RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Mais de um ano após o “Lula day” promovido pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) aposta numa espécie de “Bolsonaro week” nesta reta final de campanha, com sucessivas agendas ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para tentar levar a disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro ao segundo turno.
A chegada de Bolsonaro também concretiza a ameaça feita pelo ex-presidente a Paes no último dia de campanha em 2022, quando prometeu “dar o troco” pelo apoio do prefeito ao presidente Lula naquela disputa.
Bolsonaro chegará ao Rio de Janeiro nesta quarta-feira (2) e tem agendas previstas ao lado de Ramagem a partir de quinta (3) até sábado (5), véspera da eleição. Antes, ele irá a Paraty e Angra dos Reis, no litoral sul do estado
Além da capital, a única cidade da região metropolitana na agenda do ex-presidente é Duque de Caxias, reduto do ex-deputado federal Washington Reis (MDB), cuja família está no centro da investigação sobre a suposta fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro. Ele terá uma agenda ao lado de Netinho Reis (MDB), sobrinho do aliado, que disputa a prefeitura local.
O foco da agenda do ex-presidente é tentar levar a disputa da capital fluminense para o segundo turno. A estratégia da coordenação política de Ramagem foi concentrar a presença de Bolsonaro na reta final, a fim de criar uma onda de adesão à candidatura do deputado federal.
Havia a expectativa de que Bolsonaro destinasse a semana final inteira a Ramagem. O candidato chegou a mencionar essa possibilidade ao ser questionado sobre a demora de uma agenda pública com o ex-presidente a última ocorreu em julho, na pré-campanha.
“Demora nenhuma. Ele separou a última semana [para o Rio de Janeiro]. Nós temos 5.500 municípios. A última semana do primeiro turno ele dedicou ao Rio de Janeiro”, disse ele, há duas semanas.
Ramagem iniciou a campanha com uma alta taxa de desconhecimento, inclusive entre bolsonaristas. Com o início da propaganda de TV, o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) conseguiu ampliar as intenções de voto entre os apoiadores do ex-presidente.
O deputado teve agendas pontuais ao lado do vereador Carlos Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, e do senador Flávio Bolsonaro (PL). A primeira-dama Michelle Bolsonaro participou de ato com o candidato há duas semanas. Contudo, as agendas não foram suficientes para atrair a maior parte dos eleitores do ex-presidente, de acordo com as pesquisas.
O objetivo desta reta final é justamente ampliar a atração de apoiadores do ex-presidente à candidatura de Ramagem. Um dos principais focos será o voto evangélico. As pesquisas de intenção de voto mostram que o prefeito Eduardo Paes (PSD), que tenta a reeleição, mantém a dianteira nesta fatia do eleitorado, geralmente associada ao bolsonarismo.
O desembarque de Bolsonaro demonstra o empenho pessoal do ex-presidente em ampliar a força política no Rio de Janeiro, sua base eleitoral na qual venceu em 2022. Também dá corpo ao recado dado a Paes no último palanque da campanha presidencial, há dois anos.
“Ele recebeu dinheiro do governo federal, encheu os cofres da prefeitura com dinheiro nosso. Esse vagabundo mal-agradecido que fica mentindo por aí, dizendo que eu vou maltratar o trabalhador e o aposentado. Vagabundo e mentiroso. Vai ter o troco em 2024”, disse ele em sua última agenda de campanha há dois anos, em Campo Grande (zona oeste).
Logo após o ato, Paes se manifestou nas redes sociais. Chamou o presidente de “desqualificado e incompetente”, “rei da ‘rachadinha'”, o criticou pelo apoio ao ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) na eleição de 2020 e o provocou sobre o pleito municipal, que agora se avizinha.
“Eu já te derrotei em 2020 e pode vir em 2024 que te derroto de novo. Se for você mesmo o candidato, depois de ter perdido a eleição, vai ser melhor ainda”, disse ele.
Dois anos depois, o prefeito prefere esvaziar a nacionalização da disputa com Bolsonaro. Ele diz que não se trata de um conflito direto com o ex-presidente e chega a questionar o empenho dele para apoiar Ramagem.
“Acho que não [é um confronto direto com Bolsonaro]. Senão a gente já teria muito mais presença dele aqui. Eu vou dar um palpite: sinceramente, eu acho que ele… O sujeito não gravou ele, né? Então, não sei nem qual é essa relação. O cara gravou sem ele saber”, disse ele, em referência à reunião gravada por Ramagem do presidente com advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL) para tratar das investigações sobre o caso da “rachadinha”.
A sequência de agendas marcadas de Bolsonaro ao lado de Ramagem se contrapõe ao distanciamento mantido por Paes do presidente Lula, que o apoia. O petista não teve nenhuma agenda de campanha com o prefeito.
O empenho de Paes ao lado do presidente se deu principalmente durante os meses anteriores à eleição, quando o prefeito buscava garantir o apoio do PT sem que lhe fosse exigido ceder a vice. Em agosto do ano passado, ele chegou a chamar de “Lula day” um dia de agendas institucionais ao lado do aliado.
Após garantir a chapa “puro-sangue” ao lado de Eduardo Cavaliere (PSD) com apoio do PT, Paes passou a destacar diferença com o presidente e seu partido. Durante a campanha, tem dito que mantém parcerias com o governo federal, mas destacado ser de outra sigla e ter divergências pontuais com o aliado.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress