricardo Nunes. O que vocês querem é que ele fique aqui em São Paulo o tempo inteiro andando, e tem o Tarcísio aqui. Grande parte da imprensa fica especulando para ver se tem alguma coisinha acontecendo errado. Não tem nada. Eu falo com o [ex-]presidente com bastante frequência e as coisas estão bem.

Dois casos de homicídio nos antecedentes apresentados à Justiça Eleitoral

Esse primeiro caso foi no ABC. Uma moça foi estuprada, teve troca de tiro. O cara fugiu para dentro do esgoto, nem os cachorros quiseram entrar lá. Eu fui atrás, teve troca de tiro e o cara morreu. Abre-se inquérito, porque a lei obriga, e foi arquivado.

O outro caso você tem detalhe? São mais do que dois. Nunca fiquei contando [a quantidade de pessoas que matou]. Teve um outro na zona leste, estou lembrando. O cara matou um policial, e uma policial feminina foi baleada. Eu subi lá, no meio de sangue, policial morto no chão. Teve uma troca de tiros, e esse cara acabou morrendo.

Para quem trabalha 32 anos no serviço policial do jeito que eu trabalho, sendo linha de frente, é impossível não ter nada numa cidade [como São Paulo]. Eu tenho mais de cem elogios de salvamento. Isso é raro na polícia.

Raio-X | Ricardo Mello Araújo, 53

Nascido em São Paulo, é formado em segurança pública pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em direito pela Faculdade Integrada Guarulhos e em educação física pela Escola de Educação Física da PM. Tem pós-graduação em fisiologia do exercício pelo Instituto de Ciências Biológicas da USP e mestrado em ciências policiais e ordem pública pelo Centro de Altos Estudos da PM. Foi comandante da Rota entre 2017 e 2019, quando se aposentou da PM. Entre 2020 e 2023, foi presidente da Ceagesp.

CAROLINA LINHARES E VICTÓRIA CÓCOLO / Folhapress

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