Rio Negro atinge menor nível em 122 anos em meio a seca na amazônia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O rio Negro atingiu nesta quinta-feira (3) 12,68 m de profundidade, seu nível mais baixo em 122 anos de medição em Manaus. A marca quebra o recorde negativo de 12,70 m registrado em 26 de outubro do ano passado, piorando a situação de seca da amazônia, que teve em 2023 a mais severa dos últimos tempos.

Os dados são do Sistema Hidro do SGB (Serviço Geológico do Brasil), que registrou o recorde negativo às 17h30 desta quinta.

Segundo o Greenpeace Brasil, desde 1º de outubro, o rio tem secado 14 cm por dia, mas chegou a secar mais de 25 cm por dia na primeira semana de setembro. As projeções indicam que nos próximos dias o nível pode descer ainda mais e registrar uma nova mínima.

“As descidas em Manaus têm sido menores, no momento, de 17 cm em média por dia. Mas a região a montante, que contribui para essa parte da bacia, ainda apresenta descidas de 10 cm e as estimativas de chuva para a região são pequenas. Neste sentido, há uma tendência de continuar o processo de recessão nesta parte da bacia nas próximas semanas”, explica a pesquisadora em geociências do SGB Jussara Cury.

Para se ter uma noção da severidade da atual seca no rio Negro na região de Manaus, o maior nível que o rio já alcançou naquele local foi de 30 m, em junho de 2021.

O rio Negro percorre mais de 1.300 km do território brasileiro e é o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas, o maior rio em vazão do mundo.

“A seca chegou mais cedo em várias regiões da amazônia em 2024. Ela também está mais severa e mais extensa este ano. Importantes rios da região sequer tinham se recuperado da seca histórica do ano passado, quando foram atingidos pela atual estiagem. De maneira geral, quase todas as bacias da Amazônia enfrentam recorde de estiagem em algum trecho”, diz o porta-voz do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista.

A organização ambiental informa que a seca histórica que atinge o Amazonas já impacta a vida de 747.642 pessoas em todo o estado, segundo o boletim sobre a estiagem divulgado pela Defesa Civil na segunda-feira (30). Todos os municípios do estado estão em situação de emergência.

“Depois de sofrer com queimadas e muita fumaça, agora Manaus passa pela maior seca da sua história, com o menor nível já registrado no rio Negro. Todos sofrem com este cenário de evento climático extremo, mas principalmente as populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas e periurbanas de Manaus. É urgente garantir o acesso dessa população à água, alimentação, saúde, transporte, educação e acesso às zonas eleitorais no próximo final de semana, quando ocorrem as eleições municipais”, diz Batista.

Devido às chuvas abaixo da média, a região amazônica enfrenta uma das secas mais graves da história, com registros de mínimas recordes em várias estações monitoradas pelo SGB. Na terça-feira (1º), o rio Solimões chegou pela primeira vez a cota negativa em Itapéua (AM), registrando 4 cm abaixo do nível.

O Solimões também registrou as mínimas em Manacapuru (AM), com cota de 2,82 m; e em Fonte Boa (AM), com 7,32 m. Na estação de Tabatinga (AM), houve uma correção na régua linimétrica e foi registrada a mínima histórica de -2,54 m em 26 de setembro.

O rio Madeira também registrou, na terça-feira, a cota mais baixa de sua história na estação de Humaitá (AM): 8 m. Em Beruri (AM), o rio Purus chegou à mínima de 3,54 m na segunda-feira (30) e estabilizou. O rio Amazonas em Itacoatiara (AM) chegou à segunda menor cota da história: 61 cm, atrás da marca de 36 cm observada em 2023. Em Óbidos (PA), o Amazonas registra -61 cm, também a segunda menor cota, atrás do recorde de -93 cm em 2023.

A Folha de S.Paulo mostrou numa série de reportagens as consequências da seca para comunidades ribeirinhas, territórios indígenas e cidades nos rios Solimões e Negro.

Igarapés desapareceram na região de Tefé, o que obriga famílias a buscarem água potável nas torneiras da cidade.

O rio Solimões virou deserto, com enormes bancos de areia, nas imediações das Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho, também em Tefé. Indígenas ficaram isolados, e há comunidades com aumento expressivo de casos de diarreia, vômito, dor de estômago e febre em razão do consumo de água imprópria.

Botos vermelhos e tucuxis precisaram ser removidos de uma enseada que passou por um processo de superaquecimento, perto do porto de Tefé. Mais de 140 animais morreram em setembro.

Uma família de indígenas ticunas perdeu a casa após desmoronamento de um barranco na beira do Solimões, fenômeno conhecido como terra caída, que já arrastou vila, escola e porto durante esse período de seca extrema.

No arquipélago de Anavilhanas, no rio Negro, famílias inteiras precisaram se mudar para canoas, de forma a ficarem mais próximas de água. A comunidade de onde são está isolada, em razão da expansão de bancos de areia na região.

Redação / Folhapress

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