Audible lança séries originais no Brasil com Cláudia Abreu em história de criança trans

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Karen, a personagem de Cláudia Abreu em “Ninguém com Esse Nome”, acreditava ter um filho, mas aos poucos essa certeza é tirada de baixo de seus pés.

A série em áudio, que integra o pacote inaugural de conteúdo brasileiro original da Audible, aborda um tema ainda delicado: crianças que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído quando nasceram. É a nova aposta de um braço da Amazon que chegou ao Brasil com estrondo, no ano passado, oferecendo um cardápio amplo e diverso de audiolivros.

Nessa nova série, Karen sabe que seu filho não é como os outros garotos. Gosta de brincar de se maquiar, se sente mais confortável na intimidade das meninas e sofre provocações dos colegas na escola.

Com o pai, interpretado por Eduardo Moscovis, a criança evita ao máximo o contato. A avó paterna, mulher evangélica que tem a voz de Solange Couto, percebe que há algo de errado com seu neto e busca na religião alguma cura para o que vê como um desvio. Na contramão está a personagem de Débora Lamm, irmã lésbica de Karen que busca mostrar caminhos para entender a criança —sua filha, na verdade.

O diretor de cinema João Jardim já tinha vontade há tempos de falar da infância de pessoas que não se identificam com o gênero designado no nascimento —ele prefere falar assim, desviando do termo transgênero. Segundo ele, essa palavra surge depois. No começo, há para a criança a certeza de que algo está desalinhado.

Com a ideia em mente e a parceria com a Audible já estabelecida, ele convidou para escrever o roteiro Manuela Cantuária, colunista da Folha, e Galba Gogóia, atriz, diretora e roteirista que esteve há pouco tempo na novela “Renascer”, da TV Globo.

“Eu estou acostumada a ser a ‘roteirista trans’”, afirma Gogóia. Não é a primeira vez que ela é convidada para projetos que falam sobre a letra T do alfabeto LGBTQIA+. Longe de ver isso como algo negativo, ela enxergou na série em áudio uma chance de fugir do óbvio e trazer complexidade para a pauta.

“Isso reflete muito no que as pessoas vão ouvir, porque essas personagens [da série] são todas complexas —todo mundo acerta, todo mundo erra, todo mundo às vezes quer desistir”, ela diz. “Isso é um grande diferencial deste projeto. A gente não queria que fosse mais um negócio para convertidos.”

“É muito sedutor surfar no assunto controverso que é a criança trans, mas a gente se preocupou muito em não ser uma série só sobre isso, em serem pessoas de carne e osso”, complementa Cantuária.

Para Jardim, a série é acima de tudo sobre maternidade. “O que a Karen vive, muitas mães vivem de outras formas. É descobrir o filho que elas têm. A história é da mãe, não da criança. O Gabriel, que depois vira Lis, só começa a falar no episódio seis.”

A estreia dos originais acontece no mês em que a plataforma completa um ano no Brasil, período em que disponibilizou mais de 6.000 audiolivros. Além de “Ninguém com Esse Nome”, mais oito produções originais vão ser lançadas agora em outubro.

Entre elas, estão programas com Lázaro Ramos, Rafa Brites e Paola Carosella, uma série de jornalismo investigativo sobre a perseguição aos povos originários, com Alice Braga e Daiara Tukano, e outra sobre a história do racismo e da resistência negra com Thiago André, conhecido pelo podcast História Preta.

Segundo Adriana Alcântara, diretora geral da Audible no país, a ideia é manter depois uma média de um lançamento por mês. Ela diz que os novos conteúdos são feitos por criadores brasileiros e para públicos brasileiros, mas contam com a expertise de uma empresa que trabalha há 25 anos com áudio em diferentes mercados ao redor do mundo.

“A Audible não tem um posicionamento específico”, diz. “A gente quer ser relevante em todos os gêneros, com a qualidade que é a nossa marca em todos os lugares que operamos.”

Outra novidade será o Pitching Project, em que profissionais poderão sugerir projetos que possam se tornar novos conteúdos originais. A empresa ainda não conta quando as inscrições serão abertas, mas já disponibilizou os primeiros episódios da oficina “Criando um Audible Original”, podcast que fala sobre a produção de narrativas em áudio.

NINGUÉM COM ESSE NOME

– Elenco Cláudia Abreu, Eduardo Moscovis e Débora Lamm

– Gravadora Audible Original

– Criação Manuela Cantuária, João Jardim e Galba Gogóia

DIOGO BACHEGA / Folhapress

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