SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Partidos de direita têm mais que o dobro de candidatos com nomes de urna ligados à pauta animal do que os de esquerda nas eleições municipais de 2024.
Levantamento com base em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) filtrou a nomenclatura dos candidatos por meio de palavras-chave como “protetor”, “pet”, “animais” e “defensor”, entre outras.
Com base nesse critério, foram encontrados 494 postulantes aos cargos de vereador e vice-prefeito 0,1% do total de 463 mil. Desses, 204 são de partidos de centro, como MDB, Mobiliza e Avante, e 198, de direita, como PL, PRTB, União Brasil, Republicanos e Novo.
Já a esquerda tem 92 dos candidatos desse grupo, em legendas como PT, PSOL, PDT, PV e Rede. A classificação ideológica foi feita de acordo com o GPS partidário da Folha de S.Paulo
Olhando-se os cargos em disputa, 491 do grupo de candidatos da pauta animal concorrem a vereador, e três, a vice-prefeito.
A defesa dessa pauta é um recorte da proteção do meio ambiente e pauta historicamente ligada à esquerda. No entanto, o tema vem sendo absorvido também por políticos de centro e de direita.
Deivid Wisley (Republicanos), vereador de Londrina (PR) e candidato à reeleição, tem 447 mil seguidores nas redes e é autor de uma lei municipal que proíbe prender animais a correntes.
“Decidi sair candidato em 2020 com uma campanha minúscula. Fui o segundo mais votado por ter um trabalho consolidado. Obviamente, temos vários projetos fora da causa, mas 90% do foco do meu mandato é voltado à pauta animal”, afirma. “Se tiver que ir até Brasília dialogar com o Lula, ou se tiver que dialogar com o [Jair] Bolsonaro, vou dialogar, porque os animais não têm lado.”
Do outro lado do espectro político, o Mandato Animal tenta emplacar candidatos de partidos progressistas ligados à causa. Em 2022, Mônica Buava concorreu ao cargo de deputada federal pelo PV. Conseguiu 22 mil votos, mas não se elegeu. Para este ano, o grupo aposta em Rodrigo Dorado, do PDT, que disputa uma das 55 vagas na Câmara dos Vereadores de São Paulo.
“A premissa do mandato animal”, diz Dorado, “é incluir todos os animais nos direitos necessários. Hoje em dia, quando a gente fala em animais na cidade, as pessoas pensam muito na causa pet. Mas a nossa ideia é incluir todos eles, sem especismo.”
Questionado sobre o menor número de candidatos com nome da pauta animal na esquerda, o pedetista afirma que a direita tem uma tendência a se concentrar na causa pet e não defender todos os animais.
“Muitos desses [políticos] de direita ou de extrema-direita que se julgam defensores da causa animal são a favor da caça ou negacionistas da crise climática”, diz. “Atribuo isso a um domínio que eles têm da narrativa nas redes sociais e na internet.”
Em Sorocaba, cidade do interior paulista que rendeu 61% dos seus votos para Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno em 2022, a candidata a vereadora Jussara Fernandes adaptou sua estratégia ao contexto local e mudou de partido.
Em 2020, concorreu a vereadora pelo PDT. Neste ano, optou pelo Republicanos. “Realmente, [a mudança] foi para um partido onde eu tenho mais chance de entrar [na Câmara]. Os animais precisam ter um representante em Sorocaba. As minhas pautas são as mesmas, e só fiz essa mudança porque eu entendo que os animais não têm partido”, afirma.
A reportagem questionou o PV e a Rede, legendas que têm o meio ambiente como principal bandeira, acerca do tema. Ambos os partidos não se manifestaram.
Alguns protetores de animais se utilizam de métodos violentos ao abordarem pessoas acusadas de maus-tratos. Indagados se vale todo tipo de método ao defender a causa, os três candidatos divergiram.
“Pode valer tudo”, diz Wisley, de Londrina. “Acho que vale tudo para salvar a vida. Os animais também têm vidas e sofrem em silêncio.” No entanto, ele ressalta que têm atuado de forma a conscientizar o público sobre os direitos dos animais.
“Acho que é válido”, afirma Fernandes, de Sorocaba, sobre o suposto “vale-tudo” nas abordagens. “A legislação é fraca, e as polícias não são preparadas para essas ações. A polícia precisa entender que o crime contra animais é tão grave quanto o crime contra uma pessoa, e investigar como puder.”
Já Dorado, candidato em São Paulo, diz ser contra atuar de maneira truculenta.
“Chama a atenção, de repente consegue votos, provavelmente consegue fama. A gente vê pelas redes e pelos números. Mas eu não acho que vale tudo pelos animais”, declara.
LUCAS MONTEIRO E VINÍCIUS BARBOZA / Folhapress