John Woo mostra como se faz cinema de ação em remake de ‘The Killer’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – John Woo é um diretor chave para entendermos a força do cinema policial de Hong Kong nos anos 1980. Ele está de volta com “The Killer”, refilmagem internacional de seu clássico homônimo de 1989.

Zee, personagem da ótima Nathalie Emmanuel, é uma assassina de aluguel residente em Paris que, após uma missão parcialmente bem-sucedida, precisa cortar a ponta solta, ou seja, eliminar a testemunha que deixou viva na cena, e que perdeu a visão após bater a cabeça durante o tiroteio.

Essa moça, uma cantora americana chamada Jenn, interpretada por Diana Silvers, está no hospital se recuperando quando recebe a visita de Zee, disfarçada de funcionária do consulado americano.

Enquanto Zee se arrepende de ter colocado veneno no soro de Jenn e tenta desfazer o que foi feito, entra no quarto o policial Sey, vivido por Omar Sy, outro ótimo ator.

O herói encontra seu espelho pela primeira vez. Mas quem é o herói? Ou seria uma heroína? Afinal, o filme começa com Zee. Por outro lado, ela está do lado do crime enquanto seu espelho está do lado da lei.

Mas não dá para chamar Sey de herói, pois o espectador não está com ele, neste primeiro momento. Estamos no terreno de John Woo, mestre no embaralhamento dessas cartas.

Zee passa a se dividir entre sua lealdade ao chefe que a acolheu e treinou, o gangster irlandês Finn, numa boa caracterização de Sam Worthington, e a proteção à moça que ela julga inocente, apesar de alguns pecados cometidos na tentativa de alcançar o estrelato.

Está formada a rede de afeições e rivalidades com que o cineasta gosta de trabalhar, sem esquecer os elementos que tornaram seu estilo digno de ser imitado: as pombas voando, a câmera lenta, os tiroteios mirabolantes em igrejas e hospitais, o jogo de identidades em que heróis e vilões por vezes se confundem.

Esse jogo fica muito evidente, por exemplo, quando Zee está sendo interrogada por Sey e o diretor faz um movimento da câmera para confundir os reflexos de ambos, fazendo o rosto de Zee, no final do movimento, ficar dentro do de Sey, no exato momento em que ela constata que os dois são bem parecidos.

Esse é o tipo de truque de direção em que John Woo costuma ser sublime. Mestre do cinema de ação, Woo demonstrou a excelência de seu estilo em filmes como “Alvo Duplo”, de 1986, “Bala na Cabeça”, de 1990, e “Fervura Máxima”, de 1992, além, claro, do “The Killer” original.

E então foi filmar nos EUA, realizando ao menos uma obra-prima, “A Outra Face”, de 1997, e grandes filmes como “Missão: Impossível 2”, de 2000, e “Códigos de Guerra”, de 2002.

Neste novo “The Killer”, troca Hong Kong por Paris. Nathalie Emmanuel se sai muito bem na difícil tarefa de fazer o papel que no original foi do astro Chow Yun-Fat. O faz o papel anteriormente interpretado por Danny Lee. Na internacionalização do filme, o esperto John Woo escolheu o caminho da representatividade.

Há uma confusão de línguas no filme, tão grotesca que parece ser proposital. Numa hora os policiais franceses falam em francês. Em outra, conversam em inglês. Dá um curto-circuito em quem se preocupa com a verossimilhança. Mas esse diretor jamais se preocupou com isso, não o faria agora.

Convém, aliás, deixar um pouco de lado o filme de 1989, uma obra-prima do cinema de Hong Kong, para melhor se deleitar com o balé de balas, os golpes de espadas, as perseguições alucinadas e as lutas de artes marciais proporcionadas pelo diretor.

Afiado como nunca após “O Pagamento”, de 2003, John Woo realiza um filme de ação que rivaliza com a excelente série de outro John, o Wick, em que Keanu Reeves é quase imortal, desafiando a verossimilhança em um mundo que parece dominado por assassinos de aluguel.

Tem algo de “Pistol Opera”, de 2001, outro filme de assassina que é refilmagem de um anterior, com um assassino, ambos dirigidos pelo grande maneirista japonês Seijun Suzuki.

Mas é acima de tudo um filme que dialoga tanto com o cinema policial de Hong Kong dos anos 1980 quanto com o cinema influenciado por ele nas décadas seguintes. É como se o cineasta voltasse à boa forma para mostrar como se faz cinema de ação, juntando-se a Chad Stahelski, da série “John Wick”, entre as valorosas exceções do gênero.

THE KILLER

– Avaliação Muito bom

– Onde Disponível no Amazon Prime Video

– Classificação 18 anos

– Elenco Nathalie Emmanuel, Omar Sy, Sam Worthington

– Produção EUA, Canadá, Coreia do Sul, 2024

– Direção John Woo

SÉRGIO ALPENDRE / Folhapress

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