SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu próximo da estabilidade nesta sexta-feira (4), com investidores à espera dos dados de emprego dos Estados Unidos medidos pelo “payroll” (folha de pagamento, em inglês).
Às 9h04, a moeda estava cotada a R$ 5,4752, uma variação para cima de 0,03% em relação ao dia anterior. Na quinta-feira, fechou em alta de 0,53%, a R$ 5,474, e a Bolsa teve forte queda de 1,38%, a 131.671 pontos.
A sexta-feira coroa uma semana de divulgações sobre o estado do mercado de trabalho americano e guarda o relatório mais importante para os investidores.
O “payroll” reúne dados sobre a taxa de desemprego, a força de trabalho e os setores que mais abriram ou fecharam vagas no mês. Dentro do contexto atual, ele também serve como termômetro da economia americana e ajuda a balizar as expectativas dos investidores em relação à política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
A autoridade monetária trabalha com um mandato duplo, isto é, olha de perto os números de inflação e emprego para decidir sobre a taxa de juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”: quando a inflação volta à meta de 2% sem maiores danos à empregabilidade do país.
Nos últimos meses, os índices inflacionários têm mostrado convergência à meta, ao passo que os de emprego têm desacelerado a cada nova leitura. À luz desse movimento, o Fed fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos no dia 18 de setembro. A taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual e agora está na faixa de 4,75% e 5%.
A dúvida do mercado é sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso na segunda-feira, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever mais duas reduções na taxa de juros, de 0,25 ponto cada, “se a economia tiver o desempenho esperado”.
Ele afirmou ainda que as recentes revisões dos dados sobre crescimento econômico, taxas de poupança e renda pessoal eliminaram alguns “riscos negativos” nos quais o Fed vinha se concentrando. “Isso ajuda na margem, mas não vai nos impedir de analisar o mercado de trabalho.”
A expectativa por reduções menores foi consolidada ao longo da semana, com a divulgação de outros relatórios de emprego. Agora, um corte de 0,25 ponto na próxima reunião do Fed tem 67,4% de probabilidade, sendo que, até semana passada, o de 0,50 ponto reunia a maior parte dos operadores.
Quanto menores os juros nos EUA, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem. Com a perspectiva de cortes mais graduais, a moeda ganhou força na quinta-feira, também amparada pela aversão a risco global por causa da escalada dos conflitos no Oriente Médio.
Desde terça-feira, o mundo e o mercado financeiro está em alerta para uma possível guerra generalizada na região. O Irã, em retaliação às ofensivas de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano, disparou cerca de 200 mísseis contra Israel, em sinal de escalada do conflito.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que ação é “apenas parte da capacidade” do país, instando Israel a “não entrar em confronto com o Irã”. Mas a administração de Benjamin Netanyahu já prometeu uma resposta.
Nas finanças globais, episódios bélicos instam investidores a “buscar por ativos mais protegidos, mais seguros”, afirma Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. Isso costuma se traduzir em procura pelo mercado americano, em especial pelo dólar.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda afirmou que está em discussões com Israel sobre possíveis ataques contra instalações petrolíferas iranianas. As cotações do petróleo Brent, referência do mercado externo, dispararam em sequência, com alta de mais de 5% na Bolsa de Londres.
Agravantes domésticos pioraram a performance do real na quinta. O otimismo com a decisão da Moody’s de elevar a nota de crédito do Brasil, de Ba2 para Ba1, se dissipou, e temores com as contas públicas voltaram ao foco dos investidores.
Na terça-feira, a agência de classificação de risco que avalia a capacidade de pagamento de dívidas a partir de uma nota de crédito (ou “rating”) deixou o Brasil a um passo do chamado grau de investimento. O patamar significa que um país é considerado seguro, ou seja, com baixos riscos de calote para quem investe em seus títulos de dívida.
Segundo analistas, no entanto, a mudança anunciada pela Moody’s não reverteu preocupações dos agentes financeiros locais com o equilíbrio das contas públicas.
“O mercado digeriu bem a questão da Moody’s, mas não comprou que melhorou a perspectiva fiscal com esse ‘upgrade’. Pelo contrário, ainda muito precisa ser feito na contenção de gastos”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O desconforto do mercado é com a criação de despesas permanentes, pagas com receitas temporárias.
Para estrategistas do BTG Pactual, o cenário externo é positivo para o Brasil, com queda de juros nos Estados Unidos e um grande pacote de estímulos anunciado pela China na semana passada. Os contínuos desafios fiscais, no entanto, podem impedir o país de “capturar o momento favorável”.
Redação / Folhapress