Intérprete de Libras de Boulos estreou com Tarcísio e usa estudo para traduzir de Lula a Bolsonaro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A profissão de intérprete de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), de certa forma, foi profetizada pela avó de Rafaella Sessenta. Ela dizia que a neta iria viver das mãos por elas serem grandes. Foi na igreja, aos 13, que a menina aprendeu a linguagem de sinais.

Hoje, aos 43, a baiana fez daquela experiência uma profissão e atua na campanha do candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL). A presença de profissionais como ela é obrigatória em propagandas eleitorais na televisão.

Posicionados no canto inferior direito das telas, eles são essenciais para a acessibilidade de todos os eleitores. A tradução é a maneira de pessoas surdas aptas a votar ou que tenham a audição reduzida entenderem o que é falado durante as inserções.

Neste ano, Rafaella tem como missão interpretar Boulos e seus aliados, como a vice na chapa, Marta Suplicy (PT), e o presidente Lula (PT).

Em 2022, ela estava no outro lado da disputa, quando, na campanha para o Governo de São Paulo, fez a interpretação das peças de propaganda de Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ela explica que seu trabalho é muito mais do que só ouvir as falas e traduzi-las. É preciso estudar e conhecer quem está falando, no caso, os candidatos, e reforça ser apartidária, tratando tudo como parte da profissão.

“Eu sabia exatamente como eram as falas do Tarcísio, assim como as do Boulos”, afirma à reportagem. “É necessário falar na mesma intensidade dos candidatos, parar na hora certa e fazer a ênfase na hora certa para dar sentido àquilo.”

A campanha de 2022 foi sua estreia em trabalhos na política, e ela classifica a experiência como tensa e muito corrida —durante a entrevista feita por vídeo, são muitos os momentos em que gesticula com as mãos enquanto fala.

“A disputa é muito acirrada, estressante, te envolve demais. Tarcísio, como governador, tratou de temas que não fazem muito parte do cotidiano, como agronegócio, geração de empregos, empreendedorismo”, afirma.

“Já Boulos fala sobre o SUS e assuntos do cotidiano, periferia, habitação, médicos. Para traduzir as propostas de agora, está sendo mais fácil”, completa.

A pedagoga conta que, pela demanda de trabalho que uma campanha impõe, quase não aceitou ser a intérprete do candidato do PSOL neste ano. Após dizer sim, passou a madrugada estudando o deputado federal.

“O Tarcísio ganhou muito direito de resposta. Quando isso acontecia, ele já gravava o vídeo. Corríamos contra o tempo, eu gravava de madrugada e de manhã já tinha que entregar o material pronto”, diz. E completa que recebeu do governador o apelido de “intérprete dançarina”, por causa das danças que fazia na interpretação de jingles.

Para as campanhas, Rafaella teve que estudar outros candidatos, como Marta, Lula, Pablo Marçal e o ex-presidente Bolsonaro. Estes dois últimos, define, têm expressões mais fechadas. Já Boulos e Lula são mais alegres e com mais energia.

“Essa característica [do Boulos] diferente da dos outros candidatos está sendo muito boa para mim, mais prazerosa”, diz.

Apesar de obrigatória por lei, a interpretação não está presente em todas as campanhas pelo país, segundo a advogada e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político Emma Roberta Palú Bueno. Ela diz não haver uma fiscalização ativa do Tribunal Superior Eleitoral.

Segundo ela, o que mais acontece são representações feitas por adversários quando alguma campanha não cumpre a obrigação. “Os postulantes entram com representação na Justiça Eleitoral, e quem deixou de cumprir perde tempo televisivo equivalente ao dobro do horário que descumpriu”, informa.

MARIA PAULA GIACOMELLI / Folhapress

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