SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A S&P Global não vê fundamentos neste momento para uma nova melhora na nota de crédito soberano do Brasil, diz Manuel Orozco, principal analista do país na agência de classificação de risco.
Segundo ele, uma mudança da nota vai depender da capacidade do governo de estabilizar a dívida pública e manter um crescimento econômico consistente nos próximos anos, algo que a agência não enxerga acontecendo agora.
“Isso é possível, mas depende de fatores que na nossa opinião ainda não estão aí”, disse em entrevista à reportagem. “A gente tem uma perspectiva estável para o Brasil, que mostra que a probabilidade de o rating [classificação] se manter no nível atual é maior do que de o rating mudar para cima ou para baixo”, argumentou.
Orozco afirma que o crescimento econômico do Brasil mais forte e consistente colaborou para uma melhora na nota do país, mas diz que a S&P não enxerga uma sustentabilidade desse fator no futuro.
Ele argumenta que boa parte da alta do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano é sustentada pelo consumo interno e que o ambiente de alta dos juros coloca um limite nesse crescimento econômico.
“Mesmo com um crescimento mais alto na comparação com a média dos últimos anos, de quase 3%, isso não tem sido suficiente para estabilizar a dívida para 2024 em diante”, afirma.
As falas acontecem dois dias depois de a Moody’s elevar a nota do Brasil de “Ba2” para “Ba1”, e manter a perspectiva em “positiva”, o que colocou o país a um passo do chamado grau de investimento, patamar em que este se torna seguro -ou seja, com baixos riscos de calote para quem investe em seus títulos de dívida. A agência não mudava a classificação do país desde 2016.
A Moody’s já tinha no passado uma nota melhor para o país em relação às outras duas principais agências globais de risco. No ano passado, a S&P e a Fitch elevaram a classificação do Brasil, igualando a nota da Moody’s. Agora esta última se descolou novamente.
Sem comentar a decisão da Moody’s, Orozco disse que a S&P está acompanhando de perto a trajetória da dívida pública brasileira, e enxerga um crescimento acelerado até 2027. O analista chamou atenção para o fato de a dívida líquida ter saltado de 57% do PIB em 2023 para 62% em agosto deste ano.
Segundo Orozco, houve uma deterioração importante nas contas públicas em 2023, com mudanças que reincorporaram pressões para as despesas. Ele citou como exemplo as vinculações de pisos constitucionais dos gastos com saúde e educação, que voltaram após o fim do teto de gastos.
Além do aumento das despesas públicas do governo, o analista citou como pressão sobre a dívida pública a alta dos juros no país. No mês passado, o Banco Central retomou um ciclo de elevação da taxa básica em meio a expectativas desancoradas -cada vez mais distantes da meta- para a inflação.
Orozco se mostrou descrente com a capacidade do governo de cumprir com sua meta de zerar o déficit fiscal no próximo ano. Ele lembra que o Brasil já possui uma carga tributária elevada, o que satura a possibilidade de aumento de arrecadação em algum momento.
“Temos a posição de que o espaço é relativamente limitado para continuar crescendo as receitas”, afirma.
O analista diz que o mais importante agora é que o governo concentre esforços no corte de gastos, especificamente por meio de desvinculações constitucionais de despesas.
Afirmou, ainda, que está muito interessado em acompanhar se o governo vai permitir que os mecanismos do arcabouço fiscal para conter o crescimento de gastos em caso de não atingimento da meta fiscal irão funcionar em 2026.
“É o que manda a regra, basicamente. Mesmo se for um pouquinho mais devagar, a gente está muito interessado em ver se o limite do crescimento da despesa diminui de acordo com o que está estabelecido”, diz.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress