JERUSALÉM, ISRAEL (FOLHAPRESS) – Enquanto a atenção da comunidade internacional está voltada para o grave conflito no Oriente Médio, as forças de Vladimir Putin tiveram uma de suas mais expressivas vitórias na sua renovada campanha contra o leste da Ucrânia.
Soldados russos tomaram nesta quarta-feira (2) o bastião de Vuhledar, uma estratégica cidade na região de Donetsk que havia resistido a todas as tentativas de Moscou de conquistá-la desde o começo da guerra, em fevereiro de 2022.
Seu valor está na posição, um ponto intermediário entre as forças defensivas de Kiev no leste e no sul do país, expondo a fatia da região de Donetsk que os russos não tomaram a mais assaltos. Cerca de 60 km ao norte está Pokrovsk, outro bastião que está sendo assediado pelos russos há dois meses.
A queda de Vuhledar foi confirmada pelo comando militar ucraniano, que disse ser necessário reagrupar forças mais a oeste para “preservar pessoal e equipamento”, segundo a mídia local. O Ministério da Defesa russo não citou a vitória em seu comunicado diário, mas ela foi reafirmada por blogueiros militares e por um analista consultado pela reportagem.
A pequena cidade vivia da exploração de uma mina de carvão e tinha cerca de 14 mil habitantes antes da guerra. Agora, está reduzida a escombros devido ao emprego intensivo de bombas planadoras. Ganhou o apelido de “fortaleza do leste” dada sua longa resistência a assaltos russos.
Em janeiro do no passado, ela foi palco da maior batalha de blindados do conflito até aqui, quando a Rússia perdeu cerca de 130 tanques e outros veículos ao ser barrada em seu avanço.
É o segundo maior trunfo de Putin no leste da Ucrânia neste ano, após a conquista de Avdiivka, cidadezinha próxima da capital regional homônima de Donetsk. Aquela cidadezinha resistia a separatistas russos desde o início da guerra civil que antecedeu o grande conflito atual, em 2014.
A partir dali, já consolidado o fracasso da contraofensiva ucraniana de 2023, Moscou avançou lentamente, mas de forma constante. Donetsk é a região que Putin anexou ilegalmente sobre a qual ele tem menos controle, talvez 60% ou 70% hoje, segundos sites de monitoramento do campo de batalha.
O presidente colocou a conquista de Donetsk como sua primeira prioridade e cita o controle das quatro regiões mais a neutralidade ucraniana como condição para parar a guerra. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, rejeita tudo isso e tem pedido ajuda ao Ocidente.
Para tanto, apresentou na semana passada nos EUA seu “plano da vitória”, que publicamente consiste em receber mais armas e ter o direito de usá-las dentro do território russo, não só nas fronteiras.
Recebeu promessa de mais equipamento, mas as ameaças nucleares de Putin em caso de um míssil ocidental cair em Moscou, por exemplo, tem dissuadido EUA e aliados por ora de dar a autorização.
Sua incursão em Kursk, sul da Rússia, drenou energias importantes de suas forças e, até aqui, provou-se apenas uma vitória psicológica pontual, sem impacto estratégico.
O agravamento da situação no leste, que Zelenski já disse ser muito difícil, antecede a chegada do inverno na região. A Rússia degradou severamente o sistema energético ucraniano, e há cidades que passam 16 horas por dia em blecaute, o que será um problema adicional quando afetar o aquecimento nas baixas temperaturas.
IGOR GIELOW / Folhapress